O desejo de legitimar uma crença religiosa ou espiritualista como sendo científica, traz mais consequências negativas do que positivas para o movimento espiritualista como um todo, pois a resistência da comunidade acadêmica aumenta com tantos disparates chamados de "comprovação científica". Tomemos, por exemplo, o ensinamento de Saint Germain, presente em um de seus livros, que afirma ser possível pelo poder da mente ir dormir no corpo de um homem negro africano e acordar no corpo de uma mulher loira e alemã.
No plano das crenças, nada contra. Porém, não há nenhuma evidência científica desse processo, o que não significa dizer que não possa acontecer.
Mas se alguém escrever que a física quântica comprova que isso acontece, precisa demonstrar de fato, dentro das regras científicas.
Da mesma forma, encontramos livros afirmando que é possível controlar com a mente todos os fenômenos naturais, o que implica aceitar que podemos fazer chover ou parar uma chuva, criar eclipse lunar ou solar, parar o degelo dos polos etc. com o poder da mente. Também não há evidência científica desse processo, o que leva a comunidade científica a ignorar afirmações como a de Lauro Trevisan que escreve que a "física quântica comprova que a mente cria a matéria e a transforma."
Porém, desde a década de 1970, há pesquisas no campo da neuroimunomodulação e da psiconeuroimunologia que reconhece, com evidências, há existência de interação entre o sistema nervoso (que na essência é um monte de átomos) e o sistema imune, e reconhecendo que a mente pode enfraquecer ou fortalecer o nosso sistema imunológico, favorecendo ou dificultando, assim, a ação de fungos, vírus, bactérias etc. (que também são, essencialmente, formados por átomos). Porém, nada disso garante que houve uma "cura quântica", pois não há evidências que átomos fiquem doentes. A célula sim pode se deteriorar e morrer, liberando os átomos que a formam.
E da mesma forma que o eletromagnetismo e a psicanálise foram, no passado, usadas para legitimar crenças espiritualistas e religiosas, hoje a bola da vez é a física quântica e amanhã será outra disciplina científica.
E entrando no mérito das reflexões sobre espiritualidade e física quântica, os argumentos ou pressupostos teóricos são facilmente derrubados o que não significa dizer que o status quo não quer que as pessoas conheçam a "verdade", quando tais teorias são ignoradas pela comunidade acadêmica. Por exemplo, Capra (o tao da física) fará essa ponte entre ciência e espiritualidade partindo do pressuposto que o vácuo (vazio) quântico corresponde ao Tao, à Brahman ou a "realidade última" dos budistas. Essa hipótese não é aceita por vários espiritualistas e nem por vários adeptos da psicologia transpessoal que também procuram trilhar essa ponte entre a ciência e a espiritualidade.
Por outro lado, há autores que vão afirmar que o ato de olhar para o elétron faz com que ele deixe de ser onda e se torne partícula, justificando assim, que o ser humano cria a matéria. Essa é a tese central, por exemplo, de Lauro Trevisan e demais autores que afirmam ser possível controlar todo e qualquer fenômeno natural. Porém, o que os físicos realmente afirmam é que o instrumento criado para se medir o comportamento de um elétron interfere no resultado final.
Enfim, esse é um campo que merece ser trilhado, mas com método e paciência, e não apenas no afã de legitimar uma crença espiritualista, seja ela qual for.
São Carlos, 01 de agosto de 2015
No plano das crenças, nada contra. Porém, não há nenhuma evidência científica desse processo, o que não significa dizer que não possa acontecer.
Mas se alguém escrever que a física quântica comprova que isso acontece, precisa demonstrar de fato, dentro das regras científicas.
Da mesma forma, encontramos livros afirmando que é possível controlar com a mente todos os fenômenos naturais, o que implica aceitar que podemos fazer chover ou parar uma chuva, criar eclipse lunar ou solar, parar o degelo dos polos etc. com o poder da mente. Também não há evidência científica desse processo, o que leva a comunidade científica a ignorar afirmações como a de Lauro Trevisan que escreve que a "física quântica comprova que a mente cria a matéria e a transforma."
Porém, desde a década de 1970, há pesquisas no campo da neuroimunomodulação e da psiconeuroimunologia que reconhece, com evidências, há existência de interação entre o sistema nervoso (que na essência é um monte de átomos) e o sistema imune, e reconhecendo que a mente pode enfraquecer ou fortalecer o nosso sistema imunológico, favorecendo ou dificultando, assim, a ação de fungos, vírus, bactérias etc. (que também são, essencialmente, formados por átomos). Porém, nada disso garante que houve uma "cura quântica", pois não há evidências que átomos fiquem doentes. A célula sim pode se deteriorar e morrer, liberando os átomos que a formam.
E da mesma forma que o eletromagnetismo e a psicanálise foram, no passado, usadas para legitimar crenças espiritualistas e religiosas, hoje a bola da vez é a física quântica e amanhã será outra disciplina científica.
E entrando no mérito das reflexões sobre espiritualidade e física quântica, os argumentos ou pressupostos teóricos são facilmente derrubados o que não significa dizer que o status quo não quer que as pessoas conheçam a "verdade", quando tais teorias são ignoradas pela comunidade acadêmica. Por exemplo, Capra (o tao da física) fará essa ponte entre ciência e espiritualidade partindo do pressuposto que o vácuo (vazio) quântico corresponde ao Tao, à Brahman ou a "realidade última" dos budistas. Essa hipótese não é aceita por vários espiritualistas e nem por vários adeptos da psicologia transpessoal que também procuram trilhar essa ponte entre a ciência e a espiritualidade.
Por outro lado, há autores que vão afirmar que o ato de olhar para o elétron faz com que ele deixe de ser onda e se torne partícula, justificando assim, que o ser humano cria a matéria. Essa é a tese central, por exemplo, de Lauro Trevisan e demais autores que afirmam ser possível controlar todo e qualquer fenômeno natural. Porém, o que os físicos realmente afirmam é que o instrumento criado para se medir o comportamento de um elétron interfere no resultado final.
Enfim, esse é um campo que merece ser trilhado, mas com método e paciência, e não apenas no afã de legitimar uma crença espiritualista, seja ela qual for.
São Carlos, 01 de agosto de 2015