domingo, 9 de outubro de 2011

A mediunidade dentro dos laboratórios

Este artigo não é sobre a influência dos espíritos que intuem os pesquisadores em seus laboratórios, mas sobre as pesquisas para provar ou não a mediunidade que alguns cientistas tentam fazer.
Partindo de uma visão positivista, ingênua e muita vezes sem ética nenhuma, tais pesquisadores usam o médium que, infelizmente, aceita se submeter a estes testes, como cobaia. Os cientistas elaboram uma série de artifícios que devem ser advinhados pelos médiuns que, em tese, estariam recebendo a ajuda dos espíritos para advinhar a cor de um cartão guardado em outra sala, o que está escrito em um determinado bilhete etc.
Quem tem um pouco de experiência com a mediunidade, sabe que se trata de um assunto sério e os espíritos, na maioria das vezes, enfatizam que ela deve ser utilizada para ajudar as pessoas, levando um consolo para quem ainda não acredita em vida após a morte, ajudando a aliviar uma dor física e até curando uma enfermidade que os médicos não tinham mais esperança de tratar etc. As reuniões frívolas não contam com a assistência dos chamados "espíritos superiores". E estas pesquisas, realizadas, frequentemente, por pesquisadores céticos, cujo objetivo é negar a possibilidade de intercâmbio com os espíritos, vão concluir que tal intercâmbio não existe. E isso é óbvio. Da mesma forma que um elétron vai se comportar como onda ou como partícula, dependendo de como é observado, a pesquisa sobre a mediunidade também vai comprovar ou não a existência dos espíritos de acordo com a vontade do pesquisador, uma vez que a realidade é apenas aquilo que acreditamos que ela seja. A realidade é a projeção de nossa mente.
E, como já salientamos, poucos são os espíritos que se prestariam em participar de uma pesquisa onde teriam que advinhar uma carta de baralho escondida em uma caixa, em uma outra sala ou algo similar.
Porém, não estou dizendo que o estudo científico da mediunidade deva ser descartado. Ele é possível de ser feito, mas deve levar em consideração as regras próprias do fenômeno mediúnico, e que ainda estamos longe de conhecer na integridade, apesar dos estudos de Kardec, no século XIX, e de tantos outros pesquisadores que tentam decifrar a sua rica fenomenologia.
Assim, da mesma forma que um antropólogo que vai estudar a vida e o cotidiano de um grupo humano desconhecido, o pesquisador da mediunidade precisa respeitar as regras do fenômeno e a primeira forma de entrada no assunto pode ser através da observação participante. Dessa forma, o pesquisador poderá compreender que é o espírito quem decide se vai se manifestar ou não e usa o médium como instrumento. Não cabe a este evocar um determinado espírito, cantar um determinado "ponto" etc., se este não estiver disposto a participar, mesmo que seja de uma pesquisa acadêmica que deseja provar ou não a imortalidade da alma.
Outra coisa que o pesquisador vai compreender com a utilização da observação participante é que se faz necessária uma ambiência própria para o intercâmbio acontecer e que orações, mentalizações e outras práticas são necessárias para que a energia do local seja adequada para acontecer as "incorporações", as psicografias e outras manifestações mediúnicas como são as ajudas aos desencarnados que sofrem ou que perseguem com ódio seus inimigos. Nesse sentido, o estudioso da mediunidade precisa estudá-la no contexto em que ocorre e não em laboratórios acadêmicos, a não ser que o laboratório reproduza, de fato, uma sala para reuniões mediúnicas. Por exemplo, uma pesquisa sobre a "mediunidade de cura" pode ser feita em um laboratório montado para este tipo de atendimento mediúnico. E é possível colocar o paciente que será atendido em outra sala, sem que o médium tenha contato com direto com o paciente. O tratamento dele será realizado a distância.
Na sala onde estará o paciente pode ter alguns pesquisadores coletando informações e dados e também na sala onde o médium vai atuar. Sem saber quem é o paciente, seu nome, idade, sexo etc., os pesquisadores vão poder confrontar a informação que o médico incorpóreo costuma passar para os ajudantes com as informações coletadas junto ao paciente. Nesse caso, é feito um trabalho sério e não de advinhação de cartas e que, ao mesmo tempo, permite que se estude os resultados desse fenômeno mediúnico.
Mas é importante salientar que tais pesquisas acadêmicas tem um lado positivo. Elas não estão impregnadas pelo preconceito kardecista e, portanto, toda e qualquer manifestação mediúnica pode ser estudada. Se para a maioria dos adeptos do espiritismo as únicas reuniões mediúnicas sérias ou "certas" são aquelas em que o grupo de médiuns se reune em torno de uma mesa, coloca as mãos sobre ela e o médium é proibido de se levantar ou andar "incorporado" pelo ambiente, isso é uma opção metodológica ou, como afirmo, uma das possíveis psiconomias, neologismo que utilizo para designar as possíveis formas de organização e realização do intercâmbio com os espíritos.  Mas outras psiconomias que não se pautam no kardecismo são possíveis e podem ser estudadas cientificamente, usando o método da observação participante.
Uma questão de valor pode ser colocada para se pensar o objetivo da reunião mediúnica, mas aí sairíamos do domínio científico para entrar no domínio moral. Por exemplo, certa vez, em um trabalho mediúnico em um centro afro-brasileiro, aconteceu um fato digno de nota. Um médium incorporado na porta de entrada disse para uma pessoa que mentalmente fazia uma "Ave-Maria": "quer parar de fazer essa oração que você está destruindo o meu trabalho". Ou seja, se naquele centro uma oração como a "Ave-Maria", feita mentalmente, era capaz de "destruir" o trabalho daquele suposto espírito, o que ali se realizava não devia ser algo voltado para o "Bem". Provavelmente, se tratava de trabalhos de "magia negra" ou de "quimbanda". Do aspecto científico não há nada contra. Cada um faz o trabalho mediúnico que deseja, mesmo sabendo que tudo o que se planta é também colhido.
Em suma, utilizando a observação participante é possivel iniciar o estudo científico da mediunidade e, após compreender o que é possível e o que não é, sempre a partir de como a fenomenologia mediúnica se organiza, podemos utilizar também a proposta da pesquisa-ação. Mas este recurso metodológico já pressupõe uma aceitação do fenômeno em si. Dificilmente um cético conseguirá usar esse recurso porque o objetivo passa a ser melhorar o resultado do trabalho, dar mais "eficiência" aos atendimentos e não apenas verificar a veracidade do intercâmbio mediunico.
Por exemplo, em 2001, o projeto Homospiritualis iniciou o estudo dos atendimentos aos supostos espíritos que sofrem no Astral, cujo resultado está no primeiro livro publicado em 2003 pelo projeto e que recebeu o nomde de "Educação após a morte: princípios de animagogia com seres incorpóreos".
A partir de 2005, já consciente da realidade do fenômeno, o projeto Homospiritualis passou a buscar formas para tornar mais eficiente este socorro e foi quando recebemos a sugestão de supostos espíritos para estudar a Apometria, técnica criada pelo médico espírita Dr. Lacerda, na cidade de Porto Alegre/RS. Gradativamente, ela foi inserida no socorro aos espíritos e, de fato, em nosso grupo mediúnico, o trabalho se tornou mais eficiente. Porém, antes de adotar esse procedimento, foi montado um grupo mediúnico experimental para testar as técnicas e procedimentos metodológicos sugeridas pelo criador da Apometria e testamos orientações vindas da espiritualidade que assistia e acompanhava a pesquisa-ação (orações, abstinência de consumo de carne, uso de luzes coloridas, cristais etc.).  Em 2006, a Apometria, conforme sistematizada pelo dr. Lacerda, passou a ser utilizada em nosso trabalho socorrista.
Enfim, a mediunidade deve ser estudada e as formas possíveis de intercâmbio com os espíritos estão longe de serem totalmente desvendadas. A cada dia surge algo novo que impressiona, como é o caso do suposto espírito pai Joaquim de Aruanda que há anos usa os recursos da web para fazer "vídeo-conferências" através do médium Firmino José Leite. Muitos kardecistas e umbandistas dizem que isso é "errado", que não pode.  Mas o pesquisador do fenômeno mediúnico, desvinculado de preconceitos doutrinários, não vai dizer que é "certo" ou "errado", ele vai estudar como acontece o fenômeno e o conteúdo das comunicações sem apego ou aversão. Enfim, estudar a mediunidade cientificamente é necessário, mas respeitando as leis já conhecidas que regulam o processo. Enfim, o bom senso se faz aqui necessário, superando o ceticismo de um lado e os preconceitos doutrinários, de outro.
Adilson Marques - asamar_sc@hotmail.com

Um comentário:

  1. Sou uma pessoa que tem interesse pelo assunto, mas tenho dificuldade de acreditar e sei que a minha própria vontade de crer contamina minha avaliação sobre o assunto.

    Se os espíritos se comunicam para confortar os vivos, eles estariam dispostos a convencer quem tem facilidade e quem tem dificuldade de acreditar. Não sei porque um espírito tentaria ajudar um médium a consolar uma mãe e se recusaria a convencer uma outra pessoa qualquer sobre a existência da alma. Então não vejo justificativa para um espírito bem intencionado não participar de uma pesquisa em laboratório.

    Sobre a metodologia de pesquisa: Suponhamos que três quartos dos médiuns avaliados pelos cientistas são charlatões e que 90% dos espíritos que participam destas pesquisas respondem de forma errada somente para tumultuar. Agora imagine que o cientista coloque uma sequencia numérica como a da mega sena em outra sala para o médium adivinhar.
    Desta foram, se o experimento for repetido muitas vezes, a porcentagem esperada (assumindo que existe a mediunidade e os espíritos) de acertos seria aproximadamente igual a 2,5%, mas a porcentagem de acertos neste caso ainda seria muitíssimo maior do que se os números fossem simplesmente chutados (no chute a porcentagem de acertos tenderia a zero, como tende a zero as chances de um grupo de 300 apostas de 6 números ganhar na mega sena). Neste caso, qualquer porcentagem mínima de acertos já seria suficiente para provar que existe mediunidade mesmo sendo a amostra testada extremamente contaminada por charlatões, espíritos bagunceiros e rezas erradas.

    Algum grupo de pesquisadores poderia fazer esse tipo de teste (em laboratório ou não) e esse grupo deveria se composto por religiosos, ateus e indecisos. O que você acha a respeito?

    Abraços

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