domingo, 12 de dezembro de 2010

saúde mental, mediunidade e educação: quando a emergência espiritual ocorre na sala de aula


Recentemente o país acompanhou o caso fictício de Ricardo Aguillar, personagem interpretada por Humberto Martins, na novela “Escrito nas Estrelas”, de Elisabeth Jhin, cujo último capítulo foi ao ar no dia 24 de setembro de 2010.  A novela retratou a "emergência espiritual" da personagem, eclodida com a morte de seu filho Daniel, interpretado pelo jovem ator Jayme Matarazzo.
A "emergência espiritual" se caracteriza por uma crise, normalmente, eclodida após uma vivência emocional profunda. No caso da novela, após a morte do filho, Ricardo Aguillar começou a acessar lembranças de uma suposta vida passada, em uma cidade espanhola. Apesar de fictício, este fato é mais comum do que se imagina. Outras pessoas, quando vivenciam uma "emergência espiritual", começam a ver e ouvir espíritos, saem do corpo (projeção astral), entre outras possíveis experiências. Infelizmente, nem todas que vivenciam esse processo tem a mesma sorte da personagem. Devido ao fato da Universidade ainda não aceitar a dimensão espiritual em suas pesquisas, quem relata tais experiências é, com frequência, diagnosticada como doente mental, como esquizofrênica, e acaba sendo internada em hospitais onde é (mal)tratada com  drogas, choques etc.


Em 2010, entrevistamos um senhor de 70 anos de idade, frequentador da Universidade Aberta da Terceira Idade, na cidade de São Carlos/SP, onde participa do programa de "revitalização de idosos", um programa de atividade física, realizado em parceria com a Universidade Federal de São Carlos. A história de vida desse senhor é bem elucidativa. Ele nos diz o seguinte:

“Desde a minha infância eu vejo espíritos. Por volta dos sete anos de idade, quando eles se aproximavam de mim eu perdia o controle do meu corpo físico. Isso acontecia em casa e também na escola. Eu fui diagnosticado como sendo portador de “ataque epiléptico”. Eu sabia que não era doença, mas não sabia como explicar para a minha família e para os professores. Quando eu completei 9 anos de idade começaram os 'desdobramentos'. Começava um formigamento no topo da cabeça e, sem que eu tivesse controle, eu saía do meu corpo e via tudo o que acontecia ao meu redor. O meu corpo ficava inerte, como se eu fosse vítima de catalepsia, mas estava consciente, vendo e ouvindo tudo o que acontecia. Via meus familiares, via os médicos, via tudo... Eu queria dizer para as pessoas que eu estava bem, mas não conseguia falar ou mexer o corpo. Eu fui rotulado de esquizofrênico, mas tive sorte de não ser internado".

Esse senhor afirma que muitos anos depois, já adulto, é que educou a mediunidade em um centro espírita.  Ele teve que procurar ajuda sozinho, pois não tinha nenhum apoio da família.

Normalmente, quando a família segue uma orientação religiosa que não aceita a mediunidade, maior é a probabilidade de sofrimento da criança, pois, dificilmente, aceitará a orientação para procurar um local que possa ajudá-la a lidar de forma saudável com a situação.

Em todas as culturas, não importa o tempo e o espaço, há o registro de pessoas que afirmam ver e ouvir os espíritos, assim como aquelas que "cedem" o corpo para a manifestação de seres incorpóreos. Até mesmo na Biblia há o registro da manifestação do espírito de Samuel, já morto, para conversar com o rei Saul, através de uma pitoniza. Porém, é importante salientar que o DSM - 4 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação Psiquiátrica Americana) deixou de enquadrar como patológico os chamados casos de "possessão espiritual".

No âmbito científico, a abordagem que mais consegue se aproximar dos problemas religiosos e espirituais é a Psicologia Transpessoal, que acredita na existência de uma pulsão no sapiens para expandir sua consciência, atingindo outros níveis de percepção. Assim, transcendendo as fronteiras do ego, o nível transpessoal seria capaz de abarcar fenômenos como a telepatia, a precognição, as diferentes formas de mediunidade (ou contato com seres incorpóreos)  e até lembranças de supostas vidas passadas, como salientado acima, no início deste artigo.

Reconhecer que a mediunidade é um fenômeno espiritual, registrado em todas as tradições culturais, sem relação necessária com as religiões, é um primeiro passo para ajudar as pessoas que despertam esse potencial psíquico. Ela pode eclodir na vida de uma pessoa em qualquer faixa etária, independentemente de sua classe social, grau de escolaridade e religião.  Obviamente que a mediunidade, quando não é educada e compreendida de forma adequada, pode sim derivar em transtornos mentais e emocionais, e até comportamentais, o que não significa que a pessoa seja esquizofrênica, louca ou “tomada pelo demônio”. Por isso, aceitar o fenômeno, estudar e compreender os seus limites e possibilidades, é impórtante para que a mediunidade seja vivenciada de forma sadia, transformando-se em uma agradável companheira de viagem para aqueles que disponibilizam o seu tempo, amorosamente, no auxílio ao próximo, como acontece, felizmente, com esse senhor que, na infância, teve seus estudos prejudicados pela incompreensão dos trabalhadores da sáude e da educação, e também da própria familia.

Alguns textos que podem ser úteis para quem vivencia experiências similares a deste senhor:

ASSIS, Denise. A influência da espiritualidade na saúde física e mental. III Simpósio Internacional sobre Religiosidades, Diálogos Culturais e Hibridações. UFMS: Campo Grande, 2009.

MARQUES, Adilson. Fragmentos da história oculta de São Carlos e outros assuntos transcendentais. BN Editora: São Carlos, 2007.

_____________. História Oral e Transcendentalismo: imagens e imaginário do invisível. III Colóquio Internacional Imaginário, Educação e Utopia. UFF: Niterói, 2009.

MELO, Alex Leite Melo e MOREIRA, Leila Dittmar. Estados alterados de consciência, percepções extra-sensoriais e mediunidade: percepções que agravam o curso das doenças mentais?. III Simpósio Internacional sobre Religiosidades, Diálogos Culturais e Hibridações. UFMS: Campo Grande, 2009.

2 comentários:

  1. É como imenso prazer que estou cá para agradecer as orientações que as pessoas vêm recebendo através do conhecimento da mediunidade, pois se faz necessário uma ajuda para aqueles que têm um quadro clínico que através de diagnóstico os médicos não detectam nada e o paciente de alguma maneira sofre e não se acha a causa. Provavelmente estaremos diante de um quadro onde a mediunidade se aflorou e apenas tratamentos nesse campo será a solução. Tenho me deparado com pessoas que há muito vem sofrendo e se intoxicando com drogas de farmácia por desconhecerem a filosofia Espírita, a sua ciência e a sua religião e que amorosamente acolhe á todos. A minha gratidão é por que o trabalho a que ai acontece eu vejo que é muito sério e que têm ajudado. Isso me dá um alívio muito grande, pois sei que não estou sozinha nesta caminhada. Parabéns e por caridade continuem dando este suporte para que os hospitais psiquiátricos não tenham que doparem tantos médiuns e de forma desordenada levá-los ao desencarne numa idade tão jovem. Obrigada, e que, Deus os acompanhe com a luz que ele nos envolve e conduza á todos para o caminho certo e da libertação dos transtornos. Fiquem em paz! Abraços fraternos, Regina Machado

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