sábado, 28 de janeiro de 2012

leia a apresentação do livro As psicosofias de Lao-Tsé, krishna e Buda segundo a espiritologia

No dia 17 de março, o projeto Homospiritualis lançará o último livro da coleção "cultura de paz e mediunidade", encerrando um árduo, mas prazeroso trabalho iniciado em 2003, quando idealizamos o uso da História Oral, uma das mais instigantes ferramentas para pesquisa qualitativa nas ciências humanas para entrevistar prováveis espíritos que se manifestam em reuniões mediunicas. De 2003 a 2008, foram realizadas várias reuniões e, a partir de 2010, as informações coletadas começaram a ser organizadas e publicadas, em 2011, nesta coleção de livro. O último abordará a opinião destes seres sobre os ensinamentos de Lao-Tsé, Krishna e Buda.
Sem falsa modéstia, trata-se de um trabalho original, tanto para o meio acadêmico, não acostumado com a idéia de se abrir para o estudo dos "espíritos", como para o meio espiritista, acostumado com romances e normalmente avesso aos ensinamentos orientalistas e não-cristãos.
O livro será lançado em 2012, ano em que Adilson marques, organizador do livro completa 20 anos de experiência com a História Oral, iniciada na Abaçaí Cultura e Arte, em 1992.

Segue a apresentação do livro

Apresentação

O livro “Evangelho segundo o espiritismo” é considerado um livro religioso pelos adeptos da Doutrina Espírita. Muitos chegam a afirmar que ele é a “bíblia do espiritismo”. Particularmente, não concordo com essa idéia. Em minha opinião, o livro é uma espécie de tratado de “ciências das religiões”, escrito através do método criado por Kardec, no século XIX: a coleta de dados através de entrevistas com prováveis espíritos, realizadas em reuniões mediúnicas organizadas com a finalidade de estudar um tema de interesse da humanidade através do diálogo com estes “seres incorpóreos”.
Por alguma razão, o método proposto por Kardec deixou de ser utilizado em grande parte do movimento espiritista. Hoje predomina o que alguns chamam de “espiritismo sem espíritos”. Pai Joaquim de Aruanda, um preto-velho que se manifesta através do médium Firmino José Leite, chega a dizer que os "espíritos foram expulsos dos centros espíritas".
Porém, o livro acima se tornou, realmente, uma espécie de “Bíblia” para alguns setores do movimento espiritista brasileiro, sobretudo aqueles mais religiosos e que tendem a se fechar para o estudo de outros ensinamentos espiritualistas, com medo de manchar a chamada “pureza doutrinária”. Mas o "Evangelho segundo o espiritismo" nada mais é do que a opinião de alguns espíritos entrevistados por Kardec sobre os evangelhos canônicos. E, além de não termos provas de que foram espíritos que responderam, em nenhum momento, eles afirmam que não podem opinar sobre os evangelhos apócrifos ou, inclusive, sobre os livros sagrados de outras religiões, inclusive, as não-cristãs.
E isso se tornou evidente, para mim, em 2001, quando descobri a comunicação mediúnica. Até aquele momento, não manifestava nenhum interesse pelo estudo do espiritismo. Minha paixão, desde a adolescência, sempre foi os ensinamentos místicos do Oriente e, por isso mesmo, a primeira coisa que fiz quando descobri a possibilidade de conversar com os “mortos” foi dialogar com eles sobre os ensinamentos de Lao-Tsé, Buda, Krishna e outros.
A grande surpresa, nesse processo, foi descobrir que estes prováveis seres incorpóreos admiram e respeitam tais ensinamentos, não os interpretando como “errados”, “mistificações” ou incompatíveis com os ensinamentos cristãos presentes no “Evangelho segundo o espiritismo”. Dentro de uma visão realmente laica, ou seja, de respeito por todas as manifestações religiosas, foi possível constatar que os espíritos são transreligiosos, respeitando todos os movimentos sagrados que ajudam na libertação espiritual do ser humano.
E neste livro, que encerra a coleção Cultura de Paz e Mediunidade, vamos apresentar a opinião dos espíritos que entrevistamos sobre os ensinamentos de Lao-Tsé, Krishna e Buda, reunidos, respectivamente, em livros como Tao Te Ching, Bhagavad Gita e Dharmapada. Futuramente, em outra coleção, pretendemos apresentar a opinião deles sobre os ensinamentos presentes em alguns evangelhos apócrifos, como é o de Tomé e o de Madalena e também sobre o Eclesiastes, um dos mais interessantes livros do Antigo Testamento, e também sobre o Sermão da Montanha, provavelmente, a essência de todo o ensinamento cristão.
Mas é importante ressaltar também o motivo de chamarmos os ensinamentos de todos estes mestres de Psicosofia (expressão que estamos usando desde 2003 para representar uma sabedoria espiritual) e não, como normalmente acontece, de Psicologia ou de Filosofia. Com a expressão Psicosofia queremos realçar a dimensão universal e atemporal destes ensinamentos, ao contrário do que ocorre com as disciplinas acadêmicas acima. Nesse sentido, ao utilizarmos a expressão Psicosofia também enfatizamos o caráter místico (lembrando que misticismo não é superstição) que possuem, e sempre voltado para a “libertação espiritual” do ser humanizado, ou seja, do Espírito preso ao ego.
 Além disso, a expressão Psicosofia serve também para distinguir os ensinamentos destes mestres das religiões criadas por seus discípulos ao longo da história da humanidade. Nenhum deles criou religião, no sentido tradicional deste termo, ou seja, pressupondo a existência de uma doutrina e de um ritual. Os ensinamentos que transmitiram transcendem essa dimensão limitadora das religiões e nos faz lembrar que, frequentemente, a espiritualidade não caminha de mãos dadas com as religiões, apesar delas merecerem todo o nosso respeito, pois são instrumentos ainda necessários nos chamados “mundos de provas e expiações”.
A Psicosofia, portanto, é empírica, construída a partir de experiências místicas e transcendentais, como a meditação e outras práticas espiritualistas, como a mediunidade. Muitas vezes, a Psicosofia destes mestres se mistura, nas religiões criadas por seus discípulos, com superstições e dogmatismos que vão caducando com o tempo, pois são construções sócio-culturais que sofrem a ação de Cronos, distanciando-se da força arquetípica e agregadora presente no ensinamento original.
Assim, a relação entre a Psicosofia e as religiões que se fundamentam nela pode ser compreendida na paradoxal frase de Lao-Tsé: “quando todo o mundo reconhece o bem, enquanto bem, ele se torna o mal”. A religião transforma o ensinamento espiritual, que é para ser vivenciado cotidianamente, em algo a ser atingido, mediatizado por ela através da doutrina e do rito. Contraditoriamente, a virtude valorizada no ensinamento original se torna inacessível, se perdendo no meio das abstrações e opiniões divergentes. A felicidade, o amor, a fé, a paz interior etc. se tornam menos reais na medida em que são tantos os meios criados (doutrinas e rituais) para atingi-los, e cada vez mais rebuscados e complexos, que nos tornamos “alienados”, ou seja, esquecemos que as virtudes já estão dentro de nós, só precisando ser despertadas.
Quando passamos a buscá-las fora de nós, nas doutrinas e nos ritos religiosos, nossos esforços se concentram nos meios e, como afirmou Lao-Tsé, este caminho não conduz a nada. Ou melhor, conduz ao auto-engrandecimento (fortalecimento do Ego) e entra em conflito com o Tao (a fonte real de todo o Bem) e se autodestrói. É por isso que as religiões não são perenes, ao contrário das Psicosofias.
E, em relação à Espiritologia, já apresentamos uma reflexão mais profunda sobre ela no primeiro livro desta coleção. De forma resumida, ela consiste no uso da História Oral para se entrevistar prováveis espíritos, através de reuniões mediúnicas organizadas para essa finalidade. Não temos, obviamente, como afirmar cientificamente se são espíritos e não o próprio inconsciente do médium em transe que se manifesta. Pode até mesmo ser o “demônio”, como afirmam as religiões neo-pentecostais ou a manifestação do "inconsciente coletivo". Mas o fato é que alguém responde e é este “alguém” que estamos chamando, em tese, de “espírito”, coletando seus depoimentos sem a finalidade de fazer proselitismo ou doutrinação.
Durante toda a década da Cultura de Paz (2001-2010) tivemos a Graça de poder estudar com estes “seres incorpóreos” os ensinamentos espirituais de vários mestres. E neste pequeno livro desejamos compartilhar com todos que amam o saber ou o estudo das coisas divinas, sem apego por particularismo ou exclusivismo religioso, as opiniões dos "seres incorpóreos" sobre as Psicosofias destes três mestres orientais, Lao-Tsé, Krishna e Buda.

São Carlos, 01 de janeiro de 2012

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