sábado, 3 de dezembro de 2016

em uma semana mais de 300 acessos!

Há exatamente sete dias, começamos a divulgação do e-book baseado no relatório de pós-doutorado apresentado ao Departamento de Metodologia de Ensino, da UFSCar, na linha de pesquisa Práticas Sociais e Processos Educativos.
O E-book pode ser consultado ou ter copiado para o computador a partir de três locais na internet, podendo a pessoa escolher aquele que desejar: o ISSUU, o Scribd e o facebook.
No ISSUU é mais adequado para quem desejar ler na internet, pois o arquivo foi elaborado para facilitar a consulta nesse site. Ao abrir o arquivo no módulo tela cheia, ele fica no tamanho adequado para uma leitura agradável. O link para acessar é o seguinte:
https://issuu.com/programahomospiritualis/docs/meditacao-integrativa__2_
Por sua vez, quem deseja fazer o download do livro tem duas alternativas. No facebook, o arquivo se encontra na pasta Arquivos, acessível através do link: https://www.facebook.com/groups/176900859151358/files/ e, no scribd, para quem tem conta nele, o link é: https://pt.scribd.com/document/28529538/A-pratica-da-meditacao-integrativa-na-terceira-idade.
O livro tem 286 páginas e várias fotos relacionadas aos quinze anos de prática e cursos de Meditação Integrativa realizados em várias cidades brasileiras e de outros momentos da história do Programa Homospiritualis e da ONG Círculo de São Francisco.

domingo, 20 de novembro de 2016

Descartes e o cartesianismo


Adilson Marques - asamar_sc@hotmail.com

para meu amigo Moab José

Não é possível compreender a filosofia e o método científico proposto por René Descartes (1596-1650) sem compreender a estrutura metafísica de seu pensamento, o que aparece de forma mais evidente no texto Meditações (1641), mas também no Discurso do Método (1637).  E a suposta separação entre espírito e corpo, atribuída a Descartes, é real, pois ele defende que o espírito sobrevive à morte física, logo, seriam duas entidades distintas. Porém, durante a vida encarnada, afirma que o espírito que é indivisível se encontra tão misturado ao corpo, que seria divisível, que é praticamente impossível separar o que é de um e o que é de outro, abordando, inclusive, a influência dos estados emocionais, como a alegria e a tristeza, sobre o corpo físico, em seu estudo sobre as paixões (1649).
 As seis meditações nas quais coloca em prática o seu método de estudo são as seguintes:
Na apresentação  do texto,  ele apresenta seu objetivo: provar racionalmente a sobrevivência do espírito após a morte e a existência de Deus;
Na primeira, abordará as coisas que podem ser colocadas em dúvida, como as informações que nos vem pelos sentidos ou pela imaginação e que formam as opiniões de maneira geral;
Na segunda, a partir de seus argumentos racionais e metódicos, procura demonstrar que o espírito é independente do corpo e que o pensamento é o seu atributo;
Na terceira, aprofunda sua reflexão, rompendo com o solipsismo ao concluir que o mundo exterior ou material existe e que Deus existe, sendo o criador do universo e inclusive do ser humano;
Na quarta, partindo da premissa que Deus é perfeito e bom e não um enganador, abordará que o verdadeiro e o falso não é obra de Deus, mas do mal uso do livre-arbítrio pelo ser humano;
Na quinta, iniciará sua reflexão sobre o mundo material concluindo que a essência das coisas materiais foi instituída por  Deus e não pelo pensamento humano e, por fim,
Na sexta, conclui pela existência do mundo material e afirma que o espírito é independente do corpo, mas que não está alojado nele, mas incompreensivelmente unida a ele de tal forma que esta mistura confunde o divisível (que é o corpo) e o indivisível (que é o espírito).
Fica difícil defender que Descartes seria um solipsista, para quem o mundo material não teria existência ou objetividade, sendo apenas uma projeção da consciência. Ele não discute, pelo menos nos textos citados acima, a intersubjetividade, mas não se pode acusá-lo de solipsismo. Inclusive no texto sobre as paixões, ele apresenta argumentos fatalistas, algo que vai contra todo solipsismo. Descartes afirma que diante de dois caminhos, um mais perigoso que o outro, nossa razão nos pede para ir pelo menos perigoso. Porém, de acordo com o "decreto da providência", "se formos pelo caminho considerado mais seguro, seremos certamente roubados, e que, ao contrário, poderemos passar pelo outro sem qualquer perigo". Esse fatalismo entra em contradição com o pensamento solipsista.

O mundo como uma grande máquina
Essa metáfora é usada por Descartes para levar seu leitor a pensar na existência de Deus, ou glorificá-lo. Como escreveu em francês e não em latim, Descartes não parece preocupado em escrever para os doutos, mas para os leigos em filosofia e matemática. Nesse sentido, procurou usar uma metáfora que facilitasse a compreensão. Assim, ao mostrar para um operário um relógio e perguntar a ele quem o criou, este irá dizer, naturalmente, que foi um artífice.  Utilizando seu método para ir do particular para o geral, ao se referir ao Universo como uma "grande máquina perfeita", pretende que esse operário conclua racionalmente que se faz necessário por trás do universo a existência de um grande artífice, não sendo, portanto, o  fruto do acaso.
A metáfora, portanto, não visa pensar a terra como algo desprovido de vida ou de espiritualidade, como alguns de seus críticos afirmam, mas justamente o oposto. E como foi possível salientar no item anterior, não faz sentido também afirmar que Descartes cria o antropocentrismo onde o homem está no comando e não mais Deus. Se tal informação fosse verdadeira, não haveria o fatalismo que apresenta no estudo sobre as paixões.

A Europa em 1956, ano do nascimento de Descartes
Descartes cresceu em um momento histórico em que os países baixos buscavam se separar da Espanha, já existia conflitos entre católicos e protestantes, a América já tinha sido "descoberta" e estava sendo explorada por Portugal e Espanha, entre tantos outros. As companhias das Índias, por exemplo, que monopolizavam o controle de preços dos gêneros coloniais em toda a Europa foi criada em 1602, quando Descartes tinha apenas 6 anos de idade. Porém, muitos autores culpam Descartes pela dominação de outros povos pela Europa e até pelas crises sociais e ambientais contemporâneas. Uma das poucas luzes no fim desse túnel é o filósofo Gilles-Gaston Gramger, que na introdução do livro discurso do método (col. os pensadores) afirma que
a procura do lucro e da mecanização rude das relações entre os homens e das relações dos homens com o mundo não poderia evidentemente ser confundida com a filosofia de Descartes, exceto por uma espécie de grotesco mal-entendido.
Infelizmente, esse mal-entendido é generalizado hoje em dia. Mas é evidente que Descartes foi um homem de seu tempo, porém, sua filosofia parece muito mais voltada para uma possível "laicização do saber". Apesar de muito religioso, entra em conflito com o catolicismo medieval e com o ensino escolástico afirmando em uma carta que concebeu uma filosofia "de maneira que pudesse ser recebida em todo lugar, mesmo entre os turcos, sem ofender a ninguém". Assim, o seu método de pesquisa será diferente daquele adotado pelo "homem de letras" que, dentro de seu gabinete, faz especulações "que não lhe trazem nenhuma consequência senão talvez a de lhe proporcionarem tanto mais vaidade quanto mais distanciadas do senso comum." (discurso do método - parte I)

O método de Descartes
Ao invés do método escolástico, Descarte inicia seu estudo pelo "livro do mundo", aproveitando sua juventude e o dinheiro que herdou para viajar, entrando em contato com diferentes experiências humanas. A partir delas, demonstra respeito por outras opiniões e costumes, afirmando, por exemplo que "todos os que possuem sentimentos muito contrários aos nossos, nem por isso são bárbaros ou selvagens, mas que muitos usam, tanto ou mais do que nós, a razão". (discurso do método - parte I)
Nessa citação, podemos notar que o hábito de classificar o outro como "bárbaro" ou "selvagem" já estava interiorizado no discurso eurocêntrico da modernidade, não sendo, portanto, Descartes que o introduz na filosofia. Além disso, deixa evidente, que, para ele,  outros povos são capazes de usar tanto ou mais a razão do que o europeu.
Apesar desse respeito pela diversidade de opiniões e de experiências humanas, Descartes não encontra nelas a verdade que almejava, apenas verdades relativas, assim como não encontrou no ensino escolástico e na teologia do catolicismo. Decidido a construir seu próprio caminho para chegar a ela, formula um método. Em primeiro lugar, "jamais acolher alguma coisa como verdade", colocando-a em dúvida até que se apresente de forma clara e distinta ao espírito que a busca. Em segundo lugar, dividir cada uma das dificuldades que for examinada em tantas parcelas quantas possíveis e quantas necessárias para melhor resolvê-las (para Descartes o espírito é indivisível, ao contrário do corpo). Em terceiro, conduzir por ordem o pensamento, do mais simples aos mais compostos, supondo uma ordem entre eles. E, por fim, fazer enumerações o mais completas e revisões gerais, procurando nada omitir.
E é importante salientar que este método é prescrito para ele mesmo chegar o mais perto possível da verdade, que para ele, como aponta na introdução das "meditações" é provar racionalmente a sobrevivência do espírito após a morte e a existência de Deus. Ele não faz do seu método um caminho para dominar o mundo, ou dominar outros povos, mas pura e simplesmente, se "instruir". E, após elaborar o seu método, afirma que "em todos os nove anos seguintes, não fiz outra coisa senão rolar pelo mundo, daqui para ali, procurando ser mais espectador do que ator em todas as comédias que nele se representam." (discurso do método - terceira parte).
Essa citação evidencia que Descartes, apesar da origem burguesa e da não necessidade de trabalhar para viver, pode ser um contemplador do mundo. E, da mesma forma que foi um leitor de Santo Agostinho, mesmo não o citando em seus textos, ouso levantar a hipótese que ele conhecia também a psicosofia presente em livros como a Baghavad Gita ou outro texto védico, pois demonstra um desinteresse pela vida material similar a de um hinduista.

Seria Descartes cartesiano?
"embora tenha muitas vezes  explicado algumas de minhas opiniões a pessoas de ótimo espírito, e, enquanto eu lhes falava, pareciam entendê-las mui distintamente, todavia, quando as repetiam, notei que quase sempre as mudavam de tal sorte que não mais podia confessá-las como minhas. A esse propósito, muito estimo pedir aqui, aos nossos vindouros, que jamais creiam nas coisas que lhes forem apresentadas como vindas de mim, se eu próprio não as tiver divulgado. " (discurso do método - sexta parte)
Da mesma forma que Marx não se considerava um marxista, é provável que Descartes não se considerava um cartesiano, pelo menos, segundo o que se escreve e fala sobre ele. A seguir apresento algumas frases sobre Descartes retiradas aleatoriamente da internet que parecem contradizer o olhar contemplativo e estoico desse filósofo que conheceu a efervescência sociocultural e política da Europa no final do século XVI e primeira metade do século XVII, mas que procurou manter-se distante dela:
"Assim Descartes inaugura com o ego cogito, o pensamento moderno, humanista e antropocêntrico, no sentido de que o homem está no comando e não mais Deus ou o cosmos."
"A mente cartesiana é egocêntrica e quando pensa no outro sua avaliação é sempre sobre a vantagem que poderá obter da situação. "
"Para Capra  o ponto de vista cartesiano desempenhou uma forte pressão para o atual desequilíbrio cultural por qual passa a humanidade".

"A divisão de Descartes entre matéria e mente (res cogitans e res extensa) tornou a concepção de universo nada além do que uma máquina, desprovida de propósito, vida ou espiritualidade".
"os principais problemas sociais e ambientais da atualidade, como violência, poluição, crise energética e de assistência à saúde são consequências dessa visão de mundo cartesiana, que nos últimos trezentos anos privilegiou padrões dominantes de poder, fragmentação, controle e competição em nossa sociedade ocidental.

seria o pensamento cartesiano, de fato,  a matriz do pensamento moderno?
Como salientamos, quando Descartes nasceu, a modernidade já tinha mais de cem anos de idade e os fatos atribuídos a ele já estavam em andamento no mundo (dominação de outros povos, dominação da natureza, conflitos sociais etc.). E, apesar disso, seu discurso filosófico é metafísico: o espírito e Deus são os seus principais objetos de reflexão. E em nenhum momento é o Deus católico que ele coloca como sendo o verdadeiro e que este deve ser imposto a outros povos. Enfim, o que se costuma ser atribuído a Descartes está muito mais presente nesta citação famosa de Ruldof Carnap (1891-1970), conhecido como um filósofo neopositivista: "a questão do Absoluto é um problema falso ou aparente que não merece o valor da nossa atenção. A filosofia só se deveria ocupar com aquilo que fosse perceptível aos nossos sentidos ― tudo aquilo que está para além da objetividade seria catalogado como 'absurdo'. Só não seria absurdo aquilo que se pudesse medir, que fosse mensurável."


São Carlos, 20 de novembro de 2016 - dia de Santo Edmundo que, apesar de sempre atacado e ter sido condenado à morte, permaneceu fiel à justiça e a sua fé.

sábado, 1 de outubro de 2016

candidato Flávio Lazzarotto, do PSOL, responde aos questionamentos do Programa Homospiritualis

Em 2012, o Programa Homospiritualis elaborou um questionário com várias perguntas aos candidatos à prefeitura. Somente o candidato Flávio Lazzarotto respondeu. Neste ano, novas questões foram formuladas aos candidatos à prefeitura e também à câmara dos vereadores. E mais uma vez ele respondeu, agora na condição de candidato à vereador. Confira aqui as questões e as respostas do candidato:

TEMA 1 - gestação e primeiríssima infância A questão da maternidade e da paternidade é de fundamental importância para os primeiros anos do bebê, refletindo diretamente em sua vida adulta. Dentro dessa perspectiva, o que acha das seguintes propostas?

01 - um mês de licença paternidade para os servidores municipais para que possam acompanhar de perto os primeiros dias de seus filhos/as.

02 - um ano de licença maternidade para as servidoras municipais para que possam amamentar por muito mais tempo, uma vez que o recomendado é que até os 2 anos de vida a criança possa usufruir os benefícios do leite materno.

Resposta 1 e 2 – É claro que concordo com a ideia, porem seria necessário fazer um levantado das condições das financeiras do município para ter a real possibilidade de pensarmos neste avanço necessário. Uma segunda opção seria também o cumprimento do disposto na lei e o restante do período aqui colocado o servidor trabalhar com o horário reduzido.


03 - estímulo e investimento para melhorar o parto normal humanizado no SUS a fim de diminuir de forma significativa o número de cesarianas, valorizando o tempo do bebê no nascimento, de uma forma menos traumática para a mãe e para a criança.

Total apoio. Pouquíssimo investimento para um resultado extremamente importante para a recuperação da mãe e para o desenvolvimento do filho.

 04 - combater de forma eficaz o planinho (plano para cesariana) que ocorre clandestinamente na cidade, que obriga várias famílias a pagar para que a cesariana aconteça no SUS.

Total apoio. Isso só poderá acontecer em um governo que tenha realmente um canal aberto com a população, mas este canal deve ser amplamente divulgado.


05 - campanha contra a violência obstétrica e adoção de programa de práticas integrativas e complementares com grupos de gestantes, sobretudo, na periferia, onde se encontra as mulheres com mais dificuldade de acesso a atividades como meditação, massagem, yoga e outras que, comprovadamente, ajudam durante a gestação.

O PSOL todo movimento que contribui para o avanço do ser humano e contra o sistema que prioritariamente prevê o lucro e entendemos que a cesariana foi disseminada pensando no lucro, diferente do parto natural. Assim, poderíamos investir muito mais em atividades que realmente a gestação.

06 - programa de amparo a gestante que deseja cometer aborto, dando a ela suporte psicológico e social durante a gestação e, caso ela não quiser a criança, ajudar no processo de doação, combatendo os abortos clandestinos.

Acredito que este programa somente emplacaria caso conseguíssemos alterar a legislação federal sobre o aborto como o PSOL defende, pois ficaria difícil uma mulher procurar tal programa e admitir que pretende cometer um crime. De toda forma este projeto o PSOL já defende e eu concordo plenamente, pois salva muito mais vidas do que a proibição do aborto.

TEMA 02 - valorização dos servidores municipais Nos últimos anos, pouco se investiu na capacitação do servidor público municipal, criando uma desmotivação crescente. Para mudar esse processo, o que sua coligação pensa das seguintes propostas?

07 - Um plano de redução gradativa da jornada de trabalho para 30 horas, sem redução de salários e benefícios, para todas as categorias. Com organização e racionalização do trabalho é possível melhorar o atendimento ao público, dedicando menos horas de serviço, de forma que a pessoa possa ter mais tempo para lazer, cultura, envolver-se com a família etc.

O PSOL defende nacionalmente a redução da carga horária sem redução dos salários pelos motivos acima descritos e também para criação de novos empregos. Na semana passada postei em minha página uma mensagem defendendo a redução da carga horária dos profissionais da enfermagem, por ser um trabalho muito estressante.

08 - realizar cursos de capacitação no horário do expediente. A grande reclamação dos servidores é que os cursos de capacitação oferecidos pela Escola Municipal de Governo ou outros programas é que são realizados fora do horário de expediente, quando já se encontram cansados.

Realizar cursos de capacitação e que seja divulgado para todos que pretenderem fazer os cursos e não direcionados como tem acontecido até mesmo dentro da Câmara municipal.

09 - redução drástica do número de cargos de confiança, priorizando os funcionários concursados, acabando com o uso político presente em vários setores.

Não só concordo como já propus que vereadores não devem aceitar indicação de cargos de confiança na prefeitura, isso é uma forma de corrupção, pois terá que votar como o prefeito manda.

10 - retomada da discussão do plano de carreira, interrompido em 2013 com a atual gestão municipal.
O pano de carreira é essencial para o servidor ficar motivado em seu trabalho e é claro, ter melhores condições financeiras com o passar dos anos.

TEMA 03 - educação
Um dos servidores que mais sofrem com a chamada síndrome de burnout e outras enfermidades causadas pelo estresse do trabalho são os professores. Além disso, outras questões envolvem a educação. As propostas abaixo visam amenizar esses problemas. Qual sua opinião à respeito?

11 - fornecer merenda com qualidade nutricional, incentivando a agricultura orgânica no município e inserir pratos vegetarianos e veganos na alimentação, cortando o uso de salsichas e outros produtos industrializados comprovadamente inadequados à saúde humana.

Concordo que os alimentos industrializados devem ser retirados dos cardápios das escola e com o tempo de todas as mesas e que haja ao menos um opção diária, não somente para os já vegetarianos ou veganos, mas também para os que pretendam conhecer esta alimentação.

12 - investir em um programa de educação em tempo integral nas escolas municipais

Sou advogado da APEOESP (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) e tenho conhecimento do que os professores sofre com o atual sistema de ensino. Hoje mesmo conversei com um pai que conseguiu uma vaga em escola integral e não sabe como seria sua vida se assim não fosse a escola da filha, pois é separado, ficou com a filha e seus pais estão doentes, não poderiam ficar com a neta. Só assim ele consegue manter seu emprego e uma garantia de que a filha está em boas mãos. Aula em período integral, alem de dar tranquilidade para os pais trabalharem ainda dá melhores condições de aprendizagem às crianças, quando oferecidas as condições de acesso à música, canto, dança, cinema, esporte etc.

13 - estudar a proposta de implantar um "decênio" para os professores da rede municipal de forma que, a cada 10 anos de trabalho como professor, o mesmo possa ter uma redução na jornada de trabalho em sala de aula em 20 %. Assim, um professor com carga-horária de 40 horas, após 10 anos, passaria a trabalhar 32 horas, tendo 8 para se capacitar, estudar uma língua estrangeira, escrever um livro, etc. E com 20 anos de trabalho, sua jornada em sala de aula cairia para 24 horas, sem alteração no salário e benefícios, permitindo-lhe tempo para realizar outras atividades educativas e culturais que, de alguma forma revertem na melhoria da qualidade do ensino.

Seria um sonho, um projeto ambicioso para o desenvolvimento do ser humano, mas que poderia ser estudado com seriedade, no entanto, vejo que tal sonho somente teria espaço depois que o município tivesse colocado em dia outras prioridades.

14 - HTPC correspondente a 30 % da jornada de trabalho. A Lei Federal já não coloca isso como obrigação? E acredito que o município já cumpre, exceto a FESC, que também deveria cumprir, mas que neste governo retirou o pouco de HTPC que tinha.

15 - Eleição direta para escolha da direção das escolas

O PSOL sempre defendeu tal projeto.

16 - redução do número de alunos por sala de aula, de forma gradual, até que seja de, no máximo, 20 alunos por sala de aula.

Em um governo do PSOL tal projeto com certeza receberia o apoio.

TEMA 04 – FESC
Quando os cursos de graduação em Educação Física e de Biblioteconomia foram para a UFSCar, a FESC, um dos principais patrimônios sociais do município, criou a Universidade Aberta da Terceira Idade (UATI), em uma iniciativa inédita no Brasil, pois foi a primeira prefeitura a fazer um programa similar aos existentes em algumas universidades públicas ou privadas. Porém, durante as gestações do PT, a FESC criou novos serviços sem que houvesse o aumento proporcional nas receitas da FESC. E, na última gestão, a qualidade dos serviços diminuiu de forma significativa devido, sobretudo, a pouca receita para se investir nos programas educativos. Para reverter essa situação, elencamos as seguintes propostas. Qual sua opinião?

16 - garantir aos educadores da FESC direitos que os professores da rede possuem.

Inclusive o HTPC de 30% e investir o que se gasta com cargos de confiança nos próprios professores, afinal a FESC possui mais cargos de confiança do que concursados se pensarmos apenas nos cargos administrativos.

17 - autonomia da TVE, passando-a para a secretaria de comunicação que arcaria com os seus custos.

 Autonomia e maior investimento, inclusive na divulgação da programação, pois quase a totalidade da população não tem sequer conhecimento da existência da TVE e muito menos acesso a mesma.

18 - O PID e a UNIT, por serem atividades que possuem além do caráter educativo, também o de capacitar o cidadão para o mercado de trabalho, passariam a ser realizados com recursos da secretaria de emprego e renda. A FESC poderia sediar os programas, mas que seriam administrados por esta outra secretaria, dentro de seu orçamento.

Sem dúvida o Programa de inclusão Digital é de extrema importância e poderia ser extensivos a capacitação, pois é notório que hoje dificilmente encontramos uma profissão que não exija um pouco de conhecimento digital. Já a Universidade Aberta do Trabalhador entendo que já tem um caráter de capacitação, só não tenho conhecimento do alcance dos curso, então acredito que se ligada a Secretaria de Emprego e Renda esses cursos teriam mais facilidade de acesso pelos cidadãos.

19 - A UAB, da mesma forma, passaria a ser mantida com recursos da secretaria de educação.

Acredito que se a Universidade Aberta do Brasil fosse mantida pela Secretaria de Educação teria melhores condições de buscar mais verbas federais. Mas não tenho grande conhecimento do funcionamento administrativo da UAB.

20 - No caso da piscina, pelo seu alto custo de manutenção, passaria a ser mantida pela secretaria de esportes e lazer.

Não tenho conhecimento das verbas destinadas à esta Secretaria, pelo que sei são sempre muito baixas, então teria que ser revista tal verba ou a piscina poderia sofrer ainda mais.

21 - A FESC, dentro dessa nova proposta, daria prioridade à UATI, que foi muito prejudicada nos últimos anos, caindo de forma drástica a qualidade do serviço oferecido ao idoso sãocarlense e também, a EMG, possibilitando ampliar o trabalho de qualificação do servidor municipal e levar seus programas para os bairros, sobretudo, os mais periféricos.

22 - Estudar a possibilidade de implantar dois novos programas: a Escola Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade, que passaria a planejar projetos de educação ambiental em todo o município e a Escola Municipal de Direitos Humanos e Cultura de Paz, com o objetivo de criar atividades e projetos para implantação na rede pública e em outros espaços (bibliotecas, museus etc.) estimulando a cultura de paz e valorizar os Direitos Humanos na cidade.

O estudo de novos planos é sempre necessário e deve ser acolhido pelos governos com seriedade.

23 - levar os serviços da FESC para Água Vermelha, Santa Eudóxia, Cidade Aracy e Santa Felícia através de projetos especiais.

Com maior prioridade aos três primeiros lugares mencionados que são extremamente carentes de investimentos, enquanto que o Santa Felícia já possui um campus próximo, no Santa Paula.

TEMA 05 - Saúde
Apesar de consumir cerca de 30 % do orçamento, pouco se investe em prevenção. Qual a sua opinião em relação às propostas abaixo?

 24 - Com o apoio de vários grupos sociais, e já aprovado pelo conselho municipal de saúde, inserir no município uma política de práticas integrativas e complementares no SUS, de forma que os cidadãos, sobretudo, os de baixa renda possam ter acesso a práticas que comprovadamente melhoram a qualidade de vida, mas que são ainda muito caras e cujo acesso fica restrito a uma parcela pequena da população.

Por esse motivo que o PSOL é extremamente a favor de que o Estado deve proporcionar os serviços essenciais, só assim a população de baixa renda terá acesso à essas práticas para melhores condições de saúde.

22 - Elaborar um plano de entrega de remédios de uso continuo na casa do cidadão com mais de 60 anos de idade, cadastrado no sistema e que mensalmente precisa locomover até as farmácias, diminuindo a fila nesses locais.

Incluiria neste plano também as pessoas com necessidades especiais.

 25 - Elaborar um programa de atendimento domiciliar de pessoas idosas para coleta de sangue, tirar pressão e outros exames mais simples, facilitando a vida dessa parcela da população que, a cada seis meses, enfrenta as filas nos postos para esses tipos de exame.

Sim, e novamente incluiria neste plano também as pessoas com necessidades especiais.

26 - Criar um programa para reagendamento automático de consultas para pessoas com doenças crônicas, de forma que ela não precise ir até o posto todo semestre para ver se já pode agendar sua consulta.

Sim, em visita ao CEME encontramos duas filas enormes as 6h da manhã, uma para agendar e outra para reagendar. Não tem qualquer sentido nos dias de hoje exigir das pessoas tamanho esforço para uma atendimento médico ou exames.

27 - transformar a semana da fitoterapia, um evento anual já aprovado no calendário de eventos, na semana das Práticas Integrativas e Complementares (PIC), estimulando o uso e difundindo o benefício dessas práticas.

Me comprometo na defesa.

TEMA 06 - cidadania 28
criar o conselho municipal da diversidade religiosa e combater todo tipo de discriminação por motivos religiosos, reivindicação de vários grupos religiosos do município.

Já estive na Câmara de Vereadores defendendo a criação do conselho municipal da diversidade religiosa e continuo defendendo.

29 - vetar o uso de recursos públicos para eventos que promovam uma religião específica.

Concordo.

30 - transformar a semana do evangélico, um evento que vai de encontro ao estado laico na semana da liberdade e da diversidade religiosa, promovendo atividades que aproximem todas as religiões e combatam a intolerância religiosa.

Concordo e defenderia com propriedade, inclusive que se deixe de ler a bíblia no inicio das sessões na Câmara.

TEMA 7 - bibliotecas e cultural

31 - aumentar o horário de funcionamento das bibliotecas, abrindo à noite e também nos finais de semana, criando programas que estimulem o uso das mesmas.
Concordo e apoio. Também para o auditório da biblioteca municipal, que é aberto ao público para reuniões e encontros e poucas pessoas têm o conhecimento, mas isso acontece apenas até as 17h, de segunda a sexta.

32 - criar uma política de aquisição de livros para renovação do acervo.

Apoio.

33 - criar um programa de biblioteca circulante (através de um ônibus ou outro, circulando pelo município), com a realização de atividades culturais em praças e outros locais, estimulando a leitura.

 Apoio, pois todo projeto nesse sentido é sempre muito bem recebido pela população, por mais que muitos defendam que o livro já não é procurado.

34 - criação de atividades de estimulo à criação de textos (poesias, crônicas etc.), através de concursos, saraus etc.

Apoio e m conjunto com a proposta anterior.

35 - atividades de valorização dos escritores nascidos e residentes em São Carlos, com atividades em escolas municipais e em bibliotecas como batepapos, lançamentos de livros etc.

Sim, sei o quando é importante o contato direto com o candidato e isso também atrai muito mais quando se coloca o escritor ou autor de obras em contato direto com seu público.

36 - retomar a política dos pontos de cultura, democratizando o acesso à produção e fruição da cultura produzida no município.

Essa é uma das propostas defendida pelo PSOL.

37 - criação da secretaria municipal de cultura.

Simmmmmm

38 - revitalizar o mercado municipal, tornando-o mais atraente do ponto de vista estético (painéis coloridos e frases motivacionais. O mesmo para as escolas e postos de saúde), favorecendo a ação e a difusão cultural.

Com grafites, principalmente nas escolas.

39 - destinação de 1 % do orçamento para a cultura.

 Simmmm

 40 - programa municipal de estimulo a produção artística e cultural, estimulando a produção de grupos de teatro, dança, música, literatura etc. Os grupos premiados se apresentariam no teatro municipal, em escolas municipais, em bibliotecas e outros espaços públicos.

Sim, trocar as contratações de grupos que custam muito caro e utilizar este dinheiro para programações durante o ano todo

domingo, 25 de setembro de 2016

IV Jornada de Educação e Espiritualidade de São Carlos

A IV Jornada de Educação e Espiritualidade de São Carlos aconteceu neste sábado, dia 24 de setembro, no auditório do departamento de enfermagem, na UFSCar. O evento é organizado pelo Programa Homospiritualis, mantido pela ONG Círculo de São Francisco, desde 2010, nos anos pares. Em sua quarta edição, o evento teve como parceiros o projeto MAPEPS e o Grupo de Estudos em bem-estar, ambos da UFSCar, e a aprovação do Conselho de Extensão da mesma instituição.
Nessa jornada, a programação teve quatro palestras e a apresentação de nove pôsteres, apresentando diferentes trabalhos relacionando educação e espiritualidade. A atividade cultural de encerramento foi com o monólogo Madre Teresa de Calcutá, com o grupo de teatro Carcarah, da cidade de Santos.






domingo, 11 de setembro de 2016

I Congresso internacional Epistemologias do Sul

Em novembro acontecerá o I Congresso Internacional Epistemologias do Sul na Universidade Federal da Integração Latino-americana. Segue o link para mais informações sobre o evento: https://congressoepistemologiasdosul.wordpress.com/ 
Enviamos para análise o seguinte trabalho, abordando nossa concepção teórica sobre o Homo spiritualis.

O despertar do Homo spiritualis no mundo contemporâneo: o terceiro excluído na dicotomia Homo religiosus X Homo profanus
Adilson Marques - professor visitante e pós-doutorando na UFSCar, na linha de pesquisa práticas sociais e processos educativos


resumo:
Partindo do pressuposto que no mundo contemporâneo há um recrudescimento do sagrado, revalorizando o Homo religiosus estudado por Mircea ELIADE, sem que, necessariamente, o Homo profanus perca espaço na sociedade, levantamos a hipótese de que há um terceiro modo de ser no mundo, que não nega o valor da busca espiritual e nem da cientificidade, de forma que começa a se consolidar um terceiro excluído na dicotomia clássica proposta por ELIADE. Chamaremos este modo de ser no mundo de Homo spiritualis. Este não se trata de uma síntese entre os dois anteriores, mas é capaz de religar os dois polos aqui demarcados através de um imaginário que podemos chamar de dramático, utilizando a nomenclatura proposta por Gilbert DURAND.
De forma geral, podemos afirmar que os três modos de ser sempre existiram na história, porém, em cada período com o predomínio de um sobre os demais. Assim, como fez ELIADE, é possível fazer uma correlação entre as sociedades não-modernas e o Homo religiosus e encontrar na modernidade o crescimento e o predomínio do Homo profanus.  E não defendendo a tese de que o Homo spiritualis seja um modo de ser original, pois podemos encontrar vestígios dele em vários momentos históricos, pode se afirmar que ele começa a ganhar visibilidade na "pós-modernidade" ou "trans-modernidade", caracterizando-se por uma busca espiritual muitas vezes despida de religiosidade, mas com forte presença de um ideal laico, ou seja, de respeito a todas as formas de religiosidade, e vendo na ciência uma aliada.
Não encontramos, porém, relação entre o despertar do Homo spiritualis e o movimento capitalístico Nova Era, voltado muito mais para o estabelecimento de um comércio espiritual que foi bem identificado por ZAJDSZNAYDER como sendo um movimento não-espiritualista e até mesmo anti-espiritualista. Ele está fortemente arraigado no chamado "misticismo quântico", talvez o ápice do movimento Nova Era e que  revaloriza o pensamento solipsista, afirmando que a matéria não passa de uma projeção mental e que, através da mente é possível adquirir prosperidade e até mesmo mudar de sexo, como afirma um suposto ser incorpóreo identificado como Saint Germain em um de seus livros "canalizados" no qual transmite a informação de que seria possível pelo poder da mente "dormir no corpo de um homem negro africano e acordar no corpo de uma mulher loira e alemã". 
No campo da educação popular, encontramos no trabalho realizado pela ONG Círculo de São Francisco, na cidade de São Carlos/SP, uma tentativa de valorizar e auxiliar no despertar do Homo spiritualis através de diferentes projetos de anima-ação cultural, valorizando a busca espiritual e a ciência, além de respeitar todas as formas de religiosidade, como deve acontecer em um estado laico, no qual o fanatismo e a intolerância cedem lugar para uma cultura de paz.

palavras-chaves:
Homo spiritualis, imaginário, cultura de paz, Mircea Eliade, ONG Círculo de São Francisco. 

terça-feira, 23 de agosto de 2016

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

e-book transformação para autocura

Através da iniciativa de Andréia Lúcia e Danton Roque, vários espiritualistas foram convidados para colaborar na edição do e-book "O propósito universal da existência: transformação para autocura". Participaram do projeto, além dos editores, Samantha Sabel, Ise Mahasati, Victor Rebelo, Wagner Borges e o Programa Homospiritualis, sediado na cidade de São Carlos, através de seu atual coordenador, o professor Adilson Marques.
O livro pode ser acessado através do link:
http://consciencial.org/tudo-gratuito/




domingo, 19 de junho de 2016

A Animagogia e o humanismo católico progressista de Ernani Maria Fiori: alguns diálogos



Adilson Marques - asamar_sc@hotmail.com

A Animagogia é uma proposta de educação espiritualista nascida a partir da tese de doutorado defendida na USP chamada "Nossas lembranças mais pessoais podem vir morar aqui". Ela visa despertar os atributos do espírito na vida cotidiana (Amor, felicidade, equanimidade etc.) e concebe que a transcendência se alcança através do mergulho na vida, na imanência. E ela se fundamenta em autores que também são caros para o pensamento de Fiori, com os filósofos e judeus Martin Buber e Emmanuel Lévinas, o jesuíta  Teilhard de Chardin e o carismático e emblemático educador Paulo Freire.
Com base em algumas passagens do livro Educação e Política (textos escolhidos volume 2), que apresenta a transcrição de aulas e conferência de Ernani Maria Fiori, é possível ter acesso as bases de seu pensamento ou de sua cosmovisão que é identificada pelos organizadores do livro, Otília Beatriz Fiori Arantes e Paulo Eduardo Arantes, como sendo um "humanismo católico progressista", daí adotarmos essa nomenclatura para identificar seu pensamento.
Nas páginas 11 e 12, na apresentação do livro, uma citação dos organizadores ao apresentar a questão da ideologia, já evidencia que ele não foi marxista: "por que muitos de nós, na recente 'guerra de legalidade', chegamos atrasados em relação aos marxistas, aos militantes, que imediatamente tomaram posição? qual foi a superioridade tática e técnica deles em relação à nós, que também pretendíamos defender a legalidade, mas numa outra perspectiva, em nome de outros valores?"  Na página 142, essa frase aparecerá contextualizada na discussão sobre a  ideologia, na qual expõe um outro ponto de vista, definindo a ideologia como ideia-força, como veremos adiante.
E na página 19, no texto intitulado aspectos da reforma universitária, que apresenta a transcrição de uma palestra realizada em 1962, antes de abordar seu conceito de cultura e de universidade, Fiori vai expor com mais detalhe sua cosmovisão. É uma passagem curta, mas que deixa patente o seu referencial . Ele afirma que não é "essencialista" e nem é "existencialista". Em suas palavras, afirma: "em se tratando de homem, não sou nem essencialista, pois não ponho, de maneira absoluta, a essência antes da existência, nem existencialista, ao modo de Sartre, por não admitir que a existência preceda a essência." (p. 19)
Porém, mesmo admitindo que não é essencialista, pois teria que aceitar que haveria um princípio que permaneceria sempre igual a si mesmo, como acontece, em tese, com os adeptos do hinduísmo, o  que não é o caso de Fiori, podemos compreender que sua cosmovisão, como ele mesmo afirma na página 23, sofre influência de dois pensadores espiritualistas evolucionistas:  Teilhard de Chardin e Henry Bergson.  A partir desse esclarecimento, fica mais fácil compreender os fundamentos do humanismo católico progressista de Fiori, que admite a presença de uma essência que se "conquista" através da existência, através da criação da história e da cultura. E, no campo político, deixa evidente na transcrição de sua palestra, a sua opção por um socialismo democrático afirmando que "a socialização deve ser integração personalizante e não despersonalizante, não a socialização que sufoca, abafa e faz morrer a personalidade na pessoa humana, mas, ao contrário, que, pelo adensamento da comunhão humana, propicia as verdadeiras condições de livre afirmação do espírito." (p. 34)
E a questão do espírito é fundamental em sua cosmovisão, tanto que a "libertação" que é um ideologema fundamental no pensamento de Fiori acontece em 3 dimensões que podem ser alienantes: a libertação econômica, a social e a religiosa.
Apesar de não fazer referências a Lévinas, mas a um outro pensador judeu, Martin Buber, podemos encontrar semelhança entre a noção de transcendentalismo proposta por ele e a de Lévinas, conforme exposta em Totalidade e Infinito. Ou seja, ambos não negam a imanência. Fiori afirma: "o Transcendente, embora essencialmente distinto do imanente está presente na imanência das coisas e da História.  E o religioso autêntico não é o que se aliena num transcendente que desconhece o mundo e a História, mas o que, na história do mundo, faz encarnação concreta dos grandes valores que luzem além das fronteiras de sua finitude." (p. 34)
Essa concepção de transcendentalismo que, como salientamos, se aproxima da realizada por Lévinas, para quem a transcendência se processa quando nos abrimos para o mundo, para o outro, faz com que a pedagogia de Fiori seja eminentemente voltada para a "libertação", para a práxis histórica, porém, não em uma perspectiva marxista, uma vez que Fiori propõe uma outra maneira de se pensar a constituição da consciência humana.
Retomando Chardin, Fiori tomara emprestado o conceito de noosfera, ou seja, a "superfície espiritual" que envolve a biosfera e, de forma otimista, aponta que ela possui "amor na origem e na destinação da história" (p. 104). Porém, o homem (encarnado) nunca chegará a realizar-se plenamente.  Pelo menos no que se refere à temporalidade, ou seja, à história.  Outra coisa é a realização espiritual, que na ótica cristã de Fiori, o levará a pensar a política como práxis submissa aos valores morais e espirituais. O contrário disso seria o "politicismo"(p. 139).
O fazer político proposto por Fiori estaria para além das questões pensadas por  Maquiavel e por Kant, pois, a moral do cristão seria o "bem" e não, necessariamente, o "dever". Este seria uma decorrência do primeiro. E, assim, a integração do cristão na sociedade ou seu compromisso com a história é, também, um "compromisso moral" (p. 142).
Como salientamos, a ideologia assume na perspectiva de Fiori um papel importante e se distingue daquela discutida por Marx. Enquanto para este a ideologia é uma forma alienada de existência e que deve ser superada, para Fiori trata-se de uma ideia-força que interfere no processo histórico para interpretá-lo e transformá-lo. Em outras palavras, a interferência na práxis histórica é feita através da ideologia  (p. 166) e não, necessariamente, da filosofia. Esta seria a responsável por um mergulho interior no próprio mistério do ser (p. 166) ou seja, da "energia criadora",  daquilo que "dá consistência aos seres",  do "espírito".
E a partir dessa distinção entre a ideologia e a filosofia, podemos compreender sua noção de trabalho:  a "expressão de uma consciência espiritual transformadora do mundo" (p. 170).
Após essa apresentação sintética de seu pensamento, apoiado pela leitura da transcrição de suas aulas e palestras, vamos  apresentar 3 questões para um diálogo fratriarcal entre seu pensamento e o que identificamos como Animagogia.
A primeira é em relação a essência. De um ponto de vista mais restrito que pensa o essencialismo como a doutrina que defende que a essência permanece inalterada ou que não se transforma apesar dos "acidentes" da existência, concordamos com Fiori e não identificamos a Animagogia como essencialista. Mas, de um ponto de vista mais amplo, entendendo por essencialismo a doutrina que defende que há uma essência que antecede a existência e que pode, inclusive, reencarnar, então a Animagogia é essencialista e se distingue nesse ponto metafísico da proposta de Fiori. Essa questão, porém, não entra em conflito com a questão da transcendência, da práxis e da libertação, sobretudo, a religiosa (que preferimos tratar como espiritual), pois como salientamos, tanto em seu pensamento como nos pressupostos da Animagogia, a transcendência não se alcança fugindo ou se isolando do mundo, mas, ao contrário, na vivência profunda do mundo, na abertura ao outro, na alteridade.
A segunda será em relação à noção de noosfera. Como Fiori, entendemos ela como a dimensão espiritual e, como afirma, amorosa na origem e na destinação da história. Mas, entre a noosfera e a biosfera identificamos na Animagogia uma outra dimensão intermediária que chamamos de psicosfera, ou formada pelas  energias psíquicas como são as emoções e os pensamentos (ideias). Na psicosfera nascem as criações científicas, religiosas, filosóficas, artísticas, entre outras. Porém, a base arquetípica dessas criações está em  uma dimensão "acima", que chamamos de noosfera. Aqui reside o imaginário, no sentido mais profundo, e que é base das ideologias e das criações mentais humanas que se materializam, através do trabalho e da práxis, na biosfera.  E essa posição nos leva, forçosamente, a ter uma diferente concepção de imaginário também. Enquanto para Fiori este é sinônimo de fantasioso (p. 110), vamos partir da perspectiva de Gilbert Durand, próxima da proposta por Jung, e que resulta, inclusive, nesta diferente proposta de noosfera, exposta acima, e na inserção de uma outra, a psicosfera, ou plano das energias psíquicas que, segundo Jung, não se tinha como quantificar (quantizar), apenas sentir suas intensidades e qualificá-las.
E por fim, a terceira questão que colocamos está na libertação. Além das três pensadas por Fiori (econômica, social e religiosa), inserimos, na Animagogia, a libertação ambiental, ou seja, a necessidade de libertar a natureza e a Terra, de forma geral, da opressão humana, de forma que os animais, as plantas e os elementos naturais deixem de serem pensados como recursos, e passem a ter seus direitos à vida garantidos.
O pensamento de Fiori, fundamental no nascimento da teologia da libertação, é tratado com muito respeito na Animagogia, apesar das diferenças expostas acima, o que não impede um diálogo fratriarcal e também uma união na busca por uma sociedade mais justa, participativa e que vivencie, de fato, uma cultura de paz.

FIORI, Ernani Maria. Textos escolhidos volume 2 (Educação e Política). Porto Alegre: LP&M, 1991.


São Carlos, 19 de junho de 2016 - dia de São Romualdo, monge que se interessou pelos problemas de seu tempo, tornando-se conhecido por ser uma pessoa contemplativa, mas também ativa.

quarta-feira, 25 de maio de 2016

I Encontro Umbanda, Cultura de Paz e Educação Popular

Aconteceu entre os dias 16 e 19 de maio, na cidade de Cascais, na região metropolitana de Lisboa, em Portugal, o I encontro Umbanda, Cultura de Paz e Educação Popular. O evento foi organizado por vários terreiros de Portugal com o apoio da ONG Círculo de São Francisco.
No evento, que reuniu 50 pessoas, foi apresentado o trabalho de educação popular mantido pela ONG, em São Carlos, o trabalho de valorização da cultura de paz, através do estímulo à diversidade religiosa no município, e os fundamentos da Espiritologia, que é o uso das técnicas da História Oral para se entrevistar espíritos, que foi utilizada na obtenção de dados para a edição de 3 livros: saúde e espiritualidade, a psicosofia de Lao Tsé, Krishna e Buda e, o mais importante deles, História Oral, Imaginário e Transcendentalismo: mitocrítica dos ensinamentos do espírito pai Joaquim de Aruanda. Os participantes também foram capacitados nas principais técnicas da Terapia Vibracional Integrativa (TVI) e na Apometria, técnica de tratamento psíquico criada pelo médico brasileiro José Lacerda.
O evento marcou também o lançamento de alguns livros em Portugal, como os que formam a coleção Cultura de Paz e Mediunidade e os cadernos de Animagogia, com os exemplares sobre Umbanda e também sobre a TVI.
O evento aqueceu o frio e o vento forte e gelado que estiveram presentes do lado de fora do terreiro nos 4 dias do encontro.
pessoas presentes no último dia do encontro com seus certificados de participação




Adilson Marques, da ONG Círculo de São Francisco e coordenador do Programa Homospiritualis, e Virgina, responsável pelo terreiro de umbanda Ogum Rompe Mato, onde aconteceu o evento.

segunda-feira, 9 de maio de 2016

São Carlos participa da semana nacional das PICs

Comemorando 10 anos da política nacional de Práticas Integrativas e Complementares, os municípios brasileiros foram convidados para organizarem eventos entre os dias 01 e 08 de maio. Nas cidades onde o poder público municipal não realiza nada na área, estimulou-se que a própria comunidade ou entidades do terceiro setor que atuam com o tema fizessem alguma coisa.
Para que a cidade de São Carlos não ficasse de fora, a ONG Círculo de São Francisco, que integra também o Projeto MAPEPS da UFSCar, convocou uma reunião em sua sede para elaborar um evento. Entre os dias 01 e 07 de maio, uma rica programação aconteceu na cidade, com a apresentação da proposta de uma política municipal das PICs, que começou a ser pensada em 2015 e já foi aprovada pelo conselho municipal da saúde, em janeiro deste ano, e diferentes práticas como a constelação familiar, a Yoga tibetana, a massagem tailandesa, práticas japonesas de saúde e também a Terapia Vibracional Integrativa (TVI), uma proposta terapêutica e de anima-ação cultural criada em São Carlos, a partir de uma perspectiva de educação popular em saúde. A TVI une práticas de chi kung, meditação e imposição das mãos, que são ensinadas e difundidas sem misticismo ou elitismo, de forma que possa ser praticada pelos mais diferentes grupos sociais, daí seu ensinamento ser focado, principalmente, para animadores culturais, educadores sociais e comunitários, agentes de saúde e outras pessoas envolvidas diretamente com populações marginalizadas e excluídas, que dificilmente teriam acesso a essas práticas, popularizando-as.
oficina de massagem tailandesa

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Pedagogia da esperança: a amorosidade e a dialogia necessárias


Adilson Marques - doutor em Educação pela USP, pós-doutorando em Educação e professor visitante na UFSCar
"Hoje não há razões para otimismo.
Hoje só é possível ter esperança.
Esperança é o oposto do otimismo.
Otimismo é quando, sendo primavera do lado de fora, nasce a primavera do lado de dentro.
Esperança é quando, sendo seca absoluta do lado de fora, continuam as fontes a borbulhar dentro do coração.
Camus sabia o que era esperança. São suas as palavras: "e no meio do inverno eu descobri que dentro de mim havia um verão invencível".
Otimismo é alegria "por causa de": coisa humana, natural.
Esperança é alegria "a despeito de": coisa divina. 
O otimismo tem suas raízes no tempo.
A esperança tem suas raízes na eternidade. 
O otimismo se alimenta de grandes coisas. Sem elas, ele morre.
A esperança se alimenta de pequenas coisas. Nas pequenas coisas ela floresce. Basta-lhe um morango à beira do abismo.
Hoje, é tudo o que temos: morangos à beira do abismo, alegrias sem razões. A possibilidade da esperança" (Rubens Alves)  

Paulo Freire (1921-1997) apesar do discurso carismático que possuía e de ser frequentemente  venerado por muitos educadores, também foi alvo de severas críticas, sendo acusado tanto de "elitista" como de "populista". Os marxistas criticam sua obra por não afirmar necessariamente que a "luta de classes é o motor da história". Por outro lado, o movimento anti-marxista o critica por fazer "doutrinação comunista", imputando a Paulo Freire a culpa pela falência da educação brasileira, afirmando que o seu método de alfabetização de jovens e adultos seria o responsável pelo alto índice de analfabetismo funcional no país e também de plágio, pois teria se apropriado do método Laubach, sem citar as necessárias fonte. Estas e outras críticas podem ser facilmente encontradas na internet, em sites e blogs que procuram criticar Paulo Freire, sua obra e seu pensamento.
Um dos livros mais comentados, e não necessariamente lidos, é Pedagogia do Oprimido, cuja primeira edição ocorreu em 1970, registrando as experiências de Paulo Freire no Brasil, no Chile e na Europa, além de apresentar as primeiras sistematizações de sua teoria sobre educação popular. Em 1992, porém, publicou a primeira edição de Pedagogia da Esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido, livro no qual expõe uma reflexão autobiográfica e memorialista, ao mesmo tempo crítica e compreensiva, revisitando seus conceitos, pontos de vista e experiências políticas e educativas vivenciadas a partir da década de 1940 e que foram fundamentais para a escrita do livro Pedagogia do Oprimido. Esta revisão tem por base as experiências durante o período de redemocratização do país, com fatos marcantes como o impeachment do presidente Collor e sua passagem como secretário de educação em São Paulo (1989-1991).
Como um ser neótono neg-entrópico, ou seja, aberto para o mundo, lúdico-explorador e permanentemente incompleto e inacabado, Paulo Freire faz uma autocrítica, expondo como superou a linguagem machista do livro anterior, e respondendo a várias das críticas normalmente endereçadas ao seu trabalho.
As críticas recentes à Paulo Freire (a partir de 2012), expostas na internet através de sites e blogs estão associadas diretamente à guinada "conservadora" verificada no Brasil, que tem o partido dos trabalhadores (PT) e todas as pessoas relacionadas a ele, como o bode expiatório do momento, os culpados pela crise política, econômica, social e moral brasileira. E Paulo Freire, apesar de sempre se posicionar contra qualquer forma de autoritarismo ou doutrinação, de esquerda ou de direita, acabou sendo envolvido por tais críticas, quase todas superficiais e facilmente refutadas, como se pode compreender pela leitura do livro Pedagogia da esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido.
Não de forma saudosista, o livro transita pelo contexto em que o livro Pedagogia do oprimido foi escrito, apresentando constantes reavaliações de pontos de vista através de um diálogo entre dois momentos históricos separados por quase 30 anos. Mais do que um estudo comparativo desses dois momentos, o livro expõe o amadurecimento pessoal, político e também como educador de Paulo Freire, mas mantendo um ponto central inabalável: o devotamento à tolerância, a marca profunda de sua vida e pensamento.
Curiosamente, hoje, em 2016, ao lermos o livro Pedagogia da esperança, não parece que já se passaram 24 anos de sua primeira edição. Os fatos políticos atuais lembram muito os de 1992 e também os da década de 1960. E se em 1992 acontecia o impeachment de Collor, hoje vivenciamos o da presidente Dilma. A corrupção, presente na ditadura militar, na década de 1990 e ainda hoje, continua a manchar e a caracterizar a vida pública no Brasil, nos governos de direita ou de esquerda. Os extremismos políticos  voltam a ganhar força diante de mais uma crise econômica e moral, na qual políticos investigados por corrupção tentam cassar uma presidente que supostamente cometeu um crime de responsabilidade fiscal que, até recentemente, era prática administrativa reconhecida pelo Tribunal de Contas da União (TCU), sendo utilizada por presidentes que a antecederam.
Com a crescente intolerância por quem pensa diferente, seja na religião, na política e até mesmo no futebol, nossa frágil democracia parece não ser capaz de se sustentar, deixando pouca margem de atuação para quem se propõe a refletir sobre sonho e utopia, as "armas" que Paulo Freire nos apresenta, envolto em esperança e crença na possibilidade das mudanças pelas quais ele sempre defendeu: a amorosidade nas relações e o diálogo fratriarcal entre todos, respeitando as diferenças. Mas, se está difícil ser otimista, nos resta a esperança que Paulo Freire pensava e a vivenciava como um imperativo existencial e histórico.
E nesse reencontro existencial com a Pedagogia do Oprimido, Paulo Freire relata duas experiências fundamentais para o nascimento de sua teoria e método:
A primeira foi a fala de um operário, na década de 1960 (que não iremos aqui reproduzir, mas que se encontra presente no texto supracitado),.após fazer uma palestra para pais de alunos do SESI, onde trabalhava, abordando o tema da autoridade e da liberdade, enfatizando a questão dos castigos e prêmios na educação. Essa fala foi de fundamental importância para que ele passasse a respeitar a vida concreta das pessoas. Paulo Freire afirma ter jamais esquecido tal fala e que foi sua esposa Elza que o fez compreender a necessidade de entender as pessoas e não apenas ser entendido por elas. Sobre essa questão, ele nos narra:

Nas idas e vindas da fala, na sintaxe operária, na prosódia, nos movimentos do corpo, nas mãos do orador, nas metáforas tão comuns ao discurso popular, ele chamava a atenção do educador ali em frente, sentado, calado, se afundando em sua cadeira, para a necessidade de que, ao fazer o seu discurso ao povo, o educador esteja a par da compreensão do mundo que o povo esteja tendo. Compreensão do mundo que, condicionada pela realidade concreta que em parte a explica, pode começar a mudar através da mudança do concreto. Mais ainda, compreensão do mundo que pode começar a mudar no momento mesmo em que o desvelamento da realidade concreta vai deixando expostas as razões de ser da própria compreensão tida até então.
A mudança da compreensão, de importância fundamental, não significa, porém, ainda, a mudança do concreto.
O fato de jamais haver esquecido a trama em que se deu aquele discurso é significativo. O discurso daquela noite longínqua se vem pondo diante de mim como se fosse um texto escrito, um ensaio que eu devesse constantemente revisitar. Na verdade, ele foi o ponto culminante no aprendizado há muito iniciado – o de que o educador ou a educadora progressista, ainda quando, às vezes, tenha de falar ao povo, deve ir transformando o ao em com o povo. E isso implica o respeito ao "saber de experiência feito” de que sempre falo, somente a partir do qual é possível superá-la. (p. 14)
Essa abertura compreensiva ao outro, respeitando seus pontos de vista, saberes e experiências foi de tal forma interiorizado que passou a ser a essência do trabalho pedagógico proposto por Paulo Freire, que, ao invés de doutrinar ou passar conteúdos, visa valorizar a amorosidade e a dialogia na relação pedagógica.
E essa fala tão paradigmática desse operário se juntou ao sofrimento vivenciado entre os 22 e 29 anos de idade. A superação desse sofrimento existencial se deu quando conseguiu se "distanciar" do problema e meditar sobre o mesmo. Paulo Freire afirma a esse respeito:
Quando o mal-estar era pressentido, eu procurava ver o que havia em torno de mim, procurava roer e relembrar o que ocorrera no dia anterior. Reescutar o que dissera e a quem dissera, o que ouvira e de quem ouvira. Em última análise, comecei a tomar meu mal-estar como objeto de minha curiosidade. "Tornava distância” dele para apreender sua razão de ser. Eu precisava, no fundo, de iluminar a trama em que ele se gerava. (p. 15)

Este sofrimento só foi superado, conta Paulo Freire, após fazer uma "arqueologia" da dor que sentia, voltando ao passado, a Jaboatão, onde nasceu, e reviver sua infância e a morte do pai. Posteriormente, essa superação do sofrimento foi importante também para compreender o problema vivido por muitos exilados que conheceu:
Na verdade, um dos sérios problemas do exilado ou exilada está em como lidar, de corpo inteiro, com sentimentos, desejos, razão, recordação, conhecimentos acumulados, visões do mundo, com a tensão entre o hoje sendo vivido na realidade de empréstimo e o ontem, no seu contexto de origem, de que chegou carregado de marcas fundamentais. No fundo, como preservar sua identidade na relação entre a ocupação indispensável no novo contexto e a pré-ocupação em que o de origem deve constituir-se. Como lidar com a saudade sem permitir que ela vire nostalgia. Como inventar novas formas de viver e de conviver numa cotidianidade estranha, superando assim ou reorientando uma compreensível tendência do exilado ou da exilada de, não podendo deixar de tomar, pelo menos por largo tempo, seu contexto de origem como referência, considerá-la sempre melhor do que o de empréstimo. Às vezes, é melhor mesmo, mas nem sempre o é. (p. 17)

Essa relação entre o Eu e o Outro, tão cara ao discurso fenomenológico e existencial, marca profundamente também o discurso político e pedagógico de Paulo Freire, afastando-o de todo fatalismo, seja o conservador ("Deus quer que seja assim e não se pode fazer nada") ou o de esquerda ("o socialismo é inexorável e vai acontecer, não precisamos fazer nada"). A violência verificada em Pernambuco, tanto em Recife, como no Agreste e também na suposta "liberdade" vivida pelos caiçaras, levou Paulo Freire a compreender que a educação é subjugada pela sociedade global e, a partir dessa perspectiva,  propõe uma pedagogia que não se vincula nem ao voluntarismo de setores da esquerda e nem fica refém do objetivismo mecanicista das pedagogias conservadoras. Enquanto a primeira é uma espécie de "idealismo brigão" e a segunda uma "negação da subjetividade", a proposta de Paulo Freire procura nem atribuir à educação um poder que ela não tem e nem negar qualquer poder a ela. Podemos notar que, a todo momento, Paulo Freire procura fugir de todo e qualquer reducionismo dicotomizador. A mesma lógica aparece quando discute as relações autoridade-liberdade. Para Paulo Freire, ao negar à liberdade o direito de afirmar-se, exacerbamos a autoridade, mas, atrofiando esta, hipertrofiar aquela. Em suma, os dois extremos podem levar à tirania da liberdade ou à tirania da autoridade, ambas nocivas à incipiente e constantemente ameaçada democracia brasileira.
E, ao contrário do que muitos de seus críticos afirmam, a proposta de educação popular proposta por Paulo Freire não foi abraçada por comunistas ou outros grupos de esquerda mais propensos à doutrinação do que à educação. Em 1982, Paulo Freire afirmava sobre a experiência que o levou a propor a pedagogia do oprimido:
Hoje, passados quase trinta anos, se percebe facilmente o que só alguns percebiam e já defendiam na época e eram às vezes considerados sonhadores, utópicos, idealistas, quando não “vendidos aos gringos”. Que só uma política radical, jamais, porém, sectária, buscando a unidade na diversidade das forças progressistas, poderia lutar por uma democracia capaz de fazer frente ao poder e à virulência da direita. Vivia-se, porém, a intolerância, a negação das diferenças. A tolerância não era o que deve ser: a virtude revolucionária que consiste na convivência com os diferentes para que se possa melhor lutar contra os antagônicos. (p. 20)
E, a partir de sua experiência com a educação popular no Chile, através dos "círculos de cultura", Paulo Freire expõe sua divergência com a pedagogia doutrinante, que alguns de seus críticos tentam imputar à sua obra, apontando o que chama de "equívocos" cometidos por intelectuais de esquerda que ignoram o papel da linguagem e que não escapam da "incontenção verbal":
uma das tarefas da educação democrática e popular, da Pedagogia da esperança – a de possibilitar nas classes populares o desenvolvimento de sua linguagem, jamais pelo blablablá autoritário e sectário dos “educadores”, de sua linguagem, que, emergindo da e voltando-se sobre sua realidade, perfile as conjecturas, os desenhos, as antecipações do mundo novo. Está aqui uma das questões centrais da educação popular – a da linguagem como caminho de invenção da cidadania. (p. 20)
A proposta de Paulo Freire de transformar o educando em um "sujeito cognoscente" e não como a "incidência do discurso do educador" é o que transforma o ato de ensinar em uma ação política emancipadora ou libertária que transcende o sectarismo e o fatalismo de esquerda, que tanto incomodava Freire, como nessa passagem elucidativa:

Na verdade, o clima preponderante entre as esquerdas era o do sectarismo que, ao mesmo tempo em que nega a história como possibilidade, gera e proclama uma espécie de “fatalismo libertador”. O socialismo chega necessariamente... por isso é que, se levarmos às últimas consequências a compreensão da história enquanto "fatalismo libertador”, prescindiremos da luta, do empenho para a criação do socialismo democrático, enquanto empreitada histórica. Somem, assim, a ética da luta e a boniteza da briga. Creio, mais do que creio estou convencido, de que nunca necessitamos tanto de posições radicais, no sentido em que entendo radicalidade na Pedagogia do oprimido, quanto hoje. Para superarmos, de um lado, os sectarismos fundados nas verdades universais e únicas; do outro, as acomodações "pragmáticas” aos fatos, como se eles tivessem virado imutáveis, tão ao gosto de posições modernas, os primeiros, e modernistas, as segundas, temos de ser pós-modernamente radicais e utópicos. (p. 27)

A partir da página 34 Paulo Freire começa a revisão do livro pedagogia do oprimido, apontando, entre outros problemas, a linguagem machista que o mesmo trazia, reconhecendo esse "erro" e buscando superá-lo. Mas também questiona a suposta difícil leitura do livro. Sua fala revela que ele não era adepto do estudo sem compromisso, como alguns de seus críticos afirmam. Na passagem abaixo, pode se notar sua enfática defesa do ato de estudar como algo que exige compromisso e dedicação:
Ler um texto é algo mais sério, mais demandante. Ler um texto não é "passear” licenciosamente, pachorrentamente, sobre as palavras. É apreender como se dão às relações entre as palavras na composição do discurso. É tarefa de sujeito crítico, humilde, determinado.
Ler, enquanto estudo, é um processo difícil, até penoso, às vezes, mas sempre prazeroso também. Implica que o(a) leitor(a) se adentre na intimidade do texto para apreender sua mais profunda significação. Quanto mais fazemos este exercício disciplinadamente, vencendo todo desejo de fuga da leitura, tanto mais nos preparamos para tornar futuras leituras menos difíceis.
Ler um texto, sobretudo, exige de quem o faz, estar convencido de que as ideologias não morreram. Por isso mesmo, a de que o texto se acha empapado ou, às vezes nele se acha escondida, não é necessariamente, a de quem vai lê-lo. Daí a necessidade que tem o leitor ou a leitora de uma postura aberta e crítica, radical e não sectária, sem a qual se fecha ao texto e se proíbe de com ele aprender algo porque o texto talvez defenda posições antagônicas às do(a) leitor(a). Às vezes, o que é irônico, as posições são apenas diferentes.
Em muitos casos nem sequer temos lido a autora ou o autor. Temos lido sobre ela ou ele e, sem a ela ou a ele ir, aceitamos as críticas que lhe são feitas. Assumimo-las como nossas. (p. 40)
Para encerrar esta primeira reflexão sobre a atualidade da proposta de Paulo Freire e do equívoco da crítica que tenta impor a Paulo Freire a culpa por uma educação doutrinante ou alienante, podemos citar duas frases exemplares que demonstram que ele apesar de sonhador e progressista, não aceitava o mundo iconoclástico e pasteurizado proposto pelos autoritários de "direita" ou de "esquerda":
O que se exige eticamente de educadoras e educadores progressistas é que, coerentes com seu sonho democrático, respeitem os educandos e jamais, por isso mesmo, os manipulem. (p. 42)


Criticar a arrogância, o autoritarismo de intelectuais de esquerda ou de direita, no fundo, da mesma forma reacionários, que se julgam proprietários, os primeiros, do saber revolucionário, os segundos, do saber conservador; criticar o comportamento de universitários que pretendem conscientizar trabalhadores rurais e urbanos sem com eles se conscientizar também; criticar um indisfarçável ar de messianismo, no fundo ingênuo, de intelectuais que, em nome da libertação das classes trabalhadoras, impõem ou buscam impor a “superioridade” de seu saber acadêmico às "incultas massas”, isto sempre fiz. E disto falei quase exaustivamente na Pedagogia do oprimido. E disto falo agora, com a mesma força, na Pedagogia da esperança. (p. 41)

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Um caso de regressão espontânea tratado com a apometria


Adilson Marques - asamar_sc@hotmail.com

No último sábado, ministrando um curso de Apometria, na cidade de São Carlos, em um determinado momento em que se discutia a questão da regressão de memória, lembrei-me de um atendimento que aconteceu, provavelmente, em 2007.
Estávamos realizando atendimentos quando chegou um casal trazendo uma menina de 12 anos que, em transe, ficava gritando: "Ana! me tira daqui! Ana! me tira daqui!"... tivemos que pedir aos demais consulentes para que permitissem que ela fosse atendida antes dos demais, devido à gravidade do caso. 
Naquela noite, quando a jovem chegou, uma médium estava incorporando um preto-velho e eu perguntei a ele se a menina estava obsediada. Ele disse que não, que ali era um caso de regressão espontânea de memória e me pediu para continuar o processo. Eu perguntei se deveria conduzir com as técnicas da Apometria e ele confirmou.
Com certo receio, cheguei perto da menina e perguntei: "Você pode me dizer onde você está?" E ela respondeu: "estou me afogando na represa."
E comecei a usar a apometria para ajudar no processo estabelecendo com ela um diálogo mais ou menos assim:

_ Eu vou dar um comando para tirar você dessa cena e para você me dizer o que acontece em seguida (e dei os pulsos energéticos).
_ Eu morri e estou sendo levada para um lugar muito bonito
_ Então você foi socorrida? não está mais sofrendo?
_ Não! agora está tudo bem... que lugar bonito...
_ Mas você não pode continuar aí, você precisa reencarnar... vou dar um comando para você acessar como foi sua preparação para o reencarne (e dei novamente os pulsos).
_ Eu preciso voltar, preciso reencarnar. E a Ana, que foi minha prima e que me levou até a represa porque queria me matar é que vai ser a minha mãe na nova encarnação.
_ E você a perdoou?
_ Sim, somos grandes amigas. Eu a perdoei.
_ Ótimo, isso que importa. Então agora eu vou dar um comando para você voltar para o presente, para o aqui e agora (e dei os pulsos).

Gradativamente a menina foi saindo do transe, foi abrindo seus olhos e "despertou" bem e feliz.
A mãe ficou emocionada com a história e abraçou a filha, pedindo perdão pelo que tinha acontecido no passado e que a amava muito.
Felizmente, a menina foi ajudada a resolver um problema espiritual. Se tivesse sido levada a um hospital, provavelmente seria sedada e quem sabe estaria internada em algum hospital psiquiátrico, sendo tratada como esquizofrênica.

São Carlos, 29 de fevereiro de 2016