Opiniões


O estado laico e a cultura religiosa
 Adilson Marques
Religião é cultura e o estado laico tem a obrigação de garantir a liberdade de expressão religiosa. Mas como fica a questão do financiamento público de espetáculos culturais eminentemente religiosos ou voltados para proselitismo ou evangelização?
Cada grupo religioso tem as suas festas: a paixão de Cristo para uns, o WesaK (que comemora o nascimento de Buda) para outros, e assim por diante. E é legitimo que o poder público de suporte logístico para que cada comunidade religiosa possa comemorar seus eventos, até mesmo garantindo um local público para a realização de espetáculos culturais relacionados a essas festas, mas a produção do mesmo deve ficar a cargo da própria comunidade religiosa que vai buscar patrocínio de empresas, doações dos próprios fieis e outras formas de captação de recursos materiais para a montagem do espetáculo ou da festa.
O uso de dinheiro público para financiar um evento cultural religioso fere o princípio básico do estado laico que é o de ser neutro em relação à religião, não apoiando e nem se opondo a nenhuma delas.
No Brasil, apesar da constituição federal apontar que o país é laico, na prática estamos longe disso. A relação com o catolicismo ainda é forte e pode ser visualizada em coisas aparentemente banais como expressão religiosa em cédulas ou símbolos religiosos em prédios públicos.
Essa relação com o catolicismo é tão forte que estas pequenas violações do estado laico são vistas com naturalidade no cotidiano e se espalham pelo campo cultural de forma que achamos normal o poder público financiar festas juninas (onde se comemoram santos católicos), enfeitar a cidade para o Natal (onde se comemora o nascimento de Jesus) e patrocinar espetáculos como a Paixão de Cristo (onde se comemora sua provável ressurreição).
Claro que muitas vezes o poder público ao patrocinar estes eventos está pensando apenas em questões profanas como atrair turistas para a cidade, movimentar o comércio etc., e não em doutrinar ou evangelizar a população. Mas o fato é que são festas eminentemente religiosas e não há motivo para o poder público patrociná-las.
E, curiosamente, podemos usar uma expressão religiosa para defender a manutenção do “estado laico”: a famosa frase atribuída a Jesus sobre os impostos romanos “Daí, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”.  
Que religião e estado não se misturem. Eles podem andar de mãos dadas para eliminar a pobreza, as injustiças sociais, o desequilíbrio ambiental etc., mas devem sempre respeitar o direito de cada um escolher sua crença religiosa ou até mesmo não ter nenhuma, optando em ser ateu ou agnóstico, por exemplo, já que não vivemos mais em um estado teocrático.
E já que se têm recursos para financiar festas religiosas, não seria mais adequado que estes fossem  utilizados para um fim realmente laico, promovendo o respeito e a tolerância religiosa no Brasil, deixando as festas para a iniciativa privada e para a própria comunidade religiosa organizar?

São Carlos, 22 de fevereiro de 2013

Um encontro iluminado com Adalberto Quirino
Adilson Marques
com Adalberto Quirino na porta de sua casa
 Tenho absoluta certeza que nenhum turista que visita Natal/RN vai passear por Felipe Camarão, um dos bairros mais violentos da cidade e apelidado pelos moradores de a "Rocinha" do Rio Grande no Norte. Porém, é neste bairro que reside um poeta potiguar de rara sensibilidade, que nas pistas de Quíron, o centauro curador que, na mitologia grega, aprendeu a compreender e a tratar a dor alheia a partir de sua própria, leva consolo e paz interior através de seus poemas e palestras.
Adalberto Quirino autografando seu livro
Há algum tempo venho ouvindo falar desse poeta-palestrante. E, ontem, dia 06 de fevereiro de 2013, tive a oportunidade de sair do aconchego de Pium, bairro que agrega muitos espaços alternativos e holísticos na cidade de Parnamirim, no Rio Grande do Norte, para me dirigir até Felipe Camarão, na periferia de Natal, para conhecer e me encantar com a aura iluminada de Adalberto Quirino.
Trocamos livros, demos risada da vida e, como acontece com muita frequência, tive a impressão que naquele momento Deus nos proporcionava um reencontro.
De seus inúmeros poemas, escolhi um para aqui reproduzir, por trazer a luz e a paz franciscana de forma tão meiga e pura:

Com seu irmão que sempre o acompanha
BOM DIA!

Pai, obrigado por mais um dia
pelo sol que me irradia,
pelo vento que me acalanta
pelas rosas que o perfume imanta.

As belas árvores que dão da sombra à fruta,
ao pobre homem de seiva bruta,
que a terra o sustenta,
obrigado pelo grão que me alimenta.

Pela água que mata a sede,
que cria o peixe que cai na rede,
agradeço-Te pela natureza,
com toda sua beleza.

Pelo ar que respiro,
ao abrir os olhos num suspiro,
me faz caminhar em gratidão,
no Teu ensinamento, senhor da consolação.

São Carlos, 07 de fevereiro de 2013

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