sábado, 28 de janeiro de 2012

reflexões sobre a misericórdia divina



Adilson Marques - asamar_sc@hotmail.com

Recentemente, uma amiga, terapeuta ocupacional e funcionaria de um hospital em uma cidade do interior paulista, mas também médium vidente, viveu uma experiência singular.
Ela estava no hospital quando chegou uma criança de 3 anos de idade com queimadura por todo o corpo, causada pela imprudência de outra criança que brincava com uma garrada de álcool perto de uma fogueira.
Na hora que ela viu a criança, ficou indignada e pensou: "como é que Deus permite que aconteça uma coisa dessas com uma criança!"
E, ao mesmo tempo, sua videncia se abriu e ela começou a ver um navio negreiro vindo para o Brasil e um homem autoritário e cruel batendo nos negros que vinham para cá como escravos e jogando ao mar os doentes, sem dó ou piedade.
Ela percebeu que o mesmo espírito que estava na sua frente na forma de uma criança era o mesmo que animava as ações daquele homem, no navio negreiro. Naquele instante, parou de julgar Deus e passou a atender a criança da melhor forma possível, sem questionar mais nada. Ela percebeu como age a misericórdia divina, permitindo aos espíritos aprender com as experiências, e mesmo quando elas são dolorosas, ele coloca ao lado alguém para limpar nossas feridas. Assim, na forma de uma criança inocente, aquele espírito recebeu conforto e ajuda para alivar as dores no corpo, enquanto expiava seus "débitos". Mas será que se estivesse ainda na forma de um homem autoritário, tratando com crueldade outras pessoas, alguém teria coragem de lhe estender as mãos?

leia a apresentação do livro As psicosofias de Lao-Tsé, krishna e Buda segundo a espiritologia

No dia 17 de março, o projeto Homospiritualis lançará o último livro da coleção "cultura de paz e mediunidade", encerrando um árduo, mas prazeroso trabalho iniciado em 2003, quando idealizamos o uso da História Oral, uma das mais instigantes ferramentas para pesquisa qualitativa nas ciências humanas para entrevistar prováveis espíritos que se manifestam em reuniões mediunicas. De 2003 a 2008, foram realizadas várias reuniões e, a partir de 2010, as informações coletadas começaram a ser organizadas e publicadas, em 2011, nesta coleção de livro. O último abordará a opinião destes seres sobre os ensinamentos de Lao-Tsé, Krishna e Buda.
Sem falsa modéstia, trata-se de um trabalho original, tanto para o meio acadêmico, não acostumado com a idéia de se abrir para o estudo dos "espíritos", como para o meio espiritista, acostumado com romances e normalmente avesso aos ensinamentos orientalistas e não-cristãos.
O livro será lançado em 2012, ano em que Adilson marques, organizador do livro completa 20 anos de experiência com a História Oral, iniciada na Abaçaí Cultura e Arte, em 1992.

Segue a apresentação do livro

Apresentação

O livro “Evangelho segundo o espiritismo” é considerado um livro religioso pelos adeptos da Doutrina Espírita. Muitos chegam a afirmar que ele é a “bíblia do espiritismo”. Particularmente, não concordo com essa idéia. Em minha opinião, o livro é uma espécie de tratado de “ciências das religiões”, escrito através do método criado por Kardec, no século XIX: a coleta de dados através de entrevistas com prováveis espíritos, realizadas em reuniões mediúnicas organizadas com a finalidade de estudar um tema de interesse da humanidade através do diálogo com estes “seres incorpóreos”.
Por alguma razão, o método proposto por Kardec deixou de ser utilizado em grande parte do movimento espiritista. Hoje predomina o que alguns chamam de “espiritismo sem espíritos”. Pai Joaquim de Aruanda, um preto-velho que se manifesta através do médium Firmino José Leite, chega a dizer que os "espíritos foram expulsos dos centros espíritas".
Porém, o livro acima se tornou, realmente, uma espécie de “Bíblia” para alguns setores do movimento espiritista brasileiro, sobretudo aqueles mais religiosos e que tendem a se fechar para o estudo de outros ensinamentos espiritualistas, com medo de manchar a chamada “pureza doutrinária”. Mas o "Evangelho segundo o espiritismo" nada mais é do que a opinião de alguns espíritos entrevistados por Kardec sobre os evangelhos canônicos. E, além de não termos provas de que foram espíritos que responderam, em nenhum momento, eles afirmam que não podem opinar sobre os evangelhos apócrifos ou, inclusive, sobre os livros sagrados de outras religiões, inclusive, as não-cristãs.
E isso se tornou evidente, para mim, em 2001, quando descobri a comunicação mediúnica. Até aquele momento, não manifestava nenhum interesse pelo estudo do espiritismo. Minha paixão, desde a adolescência, sempre foi os ensinamentos místicos do Oriente e, por isso mesmo, a primeira coisa que fiz quando descobri a possibilidade de conversar com os “mortos” foi dialogar com eles sobre os ensinamentos de Lao-Tsé, Buda, Krishna e outros.
A grande surpresa, nesse processo, foi descobrir que estes prováveis seres incorpóreos admiram e respeitam tais ensinamentos, não os interpretando como “errados”, “mistificações” ou incompatíveis com os ensinamentos cristãos presentes no “Evangelho segundo o espiritismo”. Dentro de uma visão realmente laica, ou seja, de respeito por todas as manifestações religiosas, foi possível constatar que os espíritos são transreligiosos, respeitando todos os movimentos sagrados que ajudam na libertação espiritual do ser humano.
E neste livro, que encerra a coleção Cultura de Paz e Mediunidade, vamos apresentar a opinião dos espíritos que entrevistamos sobre os ensinamentos de Lao-Tsé, Krishna e Buda, reunidos, respectivamente, em livros como Tao Te Ching, Bhagavad Gita e Dharmapada. Futuramente, em outra coleção, pretendemos apresentar a opinião deles sobre os ensinamentos presentes em alguns evangelhos apócrifos, como é o de Tomé e o de Madalena e também sobre o Eclesiastes, um dos mais interessantes livros do Antigo Testamento, e também sobre o Sermão da Montanha, provavelmente, a essência de todo o ensinamento cristão.
Mas é importante ressaltar também o motivo de chamarmos os ensinamentos de todos estes mestres de Psicosofia (expressão que estamos usando desde 2003 para representar uma sabedoria espiritual) e não, como normalmente acontece, de Psicologia ou de Filosofia. Com a expressão Psicosofia queremos realçar a dimensão universal e atemporal destes ensinamentos, ao contrário do que ocorre com as disciplinas acadêmicas acima. Nesse sentido, ao utilizarmos a expressão Psicosofia também enfatizamos o caráter místico (lembrando que misticismo não é superstição) que possuem, e sempre voltado para a “libertação espiritual” do ser humanizado, ou seja, do Espírito preso ao ego.
 Além disso, a expressão Psicosofia serve também para distinguir os ensinamentos destes mestres das religiões criadas por seus discípulos ao longo da história da humanidade. Nenhum deles criou religião, no sentido tradicional deste termo, ou seja, pressupondo a existência de uma doutrina e de um ritual. Os ensinamentos que transmitiram transcendem essa dimensão limitadora das religiões e nos faz lembrar que, frequentemente, a espiritualidade não caminha de mãos dadas com as religiões, apesar delas merecerem todo o nosso respeito, pois são instrumentos ainda necessários nos chamados “mundos de provas e expiações”.
A Psicosofia, portanto, é empírica, construída a partir de experiências místicas e transcendentais, como a meditação e outras práticas espiritualistas, como a mediunidade. Muitas vezes, a Psicosofia destes mestres se mistura, nas religiões criadas por seus discípulos, com superstições e dogmatismos que vão caducando com o tempo, pois são construções sócio-culturais que sofrem a ação de Cronos, distanciando-se da força arquetípica e agregadora presente no ensinamento original.
Assim, a relação entre a Psicosofia e as religiões que se fundamentam nela pode ser compreendida na paradoxal frase de Lao-Tsé: “quando todo o mundo reconhece o bem, enquanto bem, ele se torna o mal”. A religião transforma o ensinamento espiritual, que é para ser vivenciado cotidianamente, em algo a ser atingido, mediatizado por ela através da doutrina e do rito. Contraditoriamente, a virtude valorizada no ensinamento original se torna inacessível, se perdendo no meio das abstrações e opiniões divergentes. A felicidade, o amor, a fé, a paz interior etc. se tornam menos reais na medida em que são tantos os meios criados (doutrinas e rituais) para atingi-los, e cada vez mais rebuscados e complexos, que nos tornamos “alienados”, ou seja, esquecemos que as virtudes já estão dentro de nós, só precisando ser despertadas.
Quando passamos a buscá-las fora de nós, nas doutrinas e nos ritos religiosos, nossos esforços se concentram nos meios e, como afirmou Lao-Tsé, este caminho não conduz a nada. Ou melhor, conduz ao auto-engrandecimento (fortalecimento do Ego) e entra em conflito com o Tao (a fonte real de todo o Bem) e se autodestrói. É por isso que as religiões não são perenes, ao contrário das Psicosofias.
E, em relação à Espiritologia, já apresentamos uma reflexão mais profunda sobre ela no primeiro livro desta coleção. De forma resumida, ela consiste no uso da História Oral para se entrevistar prováveis espíritos, através de reuniões mediúnicas organizadas para essa finalidade. Não temos, obviamente, como afirmar cientificamente se são espíritos e não o próprio inconsciente do médium em transe que se manifesta. Pode até mesmo ser o “demônio”, como afirmam as religiões neo-pentecostais ou a manifestação do "inconsciente coletivo". Mas o fato é que alguém responde e é este “alguém” que estamos chamando, em tese, de “espírito”, coletando seus depoimentos sem a finalidade de fazer proselitismo ou doutrinação.
Durante toda a década da Cultura de Paz (2001-2010) tivemos a Graça de poder estudar com estes “seres incorpóreos” os ensinamentos espirituais de vários mestres. E neste pequeno livro desejamos compartilhar com todos que amam o saber ou o estudo das coisas divinas, sem apego por particularismo ou exclusivismo religioso, as opiniões dos "seres incorpóreos" sobre as Psicosofias destes três mestres orientais, Lao-Tsé, Krishna e Buda.

São Carlos, 01 de janeiro de 2012

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

reflexões sobre os ensinamentos de Buda


Adilson Marques - asamar_sc@hotmail.com

Pergunta - como podemos entender espiritualmente os 8 nobres caminhos, que formam o chamado "caminho do meio"?
Resposta - Para uma compreensão universal deles, e usando as referências que vocês têm, podemos dizer o seguinte:
1 - compreensão correta - significa compreender que Deus é a causa primária de todas as coisas, atuando na vida de todos os seus filhos através da lei do carma. Mas não estamos falando da concepção de Deus como um carrasco que pune e castiga e nem de um ser egocêntrico que dá prêmios para os seus queridinhos. Por ser apenas bondade e amor, crou a Lei natural do carma que processa de forma inexorável as colheitas de cada um de acordo, apenas, com o que cada um plantou. Por isso, nesse exato segundo você está, ao mesmo tempo, colhendo o que plantou no passado e semeando o que vai colher no futuro. Por isso, podemos dizer que a compreensão correta também significa aceitar que somente o presente é real e este deve ser vivenciado com sabedoria e compaixão.

2 - Pensamento correto - hoje está mais popularizado o valor do pensamento positivo. Hoje sabemos que o pensamento é criador de realidades. Assim, o pensamento correto é aquele que vai a favor de um fluxo energético e não contra. E aqueles que tem a compreensão correta vão pensar na paz e não na violência; no valor positivo da honestidade e não na desonestidade. Mesmo a pessoa que foca sua vida lutando contra a violência, achando que está fazendo algo correto, inconscientemente alimenta mais violência no mundo. O foco de seu pensamento é a violência, não importa se você é a favor ou contra. Por isso, pensar corretamente é pensar na paz, na harmonia, na saúde, na benevolência, pensando sempre em fazer ao outro aquilo que você gostaria que o outro fizesse para você.

3 - palavra correta - Se o pensamento tem energia, o que dizer da palavra expressada. Jesus já dizia que o problema não é o que entra, mas o que sai da boca do homem, referindo-se ao poder criador ou destruidor das palavras. Uma palavra pode ser muito mais ferina do que uma agressão física. Por isso, quem tem uma compreensão correta e pensa corretamente, também vai se expressar corretamente, usando sempre palavras afetuais, positivas, que unam e não que separem, que resolvam pacificamente conflitos. Por mais "errada" que seja a ação do outro, não o critique, não o julgue, não expresse palavras com energias negativas sobre a pessoa. Fazer isso é como jogar mais lenha na fogueira. Todo o mal tem origem no egoismo e só é eliminado pelo amor, expressado na forma de pensamentos ou de palavras corretas.

4 - Ação correta - Dentro dessa mesma linha interpretativa, agir corretamente é ser sempre amoroso, benevolente, perdoar as ofensas, ter empatia e compaixão por todos, amigos ou inimigos, vítimas ou algozes. Como sempre salientamos, estamos falando na atitude, pois mesmo uma ação enérgica exterior pode ser praticada com amor no coração.

5 - Meio de vida correto - Todos nós antes de mais uma encarnação escolhemos um gênero de provas, assim, o meio de vida correto engloba os itens anteriores e nos faz vivenciar nossas provações sempre com honestidade, verdade, humildade, caridade e não vendo aquele que foi o escolhido para ser o instrumento de um carma negativo como "inimigo", mas como um grande amigo que Deus colocou em nosso caminho para nos exercitar no Bem.

6 - Esforço correto - Este se resume em canalizar todos os nossos desejos para apenas um: integrar-se plenamente em Deus. Ou seja, viver plenamente feliz nossa aventura encarnatória. Por isso, mesmo que em algum momento a dor seja necessária ou faça parte de nossas provações, o sofrimento é sempre opcional.

7 - Correta reflexão - Consiste em sempre orar e vigiar. Mas não falamos em vigiar a vida alheia, mas os  próprios pensamentos e sentimentos de forma a não ser surpreendido pelos cinco candas (agregados) que formam o ego e sofrer quando algo desagradável acontece e nem ficar eufórico nos momentos de prosperidade. Lembrar sempre que as formas materiais não tem substancialidade e são impermanentes, da mesma forma como são ilusórias as sensações, as percepções e as formações mentais que infernizam nossa vida como espíritos humanizados.

8 - correta introspecção - Compreendendo e colocando em prática, na forma de atitudes, os 7 nobres caminhos acima, o último representa o controle pleno da mente, de forma que a pessoa é capaz de agir sempre com equanimidade, sabedoria e compaixão diante de qualquer criatura virtuosa ou viciosa, nobre ou delinquente, em toda e qualquer circunstância, agradável ou desagradável.

Pergunta - Apesar da resposta acima focar sempre na atitude, ou seja, na ação sentimental, uma vez que o ato seria regulado pela Lei do carma, Buda também fala de atos quando se refere às 5 virtudes: Não destruir a vida; não roubar; não cometer adultério; não mentir e não intoxicar-se com bebidas ou drogas, não é mesmo?
Resposta - se focarmos com mais atenção, podemos dizer que aqui também a ênfase é na atitude e não no ato. Vou explicar. Por exemplo, um espírito pode pedir como prova vencer a tentação de mentir ou de ser um viciado em bebidas alcoólicas. Se o pedido dele for aceito, ele precisa nascer com um ego, uma programação genética ou crescer em um ambiente que estimule a tentação que ele precisa vencer. E Deus sabendo se ele vai vencer ou não, e quando será essa vitória, vai utilizá-lo também como instrumento para as provações dos outros. Ou seja, enquanto ele for propenso a mentir, vai enganar aquele que tem merecimento negativo para ser enganado. A ação dele não pode afetar o gênero de provas de um outro espírito humanizado. E o espírito que passa por esse tipo de provação ao ouvir que é errado matar, enganar etc. terá um estímulo para vencer a prova. A misericórdia divina age dessa forma. Ela não afasta a prova, mas traz elementos que podem ajudar a superá-la Assm, mesmo que pareça que Buda esteja falando de atos, continua falando em atitudes: ter a vontade e a intenção de não matar ou de mentir para fortalecer o espírito e este vencer o ego, programado, justamente, para fazer o contrário: ter vontade de matar ou de mentir. Mas é preciso nunca se esquecer da "compreensão correta" que, como dissemos, é compreender que Deus é a causa primária de todas as coisas, agindo através da Lei do carma. Portanto, ninguém será enganado se não merecer, se não tiver que expiar o fato de ter enganado outros no passado.

trexo extraído do livro "A psicosofia de Lao-Tsé, Krishna e Buda segundo a espiritologia", previsto para ser lançado no dia 17 de março de 2012 na II Jornada de Educação e Espiritualidade de São Carlos. O livro encerra a coleção Cultura de Paz e Mediunidade e é baseado em entrevistas com prováveis espíritos, realizadas através das técnicas de História Oral com médiuns que residem em São Carlos/SP, questinando os "seres incorpóreos" sobre os ensinamentos dos livros Tao Te Ching, Bhagavad Gita e Darmapada.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Imagens do lançamento do livro Saúde e Espiritualidade








Saúde e Espiritualidade

Hoje, 25 de janeiro, na livraria sideral, em São Carlos, será lançado nacionalmente o livro "saúde e espiritualidade: reflexões sobre tratamentos vibracionais e medianímicos", 28º livro de Adilson Marques, educador e escritor paulistano, residente em São Carlos/SP desde 1998, e também o sexto e penúltimo livro da coleção Cultura de Paz e Mediunidade, editada pela RiMa Editora.
O autor entrevistou vários prováveis espíritos através de diferentes médiuns residentes em São Carlos, entre os anos de 2001 e 2011. Abaixo, segue parte do capítulo 6 do livro, que aborda o Atendimento Espiritual de Saúde (AES), um trabalho terapêutico mediúnico realizado no Centro de Animagogia e Práticas Bionergéticas Rosa de Nazaré.
O livro já tem previsão de lançamento em outras cidades: no dia 05 de fevereiro em Natal/RN, no centro espírita lar da vovozinha; no dia 09 de fevereiro em João Pessoa, na UFPB, e no dia 10 de março na cidade de Campo Grande/MS.


Capítulo 6
O Atendimento espiritual de saúde

Pergunta 73 - No Atendimento Espiritual de Saúde (AES) temos sempre um médium incorporando uma entidade, qual a necessidade desse fenômeno?

Resposta - Não há necessidade de haver incorporação nesse tipo de trabalho e, na verdade, em nenhum outro. O que existe é uma necessidade dos seres humanos em ver manifestações mediúnicas que os façam acreditar que o trabalho está sendo realizado.

Comentário – Como afirma o Espírito comunicante, as diferentes técnicas são formas diferentes para se atingir o mesmo objetivo. No caso, a essência do REIKI e do AES é a mesma. Mas, as pessoas que precisam ver para crer, vão ficar mais confiantes que foram “curadas” vendo um obsessor se manifestando através de um médium ou vão acreditar nas orientações quando elas forem transmitidas por um Espírito. Enfim, para cada necessidade, um remédio diferente.

Pergunta 74 - Esse procedimento traz alguma vantagem em relação ao REIKI, uma vez que, segundo os próprios Espíritos, também é a espiritualidade que realiza os atendimentos através da energia doada pelos atendentes?

Resposta - Não. Não é porque o médium não está incorporado que não está fazendo o trabalho. No REIKI o atendente doa a sua energia e o paciente não vê o que está sendo feito, mas o trabalho é realizado do mesmo modo porque o reikiano não está sozinho. O que muda é a perspectiva do consulente que pode acreditar mais no tratamento por estar sendo atendido por um médium incorporado. Muitos acreditam que o atendimento é mais poderoso e surte mais efeito. E surte mesmo porque o paciente se torna mais receptivo. Este trabalho precisa ser feito com a incorporação porque muitos ainda precisam ver para crer.

Comentário – A incorporação nos atendimentos é algo muito criticado no movimento espiritista. O argumento é que Espíritos mistificadores podem se aproveitar da invigilância dos médiuns. Porém, incorporados ou não, os Espíritos estarão sempre presentes. Se a equipe é formada por trabalhadores sensatos, equilibrados e com sentimentos crísticos, serão amparados pelos “Espíritos superiores”, caso contrário, serão instrumentos dos chamados “inferiores”. Assim, mais importante que ser um atendimento com ou sem incorporação, é a adequada preparação da equipe encarnada que importa, pois na física transcendental os iguais se atraem.

Pergunta 75 - No caso do Atendimento Espiritual de Saúde a distância, notamos que o corpo do médium vibra como se estivesse incorporado. Se isso acontece, quem incorpora naquele momento, é o Espírito do paciente?

Resposta – O que vibra é sempre a energia, nesse caso, é a energia do paciente que é colocada em contato com a do médium, como acontece nos atendimentos de Apometria, mas não há incorporação do Espírito do paciente no médium.

Pergunta 75a – E como se dá esse processo? O paciente precisaria estar dormindo ou é possível essa ligação acontecer em estado de vigília?

Resposta - Quando o paciente está dormindo é possível levá-lo ao plano espiritual para receber as orientações que precisa. Mas, no atendimento, o que o médium sente é a energia do paciente, embora seja um movimento intenso e possa até acessar o  pensamento e sentimento dele, não acontece uma incorporação.

Comentário – No caso, o procedimento é similar ao que é chamado de “corrente anímica” em alguns trabalhos mediúnicos. E o processo é tão intenso que temos a impressão que a pessoa atendida estaria incorporada. No livro Gênero e Espiritualidade, terceiro desta mesma coleção, o último relato é similar aos fatos que observamos nos atendimentos. Nele, uma determinada mulher descreve o fato de ter acessado a memória da mãe e perdido o controle do seu próprio corpo. Ela descreve o fenômeno como uma forma de limpeza da energia negativa que a mãe possuía para desencarnar em melhor estado e não precisar drenas tais toxidades no “umbral”. A diferença entre o processo vivido por esta mulher e o que acontece no AES é que o dela prejudicou por algum tempo sua vida cotidiana, precisando, inclusive, ser internada em um hospital psiquiátrico. NO AES, após o término do atendimento, o médium volta do transe normalmente, como se nada tivesse acontecido.

Pergunta 76 - nos atendimentos a distância, alguns nomes a espiritualidade sugere que seja feita apenas uma vibração para a pessoa e não o atendimento espiritual, qual a diferença?

Resposta - Merecimento e necessidade. Muitas vezes são colocados nomes de pessoas que não estão precisando de Atendimento Espiritual, mas apenas de uma vibração para auxiliar o seu processo de crescimento. As pessoas acreditam que os atendimentos espirituais são milagrosos e que terão as suas vidas modificadas num passe de mágica e não é assim que acontece. A vibração positiva é também um bálsamo maravilhoso e capaz de dar força para a pessoa continuar a sua caminhada, para enfrentar o que é preciso.
É preciso não se esquecer que muitos problemas são criados, mantidos ou aumentados pelos próprios consulentes. Assim, o Atendimento Espiritual deve ser priorizado para as pessoas que estão sofrendo obsessões, mas possuem o merecimento para receber a ajuda.
A vibração sempre será um apoio fundamental para todos e pode sempre ser o ponto de partida para sair de uma situação de sofrimento, se o consulente realmente refletir e fizer sua mudança interior.
E não se deve esquecer que nada acontece sem a permissão divina. Assim, se quem estiver na direção do trabalho falar que a pessoa precisa apenas de uma vibração é porque aquela não é a hora de fazer o Atendimento Espiritual de Saúde.

Comentário – a vibração é uma prece que movimenta muita energia positiva. E como afirmava Gandhi, o amor de um é capaz de neutralizar o ódio de milhões, devido a força superior da vibração amorosa. Porém, muitas vezes, a pessoa que coloca o nome de um familiar no atendimento a distância fica melindrada quando ouve que para aquela pessoa deve se fazer apenas uma vibração. Mas é importante ter sempre em mente que cada um sempre recebe o que necessita e merece.

Pergunta 77 - ainda no caso do atendimento a distancia, a eficácia é a mesma de um atendimento presencial? Por exemplo, Ramatís, em um de seus livros, afirma que nem sempre os espiritos socorristas conseguem entrar na casa do enfermo devido ao excesso de energia negativa. Se a casa do enfermo está assim, como ele recebe a ajuda?

Resposta – Sempre afirmamos que o enfermo recebe ajuda de acordo com o seu merecimento. Se ele já está em um processo de mudança interior que o torne merecedor, receberá a ajuda mesmo com toda a energia negativa do entorno. Aliás, nesses casos, é que se percebe a necessidade de um trabalho efetivo, envolvendo muita energia para a limpeza. Por exemplo, muitas vezes é solicitado auxilio para pessoas que precisam ser atendidas por uma grande equipe espiritual. Uma parte da equipe vai até a casa para perceber as energias, fazer o diagnóstico e informar o que é necessário. Tendo permissão, se inicia o atendimento e se há necessidade, outra equipe é solicitada para continuar a limpeza, recolher obsessores etc. Deus não abandona nenhum de seus filhos, por isso todas as casas contam com proteção. Ninguém está desamparado ou solto no mundo.

Comentário – Somos sempre os reais artífices de nosso destino. Plantamos e colhemos exatamente o que semeamos. Pelas leis cósmicas, o algoz de ontem se torna a vítima de hoje e aqueles que nutrem o mesmo padrão de pensamento e sentimento se atraem. Porém, mais cedo ou mais tarde, o amor vencerá o egoísmo. E como ensina Jesus, “bata e a porta se abrirá”. Aquele que, cansado com suas colheitas egoícas, resolve mudar, torna-se merecedor de ajuda, por mais que seja ampla a limpeza a ser realizada. Mas por isso é importante a pessoa pedir a ajuda ou pelo menos reconhecer que está precisando.

Pergunta 78 - temos notado que muitos problemas de saúde são causados pela obsessão espiritual e que durante o atendimento espiritual de saúde são realizados atendimentos a esses espíritos, algo que não acontece no REIKI. Esse fenômeno não pode assustar o paciente? ou é importante que ele saiba quais são as companhias espirituais que ele atrai?

Resposta - Pode assustar sim, mas isso é a verdade, não é? Fingir que a obsessão não existe seria fazer do atendimento um teatro, escondendo o que precisa ser visto e compreendido pelo consulente. É fundamental para o consulente compreender que o obsessor está com ele por algum motivo. Geralmente, ambos vibram numa cadência muito baixa, mantém hábitos e pensamentos ruins, são egoístas e precisam mudar. Os iguais se atraem.  Por isso, é importante esclarecer essa questão para o consulente, convidá-lo para participar de um grupo de estudo, entregar a ele um folheto que o esclareça sobre os mecanismos da obsessão para que ele não se veja como uma vítima inocente.
Nos trabalhos de REIKI, quando há necessidade, os obsessores também são recolhidos e encaminhados pela espiritualidade, mesmo não necessitando de incorporação e sem que o consulente perceba alguma coisa. E, muitas vezes, é o obsessor que tem merecimento para ser atendido, para ser desligado daquele que o atraiu e, se não mudar de postura, vai atrair outros para o seu lado, como acontece, por exemplo, com os alcoólatras.
No Atendimento Espiritual de Saúde se faz necessária a manifestação dos Espíritos na frente do consulente porque é essa a característica do trabalho. Mas, em alguns casos, a pessoa entra, recebe um atendimento e permanece com o obsessor porque ainda não era a hora de tirá-lo de seu caminho. Por alguma razão, ele ainda é necessário na vida daquele consulente.
A doutrinação dos Espíritos acontece também na Apometria e no REIKI, mas no Atendimento Espiritual de Saúde é importante a incorporação do obsessor para que ele possa manifestar os motivos pelos quais está perseguindo o consulente. Este diálogo, nem sempre muito amistoso, serve para o consulente pensar e entender porque deve mudar sua forma de encarar a vida.

Comentário – Ninguém é vítima de obsessão espiritual por acaso. Um dos ensinamentos básicos da doutrina espírita é que o poder dos chamados “espíritos superiores” é irresistível. Ou seja, o chamado “espírito inferior” só consegue fazer aquilo que tiver permissão. Assim, quando ele se torna um obsessor, é porque sua vítima merece. Quando ela mudar sua forma de pensar ou de sentir o mundo, fazendo por merecer a ajuda, ela virá. Mas é importante salientar que muitas vezes o obsessor é o encarnado e não o Espírito. Este apenas foi atraído pela energia enfermiça do primeiro. São os casos de indução espiritual, na nomenclatura da Apometria.

79 - notamos que a equipe médica usa álcool e algodão nos atendimentos e, em alguns casos, cristais. Qual a importância desses elementos materiais no socorro aos encarnados?

Resposta - O álcool é importante para desinfetar e ajuda a retirar energias mais densas que estão no perispírito do paciente. O cristal e os elementos da natureza podem ser utilizados para conduzir a energia de uma maneira mais eficiente, potencializando a energia utilizada no atendimento. 
Os cristais, assim como as plantas, a água e o fogo são elementos advindos da natureza e que possuem energias fundamentais para os socorros. Aliás, está faltando deixar um vaso com plantas e flores nos trabalhos de vocês.

Comentário – As emanações fluídicas dos elementos da natureza são frequentemente utilizadas pela espiritualidade. Se o ambiente onde o trabalho acontece não tem, por razões doutrinárias ou outras, os Espíritos vão buscar em outros lugares.  Mas o uso dessas energias acontece com frequencia. Certa vez, em um centro espírita de São Carlos, seus proprietários cortaram as plantas de um pequeno jardim que havia no fundo da casa e, mesmo sendo um centro que não aceitava a manifestação de pretos-velhos, em um dos trabalhos mediúnicos um se manifestou, pediu desculpas por estar ali e disse que só precisava passar um recado. O preto-velho pediu apenas para refazerem o jardim, pois as plantas que lá estavam eram usadas nos diferentes atendimentos que aconteciam no centro. Para alguns pode parecer “mistificação” o uso de elementos naturais como cristais, água, fogo e até mesmo o álcool em curas espirituais. Quando isso acontece, para não criar conflitos, os espíritos socorristas buscam as emanações fluídicas destes elementos em outros lugares.
Eu particularmente, durante muito tempo, não gostava de poder meu jardim. Hoje, os restos das podas são armazenados em um cantinho e, através de orações, ofereço as emanações fluídicas das plantas para serem utilizadas no socorro de quem precisa.  

Pergunta 80 - Temos notado nas sessões de atendimento que além dos médicos e dos espiritos que são socorridos (doutrinados), frequentemente a equipe de médiuns incorpora exus e até crianças que ficam andando debaixo das macas. Seria possível nos explicar o trabalho que estes espíritos fazem durante o atendimento espiritual de saúde?

Resposta - Fazem um trabalho de limpeza importante. Nesses locais, a troca de energia é muito intensa, e toda essa negatividade precisa ser levada. Essas equipes trabalham recolhendo as energias mais densas (os Exus) e revitalizando o lugar com energias de alegria e amor (as crianças). O trabalho é complexo e por isso envolve uma grande equipe de trabalhadores espirituais.

Comentário – No meio espiritista, de forma geral, acredita-se que espíritos que se manifestam como crianças são mistificadores e os exus são confundidos com obsessores. Em outros trabalhos mediúnicos, estas posturas são simbólicas e estão relacionadas ao tipo de trabalho e a energia que movimentam. No caso, os exus, que não são espíritos maus ou obsessores, apenas trabalham nas limpezas energéticas mais profundas. Mesmo em trabalhos onde não há manifestação mediúnica, eles estão presentes. Porém, no Atendimento Espiritual de Saúde, eles se manifestam com mais freqüência, recolhendo as energias negativas e muitas vezes levando os obsessores mais renitentes. E, no caso das crianças, a alegria e a descontração que manifestam, renovam a energia do lugar, trazendo mais felicidade e amor a todos.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

21 de janeiro


Adilson Marques - asamar_sc@hotmail.com

No dia 21 de Janeiro de 2000, em Itapuã, na Bahia, a Sacerdotisa Gildásia dos Santos, conhecida como Mãe Gilda, após o seu terreiro ser  invadido e depredado por fiéis de uma religião que prega a intolerância, teve complicações cardíacas e veio a falecer. Em sua homenagem, foi editada a Lei Federal nº. 11.635/07, tornando o dia 21 de Janeiro como o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa.
Desde 2008, na cidade de São Carlos/SP, o projeto Homospiritualis realiza algum evento na data visando a promoção da tolerância religiosa, pois como já afirmava Madre Tereza de Calcuta, ser a favor da paz é muito diferente de ser contra guerra. E podemos dizer, com base nas pesquisas da PNL, que ao focar a intolêrancia, a miséria, a destruição do meio ambiente, a corrupção etc. estamos alimentando esses fatos, mesmo que nossa intenção seja combatê-los. Por isso, a ação do projeto Homospiritualis é sempre voltada para ser a favor e nunca contra. O projeto Homospirituais não combate nada, mas ajuda a promover a tolerância religiosa, a prosperidade, a preservação do meio ambiente, a honestidade etc., e sempre com bom humor, alegria e arte.
Em 2010, no dia 21 de Janeiro, foi aberto o Fórum Permanente de Educação, Cultura de Paz e Tolerância Religiosa. Vários eventos foram realizados na cidade de São Carlos/SP, na sede do Núcleo Cultural Rosa de Nazaré e, em 2011, o Fórum foi sediado na cidade de Natal/RN, com o apoio do Grupo Espiritualista Auta de Luz e do Grupo Giramundo de Danças Circulares, que realizaram, durante todo o ano passado,  vários eventos para promover uma cultura de paz naquela capital nordestina. E, no próximo sábado, o projeto Homospiritualis vai anunciar a cidade que vai sediar o Fórum no ano de 2012.
Também no dia 21 de janeiro de 2011, teve início a difusão da coleção de livros intitulada Cultura de Paz e Mediunidade, organizada pela RiMa Editora e pela Edições Homospiritualis. E, no próximo sábado, começa a ser editado o sétimo e último livro da coleção. Trata-se do livro: "A psicosofia de Buda e de Lao-Tsé segundo a espiritologia". O livro apresenta a opinião de vários espíritos entrevistados em reuniões mediúnicas ocorridas entre os anos de 2003 e 2008, na ONG Círculo de São Francisco, um centro de pesquisa criado pelo projeto Homospiritualis para se estudar e práticar a mediunidade, sem vínculos doutrinários ou proselitismo. Em 2010, a ONG se transformou no Instituto de Ciências do Espírito, cuja primeira tarefa vem sendo a organização dos dados coletados nas pesquisas e publicá-los.
Além dos ensinamentos destes dois líderes espirituais, foram coletadas opiniões dos espíritos sobre os ensinamentos de Krishna, sobre os evangelhos apócrifos de Tomé e de Madalena, sobre o livro Eclesiastes, um dos mais interessantes do Antigo Testamento, e também sobre a Oração de São Francisco e sobre o Sermão da Montanha. A opinião dos espíritos sobre estas outras Psicosofias serão organizadas para publicação em um outro livro a ser lançado em 2013, que, se Deus quiser, também será no dia 21 de janeiro.
Veja abaixo a programação de eventos para o dia 21 de janeiro.

São Carlos, 18 de janeiro de 2012




Um sonho enigmático


Adilson Marques - asamar_sc@hotmail.com

Posso dizer sem medo de errar que minha principal atividade de lazer é sonhar. Nada que exista na Terra me traz mais satisfação do que vivenciar um drama, uma comédia, um romance e descobrir que tudo foi um sonho e que todo aquele cenário e pessoas só existiam dentro de minha própria mente.  O sonho é um dos fenômenos mais fascinantes e que me intriga profundamente. E acredito que eles possuem uma dimensão espiritual (ou seja, extra cerebral) e alguns são mesmo proféticos.
Mas um dos sonhos que tive nesta noite deve ter sido influenciado por uma conversa que tive com uma amiga, no final do ano passado. Eu estava perto do mercado municipal de São Carlos quando uma amiga candomblecista me viu e veio falar comigo. Contou-me que a prefeitura queria fazer um evento sobre as religiões de matriz afro-brasileira e que, naquele final de semana teria uma reunião. Eu disse a ela que estaria em Uberlândia, em um evento sobre Apometria, mas que gostaria de participar das próximas. Desde então, não a encontrei mais e não sei em que pé anda o tal evento.
O novo ano começou e hoje, dia 14 de janeiro, sonhei que estava em uma reunião. Uma mulher que desconheço falava de forma exaltada. Lembrava muito uma militante revoltada. O seu discurso inflamado me incomodava, mas eu ouvia atentamente o que ela dizia. Lembro-me de três frases muito marcantes em seu discurso. A primeira dizia: “a umbanda está se tornando uma religião de classe média branca...” e a segunda foi a seguinte: “os negros estão abandonando suas raízes e migrando para as religiões evangélicas”.
Eu ouvia o que ela falava e pensava: mas a  Umbanda foi criada por um homem branco e de classe média, o Zélio de Morais. E se alguém visitar um terreiro de umbanda em Blumenau/SC, por exemplo, vai ver aquele monte de médiuns branquinhos, loiros e de olhos azuis “girando a gira”. Além disso, todos devem ter o direito de seguir a religião que desejar e até de mudar, quando quiserem, por isso qual o problema de um negro ser evangélico?
Mas o que me despertou daquele sonho foi a terceira frase. A mulher disse assim: “temos que garantir que pelo menos 30 % dos médiuns que trabalham em terreiros de umbanda sejam afro-descendentes”. Quando ela disse isso, não aguentei e comecei a rir. De tanto rir, eu acordei e tomei consciência que se tratava de um sonho. Fiquei das 4 às 6 horas sem conseguir dormir e aproveitei para matutar sobre o que poderia significar tão enigmática criação onírica.
A mulher, apesar de não saber quem era, no sonho representava a prefeitura. Era alguém do poder público. Isso me pareceu "mau agouro". E por quê? Porque em 2008 e 2010 vivi experiências bem desagradáveis com pessoas ligadas à prefeitura. E como estamos entrando em 2012, imaginei o meu inconsciente me dizendo: “ano sim, ano não; lá vem confusão”.
Em 2008, fui um dos organizadores do VIII Encontro Ecumênico de Educação e Cultura para a Paz e o tema elegido foi o centenário da Umbanda. O evento seria em uma escola pública da cidade. Porém, depois de acertar tudo verbalmente, ao ver o panfleto impresso a direção da escola voltou atrás e não aceitou que o evento fosse lá, argumentando que era um evento religioso e que eu poderia ser até mandado embora da prefeitura por justa causa. Eu disse que não era um evento religioso, mas sobre cultura de paz. E seria um evento para discutir sobre uma religião brasileira que completava 100 anos, que tinha uma vida de luta e resistência, e pontos importantes de discussão, como o sacrifício de animais, em pleno século XXI, a sujeira que alguns grupos deixavam nas praias e cachoeiras, além do risco de incêndio em matas por causa de rituais realizados de forma perigosa. 
Enfim, tentei explicar que não se tratava de um evento para se fazer proselitismo religioso. Porém, para se evitar mais confusões, resolvi achar outro lugar para o evento e risquei o nome da escola do panfleto.
E, em 2010, uma nova confusão aconteceu. Desta vez foi o seguinte. A prefeitura organizou um evento chamado “quão negros somos!” e eu inscrevi um painel sobre a minha pesquisa de História oral com um preto-velho. O painel foi aceito e eu estava lá para apresentá-lo. Eu estava feliz, porque essa pesquisa, desde o seu início em 2005, já tinha me dado muita dor de cabeça. Primeiro, porque nenhuma Instituição de Ensino Superior que procurei se interessou em me aceitar como aluno de pós-doutorado para fazer uma pesquisa de história oral com um suposto espírito. Provavelmente, me achavam um doido deslumbrado por querer fazer um estudo de história oral com um provável "morto".
A única que aceitou a pesquisa acabou me boicotando, não enviando para a CAPES os documentos solicitados e a bolsa de estudo acabou não sendo aprovada. Mesmo não conseguindo fazer a pesquisa em um ambiente acadêmico, heroicamente consegui terminá-la no ano de 2010 e, por alguma razão, ela foi aprovada para ser apresentada no evento acima, voltado para ensinar a história e a cultura africana e afro-brasileira. 
Além deste evento, na semana seguinte estava programada uma palestra sobre mediunismo afro-brasileiro no Centro de Cultura Afro-brasileira, um espaço cultural criado também pela prefeitura de São Carlos. Ou seja, eu estava em um evento da prefeitura e, na semana seguinte, faria uma palestra em outro espaço da prefeitura. Porém, ingenuamente, fui mostrar o panfleto deste outro evento para a pessoa que apresentava o "quão negros somos"  e pedi permissão para divulgar a palestra. Ela me proibiu e novamente o argumento seria a tal "laicidade" da prefeitura. Em outras palavras, em um evento eu tinha autorização para apresentar um painel sobre história oral com um preto-velho, mas não poderia divulgar uma palestra similar que aconteceria em um centro cultural criado e mantido também pela prefeitura. Ou seja, o destino me colocou no meio de uma situação kafkiana, daquelas que nenhuma lógica era capaz de explicar, desestruturando todos os meus chakras.
E o sonho desta noite me fez sentir calafrio depois que acordei. O que poderá acontecer em 2012? Quem era aquela mulher revoltada que, representando o poder público, desejava criar uma cota para médiuns afro-descendentes? Na hora me lembrei de meus amigos umbandistas de Blumenau. Como eles iriam se virar, ou melhor, se “girar”?   
Enfim, de tanto matutar, consegui imaginar três interpretações para o sonho:
1 – se preparar para enfrentar uma nova confusão com alguém da prefeitura 2012;
2 – exorcização plena das "experiências traumáticas" de 2008 e 2010, se libertando de toda aquela energia negativa, para começar 2012 renovado;
3 – uma brincadeira muito criativa de algum espírito zombeteiro, que me fez rir muito da idéia de se criar cotas para médiuns afro-descendentes e “salvar” a Umbanda do seu “embranquecimento”.

São Carlos, 14 de Janeiro de 2012

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Misticismo não é superstição


Adilson Marques - asamar_sc@hotmail.com

É muito comum encontrar algumas reflexões, sobretudo, nos meios religiosos, que querem combater as superstições que permeiam as relações com o sagrado, tratando-as como "misticismos". A expressão misticismo, cuja origem é grega, remete a experiência direta ou intuitiva com Deus ou uma "realidade superior". Não há nada de supersticioso no misticismo. Parte considerável dos ensinamentos milenares do Oriente foram obtidos através da experiência mística, seja a vidência, a clarividência, a "projeção astral" etc. Sem experiência não há misticismo. O empirismo é a sua base.
Por outro lado, a superstição é uma crença sem base racional e sem fundamento na experiência. Portanto, oposta ao misticismo. Obviamente que pode ocorrer pontos de contato. Por exemplo, uma pessoa supersticiosa pode acreditar que se alguém pega uma agulha e fica perfurando a foto de um desafeto, este vai sofrer dores pelo corpo ou adoecer. Porém, o místico, que conhece o poder da mente, que sabe manipular sua força mental e espiritual, sabe que a intenção de prejudicar alguém é que move uma determinada energia negativa até a pessoa mentalizada, que pode estar receptiva ou não. Porém, esse conhecimento não é supersticioso, mas construido através de uma prática, da experiência. Assim, enquanto o supersticioso se apega, quase sempre ao elemento visivel, o místico sabe que a força que move esses fenômenos é invisível e, além disso, sabe das consequências de nossas atitudes. E, novamente, não porque alguém disse, mas pela própria experiência.
Podemos dizer também que pensamentos sobre sorte ou azar estão no campo da superstição. O místico conhece e respeita as Leis cósmicas que regem o Universo, entre elas, a lei do Carma, que, como afirma Buda, é uma lei natural, independente de julgamento moral. Ela não existe para castigar ou punir quem é "malvado".
Enfim, podemos dizer que o espiritismo, o budismo, o taoísmo etc. são conhecimentos místicos, construidos a partir da experiência, seja direta com a dimensão invisível, o que hoje em dia é chamado de animismo e é valorizado, por exemplo, por movimentos como o Rosa Cruz; ou de forma indireta, contatando os seres que habitam essa dimensão invisível, como fazem os espíritas e os umbandistas através do mediunismo. 
Nesse sentido, as religiões podem conter elementos que remetem ao misticismo e também a superstição. Para aqueles mais iconoclastas, a luta contra a superstição precisa ser feita com mais cautela, pois corre-se o risco, como se diz na sabedoria popular, de jogar o bebê junto com a água suja do banho.
São Carlos, 05 de janeiro de 2012
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a carta sobre ensino religioso assinada em Florianópolis


caros amigos e amigas,
O Projeto Homospiritualis reproduz abaixo a carta assinada recentemente em Florianópolis pelas 3 principais instituições que discutem o tema ensino religioso escolar, hoje em dia:

O Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso (FONAPER), a Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Teologia e Ciências da Religião (ANPTECRE) e a Sociedade de Teologia e Ciências da Religião (SOTER), preocupados com o processo de implementação e consolidação do Ensino Religioso nas escolas públicas, vêm, através desta Carta Aberta à Sociedade Brasileira, tornar público seus posicionamentos a fim de esclarecer, direcionar e aprofundar o debate sobre o papel desta área do conhecimento e componente curricular na formação básica do cidadão.
No que se refere aos aspectos legais, destacamos que o Ensino Religioso é:
I - disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental (Cf. § 1º do art. 210 da Constituição Federal);
II - parte integrante da formação básica do cidadão, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo, sendo que os conteúdos e as normas para a habilitação/admissão de seus professores devem ser definidos e regulamentados pelos sistemas de ensino, que poderão ouvir entidade civil constituída pelas diferentes denominações religiosas (Cf. Lei nº 9.475/97, que altera o Art. 33 da LDB nº 9.394/96);
III - componente curricular situado no âmbito da educação sistemática e formal, articulado com os princípios e fins da educação nacional, devendo contribuir para o pleno desenvolvimento do educando e seu preparo para o exercício da cidadania (Cf. Art. 2º da LDB n° 9.394/96), promovendo a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores, que fortaleçam os vínculos familiares, os laços de solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida social (cf. Art. 32 da LDB n° 9.394/96);
IV - uma das áreas de conhecimento a integrar a base nacional comum da Educação Básica, a qual é constituída por conhecimentos, saberes e valores produzidos culturalmente, compreendidos como essenciais ao desenvolvimento das habilidades indispensáveis ao exercício da cidadania (Cf. art. 14 da Resolução CNE/CEB nº 4, de 13 de julho de 2010, que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica);
V - componente curricular e área de conhecimento obrigatória do Ensino Fundamental, de matrícula facultativa ao aluno, assegurado o respeito à diversidade cultural e religiosa do Brasil e vedadas quaisquer formas de proselitismo (Cf. Art. 15 da Resolução CNE/CEB n° 7/2010, que Fixa Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental de 9 (nove) anos).
Enquanto componente curricular, o Ensino Religioso deve atender à função social da escola, em consonância com a legislação do Estado Brasileiro, proporcionando o conhecimento dos elementos básicos que compõem o fenômeno religioso, a partir de uma abordagem pedagógica que estuda, pesquisa e reconhece a diversidade cultural-religiosa brasileira, vedadas quaisquer formas de proselitismos (Cf. Parâmetros Curriculares Nacionais de Ensino Religioso (FONAPER, 1997)).
Assim, longe de se embasar no ensino de uma religião ou das religiões na escola, a manutenção do Ensino Religioso em um Estado laico se justifica pela necessidade de formar cidadãos críticos e responsáveis, capazes de discernir a dinâmica dos fenômenos religiosos, que permeiam a vida em âmbito pessoal, local, nacional e mundial. As diferentes crenças, grupos, tradições e expressões religiosas, bem como a ausência delas, são aspectos da realidade que devem ser socializados e abordados como dados socioculturais, capazes de contribuir na interpretação e na fundamentação das ações humanas.
Desde a promulgação da Lei n° 9.475/97, muitas ações foram realizadas, em âmbito nacional, para a efetivação do Ensino Religioso, como componente curricular, dentre as quais se destacam:
I - a sua adequada implementação por centenas de sistemas estaduais e municipais de ensino, inclusive com a publicação de propostas e diretrizes curriculares e contratação de professores habilitados em Ensino Religioso através de concursos públicos;
II - a promoção constante de eventos científicos, fóruns, encontros e debates, abordando a natureza epistemológica e pedagógica do Ensino Religioso, dentre os quais merecem destaque as 11 edições do Seminário Nacional para a Formação de Professores em Ensino Religioso (SEFOPER) e as 06 versões do Congresso Nacional de Ensino Religioso (CONERE) promovidos pelo FONAPER, em parceria com diferentes instituições de ensino superior que oferecem cursos na área de Ciência(s) da(s) Religião(ões) ou afins, em níveis de graduação e de pós-graduação;
III - as diferentes iniciativas de formação inicial e continuada dos professores de Ensino Religioso, oferecidos por inúmeros sistemas de ensino e instituições de ensino superior, inclusive em nível de licenciatura, como ocorre nos Estados do Maranhão, Minas Gerais, Paraíba, Pará, Rio Grande do Norte e Santa Catarina, dentre outros;
IV - o significativo crescimento da produção científica de ordem epistemológica e pedagógica, incluindo a publicação de obras, revistas, cadernos, documentos e páginas eletrônicas que veiculam artigos, trabalhos e acontecimentos relacionados com o Ensino Religioso;
V - a criação de um Grupo de Trabalho (GT) de Religião e Educação na Associação Nacional de Pós-Graduação de Teologia e Ciências da Religião (ANPTECRE) e na Sociedade de Teologia e Ciências da Religião (SOTER), com massiva participação de docentes-pesquisadores na socialização de pesquisas e de práticas educativas nesta área de conhecimento;
VI - a inclusão de 05 ementas no documento final da Conferência Nacional de Educação (CONAE), o qual subsidia a elaboração do novo Plano Nacional de Educação (PNE) para a década de 2011-2020, determinando que: a) a diversidade religiosa seja inserida, no Programa Nacional do Livro Didático, de maneira explícita; b) se desenvolva e amplie-se programas de formação inicial e continuada sobre diversidade cultural-religiosa; c) os estudos da diversidade cultural-religiosa sejam inseridos no currículo das licenciaturas; d) os editais voltados para pesquisa sobre a educação da diversidade cultural-religiosa sejam ampliados, dotando-os de financiamento; e e) o ensino público se paute na laicidade, sem privilegiar elemento desta ou daquela tradição e/ou movimento religioso.
Entretanto, diante de inúmeros outros fatos e impasses que dificultam a consolidação do Ensino Religioso no país, defendemos que:
I - o Ministério da Educação (MEC) publique diretrizes curriculares nacionais para o Ensino Religioso, a fim de orientar os sistemas de ensino na elaboração de suas propostas pedagógicas em consonância com os pressupostos legais e curriculares em vigor na atualidade;
II – o Ministério da Educação (MEC), por meio do Conselho Nacional de Educação (CNE), emita diretrizes curriculares nacionais para a formação inicial dos professores de Ensino Religioso, em curso de licenciatura, de graduação plena, nos termos do art. 62 da LDB nº 9.394/96;
III – o Supremo Tribunal Federal (STF) aceite a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI), proposta pela Procuradoria Geral da República (PGR), para assentar que o Ensino Religioso em escolas públicas só pode ser de natureza não-confessional, declarando a inconstitucionalidade do artigo 11, do Decreto n° 7.107/2010, que aprova o Estatuto Jurídico da Igreja Católica no Brasil, o qual prevê que o Ensino Religioso seja “católico e de outras confissões religiosas”;
IV - o Ministério da Educação (MEC), por meio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, fomente a oferta dos cursos de formação inicial para professores de Ensino Religioso no âmbito do Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica/PARFOR;
V - o Conselho Nacional dos Secretários Estaduais de Educação/CONSED e a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação/UNDIME reconheçam o Ensino Religioso como área do conhecimento e promovam sua oferta em todas as escolas de ensino fundamental das redes públicas de ensino do Brasil, nos termos da Lei n° 9.475/1997;
VI - o Congresso Nacional incorpore no novo Plano Nacional de Educação (PNE) estratégia que garanta a promoção do respeito à diversidade religiosa nas escolas, respeitando-se o princípio da laicidade do Estado, com a proibição de práticas de proselitismo religioso e de Ensino Religioso confessional.
Isto posto, reafirmamos que é fundamental manter o Ensino Religioso presente no cenário educacional, a fim de continuar assegurando aos educandos das escolas públicas o acesso ao conhecimento religioso produzido pela humanidade, contribuindo para conhecimento e respeito da diversidade religiosa do povo brasileiro.
Para tanto, convidamos a todos os envolvidos na sociedade a participarem deste amplo debate, aliando-se às ações e proposições que buscam consolidar o Ensino Religioso como direito do cidadão, em prol da promoção da liberdade religiosa e de uma sociedade profundamente democrática.
 Florianópolis, 14 de outubro de 2011.

Estado laico, espiritualismo transreligioso

Adilson Marques - asamar_sc@hotmail.com

Um Estado laico tem por objetivo a garantia de liberdade religiosa. Mesmo assim, há os que confundem o termo laico com ateísmo e, em casos extremos, com o laicismo, um movimento de perseguição às religiões, como aconteceu na China, durante a implementação do regime comunista, quando inúmeros templos budistas, por exemplo, foram destruídos.
Em um Estado laico, o poder público tem o dever de garantir todas as formas de manifestações religiosas, mas não tem como interferir na sociedade afirmando se há Deus, espíritos, vida após a morte, reencarnação etc. Estes termos são do campo teológico, filosófico e religioso. Alguns até pretendem levar essa discussão para o campo científico, estudando através do método cartesiano, recheado de estatísticas, fenômenos místicos ou subjetivos como a Experiência de Quase Morte (EQM), a "projeção astral", a provável comunicação com os mortos etc.
Porém, sempre que se apresenta uma concepção de Deus, mesmo que seja aquela adotada pelo espiritismo (Deus é a inteligência suprema e a causa primária de todas as coisas), estamos diante de uma reflexão religiosa e não laica. O Estado laico tem o dever de aceitar a organização sócio-religiosa de quem acreditar nessa concepção de Deus, assim como a organização de quem defende outra concepção e de quem nem acredita em Deus.
Nesse sentido, é curioso notar a existência de grupos religiosos que se dizem laicos. No caso dos espíritas, por exemplo, essa suposta laicidade é baseada nas concepções religiosas de Kardec, ou seja, que parte do pressuposto que existe Deus, espíritos, reencarnação etc. Assim, é um contra-senso afirmar que um movimento, cuja base teórica é recheada de termos religiosos, seja ao mesmo tempo laico, uma vez que este adjetivo tem uma conotação muito particular: a não-interferência da religião organizada na vida pública das sociedades contemporâneas. Não há outro sentido para o adjetivo laico que não esteja relacionado à relação Religião-Estado.
Por outro lado, é possível pensar o tema espiritualidade para além das religiões, ou seja, em um âmbito transreligioso. Neste âmbito, é possível estar além do sectarismo e dos rituais, algo muito comum nos movimentos religiosos, mas nada disso diz respeito a laicidade do Estado.
Alías o espiritismo pode e deve se valer do Estado laico para se defender, por exemplo, dos constantes ataques de membros dos grupos neo-pentecostais, pois entre os dois movimentos não há acordo, apesar de ambos acreditarem em intervenções do plano invisível sobre o visível. Porém,  enquanto os espíritas acreditam que elas são realizadas por espíritos de "pessoas mortas", os neo-pentecostais afirmam que são manifestações do "demônio". Mas, se a discussão terminasse aqui, não haveria problema. Infelizmente, o movimento neo-pentecostal é "etnocidário" e defende o combate ao "demônio", gerando, com muita frequência,  hostilidade aos espíritas e aos demais grupos religiosos que, em tese, conversam "com demônios", como é o caso dos umbandistas. E essa hostlidade é praticada de diferentes formas, chegando, em muitos casos, à agressão física.
Enfim, qualquer que seja o grupo espiritualista, a partir do momento que ele tem como pressuposto a existência de Deus, e, no caso do espiritismo, uma concepção monoteista de Deus, já negligenciou os ateus, os agnósticos e os politeístas, por exemplo. Assim, não existe "espiritismo laico" ou qualquer forma de espiritulismo que seja laico. Existe sim,  formas sadia de espiritualismo transreligioso, algo que é salutar e necessário para arejar o religiosismo que dominou o movimento espírita, sobretudo no Brasil, e outros movimentos espiritualistas, mas estes nada tem de laico, pelo menos não no sentido iluminista em que o termo se popularizou e até hoje é utilizado. O Estado tem que ser laico, para ser democrático. Mas, todo e qualquer agrupamento espiritualista pode, e é saudável se for, transreligioso.

São Carlos, 06 de janeiro de 2012

Provável caso de reencarnação

Provável caso de reencarnação

Adilson Marques - asamar_sc@hotmail.com

Pesquisando o tema mediunidade desde 2001, tenho me deparado, frequentemente, com hipotéticas revelações de minhas supostas vidas passadas. A primeira que recebi foi em 2001, através de um espírito que se identifica como dr. Felipe e que se manifesta através de um médium são-carlense. Segundo ele, eu teria vivido no século XVIII como Emmanuel Kant. E uma informação curiosa que ele passou foi que Kant havia sido homossexual. Verdade ou não, dediquei-me a estudar a vida e a obra de Kant de 2001 a 2004, descobrindo que ele escreveu um livro muito interessante sobre o vidente Emanuel Swedenborg(1). E sobre a suposta homossexualidade de Kant também não achei nenhuma referência, mas no livro "A vida sexual de Emannuel Kant", de Jean-Baptiste Botul, o autor chega a levantar essa hipótese, com base em alguns fatos da vida do filósofo, mas parece acreditar que Kant, provavelmente, teria morrido virgem. Verdade ou não, se não fosse pelo espírito que se identifica como dr. Felipe não teria tido interesse em estudar os áridos livros desse filósofo e nem sobre sua vida. Se for verdade, acho que "evolui", pois Kant parece ter sido um sujeito eurocêntrico e machista, que manifestava muito preconceito em relação aos orientais e também aos negros e às mulheres, o que aparece com evidência em seus estudos sobre Estética.
E outras possíveis encarnações, ou reveladas por supostos espíritos ou por médiuns que se dizem videntes foram: como índio da etnia Kayngang, no Brasil; como monge budista na China; como um escritor contemporâneo de Mahatma Gandhi, na Índia; como soldado romano; como camponesa na África Central etc. Porém, até agora, a única "revelação" que parece ter algum fundamento é a de uma provável encarnação como Bispo da Igreja católica. E digo isso pelo fato de duas pessoas que não se conhecem, uma em Natal/RN e outra em São Carlos/SP, terem manifestado informações muito parecidas, em dois contextos distintos, os quais descrevo abaixo. 
Alguns anos atrás estive em Natal/RN, e vivenciei um acontecimento singular. Eu estava com muita dor de cabeça e fui tomar um "passe" no trabalho mediúnico do Grupo Espiritualista Auta de Luz. Durante o "passe" , uma das médiuns acessou a minha suposta vida passada como Bispo da Igreja Católica e começou a descrever alguns fatos daquela provável existência. Segundo a médium, eu abusava sexualmente das freiras que moravam em um convento e muitas engravidavam. Porém, quando as crianças nasciam, eram retiradas das mães e levadas para as famosas "rodas dos enjeitados". A dor de cabeça que eu sentia, teria ligação com essa suposta encarnação, pois, em tese, eu ainda teria muitos "inimigos" ou "cobradores" espirituais me perseguindo.
E, ao voltar para São Carlos/SP, não se passou muito tempo e uma mulher ansiosa por fazer uma regressão de memória me procurou. Apesar de apenas conduzir a técnica em casos especiais, senti vontade de atendê-la e combinamos algumas sessões(2). Logo na primeira, essa mulher começou a se ver como freira e descreveu fatos similares àqueles narrados pela médium de Natal/RN. Eu fui ficando apreensivo, mas achei, em um primeiro momento, que era apenas coincidência. Por fim, na quinta e última sessão que fizemos, ela falou que eu era o Bispo, que o convento em que vivia era na França, no século XVII, e que o nome do Bispo era Gaston.
Com essa informação, e graças ao Google, localizei um Bispo francês com esse nome e no século XVII. Mostrei a ela uma ilustração do possível Bispo, que se chamava Jean Baptiste Louis Gaston de Noailles (1669-1720). Ela afirmou que era o bispo que via na regressão de memória.
Por e-mail, entrei em contato com a Diocese de Châlons, em meados do ano passado, mas não tive até o momento nenhuma resposta. Em minha mensagem perguntava se havia alguma biografia sobre o Bispo. Minha idéia era comparar o que pode existir de informações sobre ele com as informações que surgiram espontaneamente por vias mediúnicas e pela regressão de memória. Obviamente que, se o Bispo em questão foi o protagonista dos "escândalos" narrados pelas duas, é provável que a Igreja Católica fizesse de tudo para não permitir que na biografia oficial do Bispo tais fatos aparecessem.
Infelizmente, pelo Google, não há muita informação sobre a vida desse Bispo, apenas sobre sua mãe, a duquesa Anne Louise Boyer (1632-1697). Porém, as informações transmitidas pela médium de Natal/RN e as visões que esta outra mulher teve durante a regressão de memória vem ao encontro de uma informação mediúnica que recebi também em 2001, dizendo que o meu "carma" estava ligado à promiscuidade, que eu já havia sido um "líder religioso" e que eu seria o que "mais dívida tinha para saldar" do grupo.
Enfim, em fevereiro de 2012 estarei novamente em Natal/RN. Espero encontrar novamente a mesma médium, desta vez, sem a necessidade de uma dor de cabeça, e quem sabe receber mais algumas informações que me ajudem na revelação desse quebra-cabeça e descobrir se o Bispo Jean Baptiste Louis Gaston de Noailles foi aquele que as duas pessoas, que não se conhecem, e moram em cidades tão distantes, descreveram com tanta semelhança.

notas:
(1) Em 2004, fiz uma palestra no IV Encontro Ecumênico de Educação e Cultura para a Paz, abordando a interpretação de Kant sobre as vidências de Emanuel Swedenborg. A transcrição da palestra pode ser acessada abaixo:
http://pt.scribd.com/doc/18506655/A-Psicosofia-de-I-Kant-e-a-doutrina-espirita

(2) O depoimento dessa mulher, narrando sua experiência com a regressão de memória, pode ser acessada no livro abaixo:http://pt.scribd.com/doc/18239605/Genero-e-espiritualidade-introducao-ao-estudo-das-imagens-e-do-imaginario-do-invisivel

Evento na Universidade Federal da Paraíba

caros amigos e amigas
em Fevereiro, no dia 09, estarei apresentando uma palestra na UFPB, intitulada "Mediunidade e Imaginário":
Os temas a serem abordados serão os seguintes:

a mediunidade como fenômeno antropológico universal;
o espiritismo e a visão iluminista da mediunidade;
a umbanda, a apometria e a visão pós-moderna da mediunidade;
as estruturas antropológicas do imaginário e a mediunidade;
o imaginário diurno e o espiritismo;
o imaginário noturno e a umbanda e a apometria;
as imagens heróicas e o espiritismo;
as imagens misticas e a umbanda;
as imagens dramáticas e a apometria;
a mediunidade e seus mitos:
Apolo e Espiritismo
Dioniso e Umbanda
Hermes e Apometria

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

4 anos no ar

No dia 02 de janeiro de 2008, começamos a postar no youtube trechos dos eventos que fizeram parte dos encontros ecumênicos de educação e cultura para a paz, realizados em São Carlos/SP, de 2001 a 2010. Os vídeos mais acessados são os que deram origem a pesquisa "História oral, Imaginário e Transcendentalismo: mitocrítica dos ensinamentos do espírito pai Joaquim de Aruanda". Com este "preto-velho" foram 32 horas de entrevistas, e as questões abordaram a Umbanda, o Budismo, o Espiritismo e outros assuntos de interesse dos espiritualistas.
Alguns vídeos interessantes: