segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

manifesto pela paz e pela tolerância religiosa - versão aprovada em 27/01/2014

Manifesto pela Paz e pela Tolerância Religiosa em São Carlos




Introdução



Como a educação para uma Cultura de Paz se faz no dia a dia, nas pequenas ações, palavras e pensamentos, propõe-se aqui que os cidadãos de nosso município, de diferentes religiões e credos - a começar pelos que subscrevem este manifesto promovam em sua prática diária a Cultura de Paz e a Liberdade Religiosa, realçando estes princípios por meio do diálogo com seus pares, familiares e amigos, bem como dando o exemplo em sua atitude, divulgando assim as reflexões deste Fórum Permanente de Educação, Cultura de Paz e Tolerância religiosa, realizado entre os dias 21 e 30 de janeiro de 2014.
O Fórum não visa constituir um movimento ecumênico e nem de diálogo inter-religioso, mas garantir a Liberdade Religiosa como um Direito Humano, valorizando a laicidade do Estado democrático, valorizando e respeitando todas as crenças, inclusive a opção de não ter nenhuma. 
O Manifesto pela Paz e pela Tolerância elaborado em 2011 e ampliado em 2013, foi discutido por 39 pessoas, de diferentes religiões e ateus e nesta nova versão, duas propostas foram aprovadas, enriquecendo-o ainda mais.

As propostas aprovadas neste Fórum, que compõem o Manifesto pela Paz e pela Tolerância Religiosa em São Carlos e serão divulgadas à sociedade civil e ao poder público, são as seguintes:


1 – A criação do Conselho Municipal da Diversidade Religiosa

A existência de um Conselho Municipal da Diversidade Religiosa será um importante instrumento para a consolidação do Estado Laico e da garantia da liberdade de expressão religiosa, coordenando a discussão e sugerindo políticas públicas voltadas para garantir a Liberdade Religiosa no município, recebendo e encaminhando para averiguação denúncias de Intolerância Religiosa e criando projetos de educação e cultura que estimulem a Tolerância Religiosa.  Isto deve-se ao fato de sabermos que, infelizmente,  ainda ocorrem casos graves de intolerância religiosa em nosso município. Alguns destes casos chegam até nós em relatos preocupantes.
O conselho atuaria como braço direito do Comitê Nacional da Diversidade Religiosa, no plano municipal, contribuindo para a implementação das várias ações sugeridas por tal comitê, entre elas:

a) Instituir mecanismos que assegurem o livre exercício das diversas práticas religiosas, assegurando a proteção do seu espaço físico e coibindo manifestações de intolerância religiosa.
b) Promover campanhas de divulgação sobre a diversidade religiosa para disseminar cultura da paz e de respeito às diferentes crenças.
d) Estabelecer o ensino da diversidade e história das religiões, inclusive as derivadas de matriz africana, na rede pública de ensino, com ênfase no reconhecimento das diferenças culturais, promoção da tolerância e na afirmação da laicidade do Estado.
e) Realizar pesquisas populacionais relativas a práticas religiosas, que contenha, entre outras, informações sobre número de religiões praticadas, proporção de pessoas distribuídas entre as religiões, proporção de pessoas que já trocaram de religião, número de pessoas religiosas não praticantes e número de pessoas sem religião.


2 – Implantação de um projeto de educação interdisciplinar que valorize a diversidade religiosa e estimule o respeito e a tolerância religiosa, sem finalidade doutrinária ou proselitismo, nas redes públicas e particular de ensino

Este Fórum propõe um projeto de educação interdisciplinar que estimule a Liberdade e a Tolerância Religiosa. O ensino laico da história das religiões, incluindo as de raízes africanas, indígenas e orientais, contribuirá para diminuir o desconhecimento dos alunos sobre os temas, e com isso evitar sentimentos de aversão e de intolerância. Este manifesto, redigido em 2014, ratifica a necessidade de elaboração de um projeto educativo e cultural, que valorize a Diversidade Religiosa através de eventos socioculturais e educativos que estimulem nas crianças e demais educandos a Tolerância Religiosa como um dever ético e a Liberdade Religiosa como um Direito Humano. 
O projeto pode ser realizado com uma cartilha contendo as principais leis brasileiras que garantem a Liberdade Religiosa e também questões filosóficas relacionadas à Tolerância Religiosa e à Cultura de Paz, que seria entregue nas escolas junto com a apresentação de peças teatrais, exibição de filmes, apresentações musicais e outras atividades artísticas, assim como palestras e bate-papos informais com alunos e professores. O Programa Homospiritualis coloca-se desde já à disposição para colaborar na elaboração deste projeto junto às secretarias municipais de educação e de cidadania, que poderiam atuar juntas para alcançar este objetivo.


3 – Criação de um curso de Ciências da Religião em uma das Universidades públicas da cidade (UFSCAR, USP) ou em uma Instituição de Ensino Superior da rede particular (UNICEP), na modalidade presencial e/ou a distância e/ou programas de pós-graduação (lato sensu e stricto sensu) em Ciências da Religião
Este manifesto propõe que a cidade deveria sediar cursos de capacitação de professores para atuar com o tema Diversidade Religios na escola, dentro da perspectiva da Cultura de Paz e da promoção do Estado Laico. Estes cursos podem ser de licenciatura ou de pós-graduação (lato sensu e stricto sensu).
Recentemente foi criada na cidade de Manaus/AM a Rede Nacional de Licenciaturas em Ciências das Religiões pelo Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso – FONAPER. Esse movimento de defesa do Estado Laico e da Diversidade Religiosa através da educação cresce a cada ano e São Carlos não pode permanecer a parte deste processo, uma vez que tem duas grandes Universidades públicas e Instituições particulares de ensino superior. Em 2014, A FONAPER se reuniu em Florianópolis, no dia 21 de janeiro, e tirou uma carta muito significativa, que reproduzimos abaixo, e com a qual concordamos, inserindo-a neste manifesto:

CARTA PELA DIVERSIDADE -
DIA NACIONAL DE COMBATE À INTOLERÂNCIA RELIGIOSA

“Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidas nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, idioma, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.”
(Declaração Universal dos Direitos Humanos, 1948)

“... E digo-lhes hoje, meus amigos, que embora enfrentemos as dificuldades de hoje e de amanhã, ainda tenho um sonho”.
                                                                                             (Martin Luther King)    

O Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso (FONAPER), reunida a sua coordenação nacional na cidade de Florianópolis neste Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, 21 de janeiro de 2014, em parceria com o Grupo Videlicet Religiões, da Pós-Graduação em Ciências das Religiões da Universidade Federal da Paraíba (PPGCR/UFPB) e em consonância com aqueles que atuam pela Diversidade Religiosa em todas as religiões e com intelectuais engajados e cidadãos brasileiros conscientes nas diferentes regiões do país, VEM saudar mais uma vez esta data como muito bem vinda para a democracia e para o Estado laico e de direito. Ressaltamos também o nosso acompanhamento permanente do trabalho dos que buscam consolidar a Semana Mundial da Harmonia entre as Religiões, da ONU. Estas duas datas se coadunam com alguns dos nossos preceitos fonaperianos fundamentais de defesa do componente curricular Ensino Religioso laico e de caráter científico, numa perspectiva intercultural.
 A vida democrática avança no Brasil desde a superação do ordenamento golpista e ditatorial que prevaleceu entre 1964 e 1985. Neste avanço consolidador e ampliador da democracia, a recente presença cada vez maior da Intolerância Religiosa e dos posicionamentos religiosos fundamentalistas com claras intenções políticas e sociais de hegemonização da vida brasileira representam um paradoxo.
 Nenhuma sociedade pode substancialmente ser democrática se não há o respeito aos credos religiosos, à perfeita harmonia cívica entre as religiões com um vigoroso NÃO a toda e qualquer forma de Intolerância Religiosa, parta de onde partir!
 Diante deste contexto,
 CONSIDERAMOS que é antropologicamente salutar a prática religiosa de qualquer matriz, o que reafirma a liberdade de expressão religiosa, sendo, porém, tremendamente danosas à cidadania as ações e ideias referentes à Intolerância Religiosa que percebemos no mundo e, principalmente, na sociedade brasileira nas últimas décadas;
 CONSIDERAMOS que é dever da cidadania zelar pela garantia da expressão religiosa nos espaços consagrados consignados socialmente para tal – ressalvado o direito ao livre debate de ideias em outros espaços – devendo ficar livre a religião de uma outra forma de Intolerância, a Laicista, que se difere da Laicidade por propugnar equivocadamente a superação e o controle da religião pelo Estado, como um dever e até um direito deste... Ao mesmo tempo, repudiamos a Intolerância Religiosa, diferenciando-a das cosmogonias e das suas respectivas espiritualidades, fenomenologicamente situadas na dimensão analética da vida, por sabermos que combater a Intolerância Religiosa não é combater as religiões em si;
 CONSIDERAMOS também, por conseguinte, que ninguém pode ser difamado por ter ou não ter um credo religioso e que isto não é critério para o exercício da vida pública; que não se deve instrumentalizar a religião ou a inexistência dela para difamar ou denegrir quem quer que seja;
 CONSIDERAMOS, enquanto exemplos, ser necessária a convivência em paz e com respeito mútuo entre (neo)pentecostais, renovados carismáticos e indígenas,  membros da jurema, da umbanda, do (neo)paganismo e do candomblé; como também entre católicos, evangélicos e espíritas; entre Judeus, Cristãos e Muçulmanos ou entre ateus, agnósticos e crentes;
 CONSIDERAMOS que os passos e os espaços de hoje são basilares para uma futura Lei Nacional da Liberdade e da Diversidade Religiosa, que possa estabelecer critérios para a conceituação detalhada e a implementação eficiente de normas para as instituições públicas e privadas;
 CONSIDERAMOS, enfim, a pertinência da afirmativa do filósofo alemão Jürgen Habermas: “O direito fundamental de liberdade de consciência e de religião constitui a resposta política adequada aos desafios do pluralismo religioso”.
 Partindo, então, destas considerações válidas, nos irmanamos aos que lutam pela criação de Comitês Estaduais e Municipais da Diversidade Religiosa em todo o país, conforme disposto no Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH 3), tendo como referência o Comitê já criado em nível nacional pela SDH/Presidência da República desde novembro de 2011. Dispomo-nos a representar ou apoiar a presença em tais comitês de militantes do Ensino Religioso, vetor essencial da formação do cidadão para uma Cultura de Paz entre as religiões, como preconizam a Constituição Federal e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) vigentes. Enfatizamos a importância e a necessidade da elaboração de Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação (inicial e continuada) de professores de Ensino Religioso com a finalidade de contribuir para a cidadania diante das diversidades.
 Acreditamos, enfim, que esta justa pretensão modernizadora da vida nacional na criação dos referidos comitês e na efetivação do Ensino Religioso laico, possa se consolidar, ampliando as conquistas democráticas, o respeito à pessoa humana e à liberdade de expressão e às organizações e vivências religiosas e não religiosas.
 Florianópolis, 21 de janeiro de 2014.
Coordenações do FONAPER e do VIDELICET


4 – Criação do Parque Municipal da Cultura de Paz 
A cidade de São Carlos tem estrutura para criar um parque público onde seja possível a realização de eventos que trabalhem com os seis valores que, segundo a UNESCO, formam a Cultura de Paz,  servindo também de local de lazer para a comunidade e visitação de turistas. Entre os eventos que poderiam ser sediados no local estão, por exemplo, o Wesak, que comemora o nascimento de Buda; o Yoga para a paz, um evento mundial que acontece em várias cidades. No parque podería-se ter apresentações de grupos musicais evangélicos, exposição de pinturas mediúnicas e outras atividades culturais que valorizassem a Diversidade Religiosa. O local poderia ter áreas temáticas como, por exemplo, um “Jardim dos Orixás”, um local para visitação e também para oferendas por parte dos adeptos dos cultos afro-brasileiros; o “Jardim de meditação”, com estética oriental para contemplação e prática de atividades como meditação, yoga, tai chi chuan etc.; uma “praça da Bíblia” com mensagens retiradas deste livro sagrado da tradição judaico-cristã; a “oca cultural” para realização de eventos que valorizem a diversidade das culturas indígenas brasileiras etc.
O parque poderia contar com um pequeno teatro de arena onde grupos poderiam contar histórias espiritualistas das mais diferentes tradições religiosas e étnicas, grupos musicais poderiam apresentar suas composições, entoar cantos devocionais etc.; peças de teatro e outras manifestações artísticas que valorizam a Diversidade Religiosa e o respeito mútuo também poderiam ser apresentadas no local.
Esse parque poderia, também, sediar anualmente o Fórum Permanente de Educação, Cultura de paz e Tolerância Religiosa, assim como o Encontro Homospiritualis de Educação e Cultura para a Paz, tendo em vista que, desde 2001, o Programa Homospiritualis encontra dificuldades para organizá-los, pela ausência de um espaço público que, de fato, valorize a Cultura de Paz e seja receptivo a propostas culturais e educativas voltadas para a valorização e garantia de um Estado Laico. Sempre que possível, os eventos são realizados em espaços laicos, evitando a realização dos mesmos em espaços religiosos.
Este manifesto sugere um local para o Parque Municipal da Paz: o "parque do Bicão". Ele poderia sediar as atividades dos eventos acima, ser a sede do Conselho Municipal da Diversidade Religiosa e também do Centro Municipal de Cultura de Paz e Direitos Humanos (proposta 6).

  
5 – Oficialização dos dois eventos, que passariam a ser organizados pelo poder público municipal

Este manifesto reafirma a necessidade da oficialização dos eventos Encontro Homospiritualis de Educação e Cultura para a Paz e Fórum Permanente de Educação, Cultura de Paz e Tolerância Religiosa. Os mesmos poderiam ser organizados pela Secretaria Municipal de Educação em parceria com a Secretaria Municipal de Cidadania e com a Coordenadoria Municipal de Cultura, além de organizações da sociedade civil, religiosas ou não.
Com as dificuldades que o Programa Homospiritualis enfrenta para organizar tais eventos, estes só acontecem graças ao esforço de algumas pessoas que acreditam na necessidade de garantir o Estado Laico e a Liberdade Religiosa. Em São Carlos, a Liberdade Religiosa, esse importante tema no âmbito dos Direitos Humanos, ainda não recebe a atenção devida, ao contrário de outros municípios que possuem fóruns ou outros mecanismos, onde o poder público participa ativamente para garantir e difundir essas ideias. Mas não podemos deixar de agradecer o esforço, em 2014, da Amai-vos - Fundo Social de Solidariedade e da Coordenadoria Municipal de Cultura na realização do 5º fórum.
Havendo um Conselho Municipal da Diversidade Religiosa, este passaria a coordenar os eventos acima citados, um deles podendo ser simultâneo com a Conferência Municipal da Diversidade Religiosa.
É importante salientar as diferenças entre os dois eventos. O encontro de outubro visa favorecer, entre outros objetivos, o estabelecimento de um diálogo inter-religioso na cidade, através de palestras, oficinas, cursos etc. Coloca em prática o 4º valor do Manifesto 2000: “ouvir para compreender”. Por sua vez, o Fórum se coloca como um evento de cunho político, voltado para a valorização do Estado Laico e para a promoção da Diversidade e da Liberdade Religiosa como um Direito Humano fundamental. Ele visa discutir e propor políticas públicas que estimulem a Tolerância Religiosa no município.
E este manifesto, aprovado em 2014, apresenta duas novas propostas, complementares às anteriores. 



              6 - Criação de um Centro Municipal de Cultura de Paz e Direitos Humanos 

Com a finalidade de realizar programas culturais e educativos focando a Liberdade Religiosa e os demais Direitos Humanos, São Carlos necessita de um Centro Municipal de Cultura de Paz e Direitos Humanos. Ele poderia iniciar suas atividades no Parque do Bicão. 


          7 – Compor um Grupo de Trabalho para refletir sobre a laicização dos espaços públicos e estimular a Cultura de Paz

Este Grupo de Trabalho pretende se reunir pelo menos uma vez por mês, a partir de fevereiro, organizando um calendário e uma pauta para o ano de 2014.


Considerações finais

A Constituição da República Federativa do Brasil garante a inviolabilidade da liberdade de consciência e de crença, assegurando o livre exercício dos cultos religiosos e garantindo, na forma da lei, proteção aos locais de culto e de suas liturgias. Além disso, temos outras leis e recomendações, tais como: a Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, (atualizada pela a Lei nº 9.459, de 13 de maio de 1997, acrescentando parágrafo no art. 140 do Decreto-Lei n º2.848, de 7 de dezembro de 1940) dispõe que “serão punidos, na forma desta Lei os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”; a Lei nº11.635, de 27 de dezembro de 2007, que institui o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa; o Decreto nº 7.037, de 21 de Dezembro de 2009 (atualizado pelo Decreto 7.177, de 12 de maio de 2010) instituindo o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3); a Recomendação nº 010, de 20 de abril de 2012, da Plenária do Conselho Nacional de Segurança Pública (CONASP/MJ) a qual: “Recomenda que nos Boletins de Ocorrência, Termos Circunstanciados ou similares pelos órgãos de Segurança Pública, seja incluído campo ou espaço obrigatório onde possa identificar ou relacionar o crime perpetrado ou investigado com a motivação ou conotação de intolerância religiosa”.
Além disso, a laicidade do Estado é garantida quando se compreende que existem diferentes grupos religiosos e que é função do Estado Laico agir como mediador de conflitos, garantindo a plena liberdade de expressão religiosa, inclusive a de não ter religião nenhuma, já que a laicidade do Estado não se contrapõe à religião, mas tem o dever de assegurar a pluralidade religiosa. O Estado não tem sentimento religioso e, sendo laico, não deve estabelecer preferências ou privilégios a alguma religião, mas deve garantir que todas as religiões possam conviver em igualdade, e que as escolhas individuais sejam respeitadas para que ninguém seja perseguido ou discriminado por sua crença, mantendo sua imparcialidade em relação às religiões.
As sete propostas acima, aprovadas em consenso pelos participantes do 5º encontro do Fórum Permanente de Educação, Cultura de Paz e Tolerância Religiosa, serão levadas para conhecimento da nova administração municipal, que assumiu em janeiro de 2013, sendo este manifesto encaminhado para o gabinete do prefeito, para as secretarias de educação e de cidadania e também para a coordenação de cultura do município. Ele também será encaminhado para o presidente da câmara municipal e para os principais meios de comunicação do município e entidades de defesa dos direitos humanos existentes na cidade. São propostas que podem ajudar a tornar a cidade de São Carlos uma referência nacional na defesa e promoção da diversidade religiosa.


São Carlos, 27 de Janeiro de 2014.


anexo

              HISTÓRICO

Em setembro do ano 2000 foi criado, em São Carlos/SP, o Programa Homospiritualis para difundir a Cultura de Paz e ajudar na promoção da Tolerância Religiosa em São Carlos. Sem vínculos com partidos políticos ou religiões, foi criado por pessoas oriundas das mais diferentes religiões, filosofias espiritualistas e, inclusive, ateus, para defender o Estado laico. A partir de 2001, o projeto passou a organizar o Encontro Homospiritualis de Educação e Cultura para a Paz. Esse evento acontece, sempre que possível, em Outubro, inspirado em Francisco de Assis, um ícone da cultura de paz, da sustentabilidade e do respeito à diversidade religiosa. O evento tem por meta dar mais visibilidade ao principio 4 do manifesto 2000 da UNESCO: “ouvir para compreender”. Dessa forma, o Encontro vem, gradativamente, ajudando a estabelecer, entre outros objetivos, um diálogo inter-religioso na cidade, favorecendo a difusão da tolerância e o respeito à diversidade religiosa.
Mesmo assim, em 2010, o Programa Homospiritualis passou a organizar, no dia 21 de janeiro, outro evento: o Fórum Permanente de Educação, Cultura de Paz e Tolerância Religiosa. O dia 21 de janeiro é considerado, desde 2007, como o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, devido à morte da sacerdotisa Mãe Gilda de Ogum. Em função da necessidade de ter um evento focando especificamente na questão da Tolerância Religiosa, compreendendo que a Educação e a Cultura tem um papel fundamental neste processo, foi criado o fórum que se reúne de 21 a 30 de janeiro, considerado mundialmente o Dia da não-violência, por ter sido no dia 30 de Janeiro de 1948 o assassinato de Mahatma Gandhi, na Índia.
Assim, ao contrário do Encontro Homospiritualis, o Fórum visa ser um movimento de cunho político, educativo e cultural, capaz de refletir e apresentar propostas que possam ser  encaminhadas para avaliação da sociedade civil e do poder público, visando a implantação de políticas públicas que valorizem a Tolerância Religiosa e a consolidação do Estado Laico, que não é um Estado que combate as religiões, mas sim que garante a Liberdade Religiosa.
No encerramento do Fórum, em 2010, foi aprovado um documento com as seguintes sugestões:
1 – criação no município de São Carlos do conselho municipal da diversidade religiosa;
2 – implantação no município do ensino religioso facultativo, na forma de uma disciplina sem cunho proselitista ou doutrinário, valorizando a história e a filosofia das religiões, pautando-se nas pesquisas realizadas no âmbito das Ciências das Religiões, área acadêmica que vem se consolidando no país.
Infelizmente, no triênio 2010/2012, não foi possível avançar e nenhuma das duas propostas saiu do papel. Mesmo assim, é importante manifestar nossa gratidão ao ex-vereador Robertinho Mori (PV) que se sensibilizou com essa causa e, em 2012, com sua equipe de assessores, elaborou o projeto de lei propondo a Criação do Conselho Municipal da Diversidade Religiosa.
Em 2012, por seis votos a cinco, a proposta foi derrotada. Porém, acreditamos que se faz necessária a criação do conselho e que o mesmo tem importante papel atuando como instrumento democrático na consolidação da laicidade do Estado e, consequentemente, garantindo a liberdade de expressão religiosa no município de São Carlos, atuando não só no recebimento de denúncias de casos de intolerância religiosa, como ajudando a promover a tolerância através de programas educativos e culturais.
Por sua vez, no 4º Fórum Permanente de Educação, Cultura de Paz e Tolerância Religiosa, realizado em 2013, a proposta número 2, apresentada acima,  foi transformada em um projeto educativo interdisciplinar de valorização da diversidade e da tolerância religiosa e outras propostas foram aprovadas, totalizando cinco. E no 5º Fórum Permanente de Educação, Cultura de Paz e Tolerância Religiosa, realizado entre os dias 21 e 30 de janeiro de 2014, o Programa Homospiritualis fez uma homenagem ao advogado Flavio Lazzarotto, que foi candidato a prefeito em 2012 pelo PSOL. Ele foi escolhido para ser homenageado este ano por ter sido o único candidato que respondeu o questionário com 25 questões abordando as propostas que estão no manifesto acima e outras relacionadas à liberdade religiosa e duas novas propostas foram inseridas no manifesto.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

A alma andarilha em busca de luz e amor

Um olhar superficial da vida dos moradores de rua nos leva a ver apenas violência, rebeldia e desorientação... porém, estas formas de defesa escondem uma alma sedenta de luz e amor. Nos interfluxos da loucura se manifesta a fé vacilante, a espiritualidade sem orientação e uma busca desenfreada por uma vida plena de sentido.
A prostituição acaba se firmando como alternativa de vida. O machismo se torna uma forma de sobrevivência em um mundo insensível. E a morte parece ser a única forma  de por um ponto final nas terríveis dores, que não são necessariamente físicas.

Através das narrativas de três moradores de rua, o grupo de Teatro Preto no Branco, de São Carlos/SP, nos coloca em contato com a alma dos andarilhos e com a paradoxal relação de corpos repelentes e suas almas em busca do único lenitivo capaz de eliminar a dor e o sofrimento: o amor.

A atuação destes jovens atores emociona pela sensibilidade e capacidade dramática. Um espetáculo para ver e rever, pensar e se transformar, através de um mergulho para dentro das sombras que todos nós trazemos em nosso interior.

O espetáculo "Ao revés do papel?" foi apresentado nesta sexta-feira, na Fundação Educacional São Carlos (FESC), dentro da programação cultural do quinto encontro do Fórum Permanente de Educação, Cultura de Paz e Tolerância Religiosa.

 O Grupo de Teatro Preto no Branco é formado por Nadia Stevanato, Bruno Garbuio e Ana Garbuio. A direção é de Fernando Cruz.

O grupo tem um blog que pode ser acessado através do seguinte link: http://grupopb.blogspot.com.br/