Um dia especial

Adilson Marques - asamar_sc@hotmail.com

Hoje de manhã, tomando café, me veio a mente algumas cenas de fatos vivenciados nos últimos anos. No ano de 2008, o projeto Homospiritualis organizava o VIII encontro ecumênico de educação e cultura para a paz, evento que aconteceu anualmente, de 2001 a 2010, em São Carlos, e, naquele ano, o tema do evento era o centenário da Umbanda. Por causa daquele evento, fui ameaçado de demissão em uma das escolas que lecionava. Era evidente que o motivo era o preconceito. E o evento, como em todas as edições, nunca foi voltado para o proselitismo, mas para refletir sobre essa religião tipicamente brasileira e que, naquele ano, completava 100 anos. 

E, dois anos depois, em 2010, em um evento chamado Quão negros somos?, realizado no paço municipal, apresentei um painel chamado "entrevistando um preto-velho: história oral, imaginário e cultura imateral afro-brasileira " (link para o painel: http://pt.scribd.com/doc/28529538/entrevistando-um-preto-velho-historia-oral-imaginario-e-cultura-imaterial-afro-brasileira). Neste evento, em um determinado momento, tentei divulgar um outro que aconteceria na semana seguinte sobre "mediunismo afro-brasileiro", e que seria no centro de cultura afro-brasileira, mantido pela prefeitura. Porém, uma das responsáveis pelo primeiro me impediu de divulgar, dizendo que se tratava de um evento religioso e como a prefeitura seria laica, eu não poderia divulgar ali. Eu acatei a decisão e, ao chegar em casa escrevi um artigo chamado "quão laica é a prefeitura de São Carlos?", comentando o caso e demonstrando como vários eventos católicos e evangélicos de cunho eminentemente doutrinários, tinham o apoio da prefeitura. O artigo gerou celeuma e recebi manifestação de apoio e críticas.

E naquele mesmo ano, o projeto Homospirituailis organizou o I Fórum de Educação, Cultura de Paz e Tolerãncia Religiosa e no manifesto retirado ao final do evento, propunha-se que São Carlos necessitava de um conselho municipal da diversidade religiosa e que estava na hora de implementar a lei n.º 9.475 que regulamenta o ensino religioso escolar no sentido de valorizar e respeitar a diversidade religiosa, garantindo, de fato, a laicidade do estado.

Em 2011, procuramos fazer contato com representantes do poder público com o objetivo de levar essas ideas para discussão e não obtivemos retorno algum. Mas, felizmente, em 2012, procuramos o vereador Robertinho Mori (PV) e manifestamos nosso ponto de vista. Ele se interessou pela temática e com sua equipe elaborou um projeto de lei que será levado à câmara municipal propondo a criação do conselho municipal da diversidade religiosa que, entre outros objetivos, além de garantir que a diversidade religiosa seja uma realidade no município, também ajude na implementação do ensino religioso escolar, da forma como a lei prevê, sem proselitismo ou doutrinação, mas garantindo a liberdade de expressão religiosa. O projeto prevê uma participação ampla, garantido inclusive a participação de representantes de religiões ayuasqueiras e até de ateus no conselho. Enfim, mesmo que o projeto não seja aprovado ou que seja modificado pelos demais vereadores, a cidade dá um passo à frente na busca da promoção da tolerância religiosa e respeito àqueles que não professam as religiões dominantes, cujos membros, muitas vezes, perseguem no trabalho, na escola etc. quem não compartilha de sua visão de mundo.

Mais uma vez parabenizo o vereador Robertinho Mori (PV) pela iniciativa e vontade de fazer de São Carlos uma cidade que defende e promove a diversidade religiosa.

São Carlos, 13 de junho de 2012 - dia de Santo Antônio