sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Espiritualidade e Direitos Humanos

Adilson Marques - asamar_sc@hotmail.com

Um dos assuntos mais polêmicos e paradoxais é refletir sobre o tema espiritualidade e os direitos humanos. Quando começamos a estudar as regras e leis espirituais nos deparamos como uma que parece inexorável: a lei de causa e efeito, traduzida por Paulo de Tarso, em Galatás, como "tudo aquilo que semear, também ceifará". E as doutrinas reencarnacionistas como o budismo falam em carma, afirmando que tudo o que acontece hoje é fruto de uma ação passada, muitas vezes praticada em outra existência. Pela ótica espiritualista, a vítima de hoje não seria tão vítima assim. De certa forma estaria colhendo o que plantou no passado e o algoz de hoje seria aquele aludido por Jesus ao afirmar que "o escândalo é necessário", mas que sofrerá por ser o instrumento do "escândalo", ou seja, alguém precisaria ser o instrumento de uma "ação carmática" que uma outra pessoa necessita vivenciar, mas vai se comprometer com a lei de causa e efeito, apesar de ter sido, simultaneamente, um instrumento necessário.
Porém, o paradoxo desaparece se pensarmos que até as leis que regulamentam os direitos humanos só surgiram no momento certo e que as punições para quem é homofóbico, agride idosos, é intolerante com religiosos de outras agremiações etc. também são frutos da mesma lei de causa e efeito e, assim, vai ser punido por tais leis quem merecer. Se o mundo material é um reflexo do espiritual, as leis espirituais agem em toda e qualquer circunstância, até no surgimento dos chamados direitos humanos. Nesse sentido, se sabemos que um idoso está sendo agredido ou desrespeitado em seu direito e nosso dever como cidadão é denunciar o agressor ao conselho do idoso, podemos fazer isso sem culpa ou remorso, pois se nasceu uma lei humana que defende o idoso foi porque Deus permitiu, ou seja, é o carma em ação. Porém, não precisamos sofrer ou sentir pena da "vítima". Podemos fazer a nossa parte sem rancor, sem ódio no coração e entendendo que o "algoz", aquele que não respeita os direitos humanos, é ainda um espírito em provação e que a "vítima" não é tão inocente, uma vez que cada um só recebe o que necessita e merece, em função do que "plantou" no passado. Assim, mantemos a equanimidade diante de um fato que desrespeita os direitos humanos, mas que faz parte da "justiça divina".
E a evidência da lei de causa e efeito se torna patente em trabalhos mediúnicos como o da Apometria em que, muitas vezes, para se resolver um problema de obsessão é necessário vasculhar as vidas passadas da "vítima" e constatar que de "pobrezinha" a pessoa não tem nada. Muitos já sofreram em suas mãos. Quase sempre nos deparamos com o que alguns chamam de "função espelho", ou seja, o que sofremos hoje é quase sempre o que já fizemos no passado. O outro é um "espelho" para aprendermos alguma coisa. Aquele que me agride está me ajudando a sentir na pele o que o outro sentiu quando eu fui o agressor.  Infelizmente, parece que é assim que aprendemos: ontem agredimos; hoje somos agredidos por outros que serão agredidos amanhã, em um fluxo que parece não terminar, mas fazendo rodar a lei de ação e reação. Mas aquele que consegue compreender este fato, consegue sair desse fluxo negativo colocando amor em seus atos, mesmo que sejam atos voltados para punir ou enérgicos, uma vez que a pessoa espiritualizada é uma pessoa generosa e amorosa, mas não necessariamente que se humilha, se autoanula ou se coloca na posição de serviçal. Servir é uma coisa, ser serviçal é outra bem diferente.
Enfim, é possível "lutar" contra o preconceito, seja em relação a negros, homossexuais, idosos, mulheres, crianças etc., fazendo valer as diferentes declarações universais e leis humanas, mas sempre tendo em mente que, essencialmente, todos são espíritos eternos passando por provas, quase sempre escolhidas voluntariamente antes da encarnação.

São Carlos, 02 de dezembro de 2012

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