domingo, 4 de dezembro de 2011

a necessidade de uma visão não-aristotélica para valorizar a sanidade no debate espírita

Adilson Marques - asamar_sc@hotmail.com

Ler livros ou sites espíritas é muito interessante. Imagino que outros leitores não-espíritas devem sentir o mesmo que eu. Como que eles, os espíritas, conseguem se engalfinhar tanto em cima de meras abstrações mentais, ou aquilo que Kant chamava de "narrativas visionárias". Cito abaixo um parágrafo retirado do blog ensino espirita, que se considera um "espiritismo com profundidade":

"André Luiz já publicou em suas obras sobre a presença de animais nas colônias espirituais, como pássaros, peixes, cães e outros animais. Afirmo, porém, que no momento fico com Kardec, até que alguém consiga trazer uma informação que confirme, por A mais B, baseado somente nas obras de Allan Kardec e ninguém mais, que existem animais na espiritualidade, uma informção que seja tão clara quanto essa que o espírito trouxe à Kardec sobre a não existência desses seres na erraticidade".

Para um leigo em espiritismo como eu, fico imaginando como deve ser a cabeça de uma pessoa que pede para um espírito provar que existe animais no mundo espiritual de "forma clara" como um outro suposto espírito que, em tese, disse para Kardec que "lá não há animais". O que será que Kardec tem de tão especial para aceitarmos tudo o que ele escreveu? Só porque um suposto espírito disse (e quem garante que disse?) para ele que "do outro lado" não há animais, isso se torna uma verdade absoluta? E, com base nesta informação, se um outro suposto espírito diz o contrário, isto prova que ele está mentindo? é importante salientar que, no mesmo blog, encontramos a informação que o suposto espírito André Luiz seria um "obsessor" de Chico Xavier. E depois querem que acreditemos que o espiritismo é científico. Que base científica foi usada para tantas paralogias?
Enfim, estamos tão acostumados com o aristotelismo, algo que está tão enraizado em nossas veias, que não conseguimos imaginar que o mundo não é feito de dicotomias. Não estamos acostumados com a pluralidade de idéias. Sempre vamos acreditar que existe a "interpretação falsa e nociva", que deve ser evitada a todo custo e que é sempre a dos outros; e a "interpretação verdadeira e útil", normalmente aquela que aceitamos ou acreditamos como sendo verdadeira e fazemos questão de defendê-la com unhas e dentes, não compreendendo que até ela não passa de um mero etnocentrismo.
Uma pessoa mais pragmática nem vai perder tempo com tais discussões, mas para quem aprecia o sabor das "narrativas visionárias", termo que tomo emprestádo de Kant, é uma leitura agradável, estimula a imaginação, mas desde que não se prenda a essa idéia de querer saber o que é verdade ou mentira em tais narrativas. Elas são úteis para dar vazão aos sonhos, aos devaneios etc. Mas sofrer com as contradições me parece pouco saudável. Nesse aspecto, me parece que Buda era mais sensato, ensinando seus discípulos a viver o "aqui e agora", sem se preocupar com aquilo que não podia ser provado e nem com abstrações que possam tirar a "paz de espírito".

para conhecer o blog comentado acima:
http://ensinoespirita.blogspot.com/

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