segunda-feira, 16 de novembro de 2015

projeto para implantação das PICS em São Carlos será apresentado em NATAL‏



No dia 28 de novembro, dentro da programação do Fórum Potiguar de Práticas Integrativas e Complementares na Saúde, Adilson Marques, professor da FESC e ex-coordenador da ONG Círculo de São Francisco, foi convidado para integrar uma mesa redonda sobre experiências para implantação das Práticas Integrativas e Complementares (PICs) na saúde pública. Adilson Marques abordará a experiência de São Carlos para implantar as PICs no SUS. A experiência de São Carlos foi considerada inédita no Brasil, por representantes do Ministério da Saúde que estiveram na cidade, no mês de setembro, uma vez que procura integrar duas políticas nacionais: a das PICs, de 2006, e a da Educação Popular e Saúde (EPS), de 2013. 
Em setembro de 2015, um fórum foi realizado na cidade de São Carlos, na FESC Vila Nery, com a participação de representantes do Ministério da Saúde, da Prefeitura Municipal, de ONGs, da UFSCar, do Conselho Municipal da Saúde, de servidores da saúde, entre outros interessados. No encerramento, o fórum elegeu uma comissão responsável por elaborar um plano municipal, integrando as duas políticas nacionais. Em novembro o documento foi concluído e será repassado para análise do Conselho Municipal da Saúde e também para a Prefeitura Municipal.
Em São Carlos, a ONG Círculo de São Francisco mantém, desde 2003, o centro de referência comunitária em tratamentos naturais, complementares, integrativos e populares, que visa o atendimento gratuito da comunidade com diferentes atividades, entre elas, yoga, meditação, dança, constelação familiar e a TVI, uma técnica bioenergética laica e popular criada em São Carlos, entre os anos de 2001 e 2003, similar ao reiki, à cura prânica e outras técnicas de imposição das mãos. Todo o trabalho é feito por voluntários. 
E há vários anos a ONG tenta levar essa experiência para o sistema público de saúde, sem sucesso. Porém, no início de 2015, com o apoio do vereador Zé do Mato (PSDB), autor da lei para implantar a fitoterapia no SUS e que criou a semana da fitoterapia no município, e de suas assessoras, nasceu o projeto do fórum e a discussão para se criar um lei para implantar as PICs e a EPS na cidade de São Carlos. 


reunião no dia 08 de junho que definiu a programação do fórum





grupo de trabalho durante o fórum






grupo de trabalho durante o fórum


palestra sobre fosfoetanolamina com prof. Gilberto Chierici

sábado, 7 de novembro de 2015

Emmanuel Levinas (1906-1995): um sonho hermesiano em uma realidade prometéica

Emmanuel Levinas (1906-1995): um sonho hermesiano em uma realidade prometéica

Adilson Marques - pós-doutorando no departamento de metodologia de ensino da UFSCar
contato: asamar_sc@hotmail.com        
               
                Meu primeiro contato com a obra e o pensamento de Levinas aconteceu entre os anos de 1992 e 1996, durante a realização do mestrado, na FEUSP, sob a orientação da prof. Dra. Roseli Fischmann, que atuava, na época, com educação comunitária e multicultural, e também militava em defesa do estado laico e da diversidade religiosa. A obra de Levinas, com suas reflexões sobre a  alteridade e o respeito ao Outro (ao diferente) fazia parte de seu referencial teórico, que incluía também Martin Buber, Alfred Schutz e outros pensadores.
                Levinas costuma ser chamado de filósofo judeu, mas ele gostava de afirmar que era filósofo e judeu. Porém, é indiscutível a forte presença da religiosidade judaica em seu pensamento, o que talvez explique o motivo de sua obra ser muito mais discutida no ambiente da teologia do que, propriamente, na filosofia.
                Sua obra é classificada dentro da tradição fenomenológica. Levinas foi o primeiro a traduzir a obra de Husserl e de Heidegger para o francês. Porém, com o advento do nazismo e após ser preso em um campo de trabalho forçado na Alemanha, Levinas elabora sua crítica à ontologia de Heidegger e passa a se dedicar à ética, que chama de "filosofia primeira", elaborando seu pensamento em defesa do respeito ao Outro e do valor fundamental da alteridade e da transcendência.  
                Totalidade e infinito (1961) é considerada como sua principal obra, na qual deixa evidente sua crítica à busca por um saber absoluto e totalizante na filosofia ocidental (dos gregos aos alemães) e apresenta sua reflexão sobre o infinito, aprofundando, inclusive, sua reflexão sobre espiritualidade e postulando que a alma pode existir antes da encarnação e continuar existindo após a morte. No prefácio do livro (p. 13) afirma: “Este livro se apresenta como uma defesa da subjetividade, mas ele não a captará no nível de seu protesto puramente egoísta contra a totalidade, nem em sua angústia diante da morte, mas como fundada na ideia do infinito. Avançará distinguindo entre a ideia de totalidade e a ideia de infinito e afirmando o primado da ideia do infinito. Vai descrever como o infinito se produz na relação do Mesmo com o Outro e como, inultrapassável como é, o particular e o pessoal magnetizam de algum modo o próprio campo em que se verifica a produção do infinito."
                Para Levinas, o pensamento do ser, ou seja, a ontologia, conforme Heidegger a considerou, além de ser um pensamento excludente, seria perigoso por defender o privilégio da razão e se mostrar pretensamente neutro, quando estaria a serviço da identidade do "Mesmo"  e da negação ou destruição do "Outro".  Para ele, a razão, desvinculada da ética e da justiça, seria um dos motivos, por exemplo, para a ascensão de Hitler ao poder.  
                Podemos compreender que o ambiente em que viveu boa parte de sua vida era prometéico. O culto à razão, ao progresso, às doutrinas totalizantes formavam o cerne da modernidade. E, paradoxalmente, por questionar o mito prometéico da razão, ele é condenado como Prometeu. E é em sua experiência em um campo de trabalho forçado, perdendo toda sua identidade e humanidade, que consegue enxergar que seus heróis (Husserl e Heidegger) também reforçavam o "Mesmo", estando também inseridos em um pensamento absoluto e globalizador. E, de alguma forma, o próprio Levinas desperta ou rompe com o seu lado heroico marcado pela tentativa de levar uma outra tonalidade de Luz para a França racionalista, introduzindo o pensamento fenomenológico nascido na Alemanha.
                E mesmo não sendo um pensador "pós-moderno", sua proposta filosófica apresenta uma ruptura com o ideal moderno e prometéico que fundam o iluminismo e sua sombra, as sociedades totalitárias de esquerda e de direita. Para Levinas, a razão foi utilizada para neutralizar o Outro, englobando-o e o reduzindo ao Mesmo. E a ontologia heideggeriana não visaria a paz com o Outro, mas a supressão ou posse do Outro. A ontologia, em sua opinião, desemboca na tirania do estado, daí afirmar que a ontologia, sem a ética, seria a filosofia do poder ou a filosofia da injustiça.
                E a segunda fase do trabalho de Levinas, após sua experiência no campo de trabalho forçado, passa a ser a critica à legitimação do domínio do Outro, tanto na filosofia grega como na alemã. A Ontologia passa a ser considerada a "filosofia segunda" uma vez que, a "filosofia primeira" passa a ser a ética, ou a construção da alteridade e de uma relação de justiça com o Outro que, ao mesmo tempo, é transcendental. Ou seja, para Levinas, a busca da transcendência nos leva, inexoravelmente, ao Outro. A transcendência não é negatividade ou negação do mundo, como se esse fosse uma mera ilusão, mas uma abertura para o mundo e, sobretudo, ao Outro com o qual devo aprender a conviver com respeito, construindo, numa linguagem mais atualizada, uma cultura de paz e cooperação.
                E essa relação alquímica ou hermesiana com o Outro é o objetivo da sua ética, abrindo o nosso horizonte para uma perspectiva de não-violência e de justiça, no qual o ideal moderno iluminista (prometéico) que justifica a violência contra o diferente é substituída por um ideal transcendente e metafísico (hermesiano) de abertura e respeito ao Outro. E essa separação do Mesmo só é produzida sob a forma de uma vida interior (psiquismo). Para Levinas, o psiquismo não reflete o ser, mas é uma maneira de ser que resiste à totalidade, uma vez que, a  interioridade instaura uma ordem diferente do tempo histórico em que a totalidade se constitui. A interioridade é justamente a recusa a transformar-se num puro passivo, que figura nunca contabilidade alheia. E é o psiquismo e não a matéria que traz um principio de individualização, daí a relação direta entre a ética e a metafísica em seu pensamento tipicamente hermesiano.
São Carlos, dia 07 de novembro de 2015 - dia de São Vicente Grossi.