No dia 17 de março, o projeto Homospiritualis lançará o último livro da coleção
"cultura de paz e mediunidade", encerrando um árduo, mas prazeroso
trabalho iniciado em 2003, quando idealizamos o uso da História Oral, uma das mais instigantes ferramentas para pesquisa qualitativa nas ciências humanas
para entrevistar prováveis espíritos que se manifestam em reuniões
mediunicas. De 2003 a 2008, foram realizadas várias reuniões e, a partir
de 2010, as informações coletadas começaram a ser organizadas e
publicadas, em 2011, nesta coleção de livro. O último abordará a opinião destes
seres sobre os ensinamentos de Lao-Tsé, Krishna e Buda.
Sem falsa
modéstia, trata-se de um trabalho original, tanto para o meio acadêmico,
não acostumado com a idéia de se abrir para o estudo dos "espíritos", como para o meio espiritista, acostumado com romances e normalmente
avesso aos ensinamentos orientalistas e não-cristãos.
O livro será lançado em 2012, ano em que Adilson marques, organizador do livro completa 20 anos de experiência com a História Oral, iniciada na Abaçaí Cultura e Arte, em 1992.
Segue a apresentação do livro
Apresentação
O
livro “Evangelho segundo o espiritismo” é considerado um livro
religioso pelos adeptos da Doutrina Espírita. Muitos chegam a afirmar
que ele é a “bíblia do espiritismo”. Particularmente, não concordo com
essa idéia. Em minha opinião, o livro é uma espécie de tratado de
“ciências das religiões”, escrito através do método criado por Kardec,
no século XIX: a coleta de dados através de entrevistas com prováveis
espíritos, realizadas em reuniões mediúnicas organizadas com a
finalidade de estudar um tema de interesse da humanidade através do
diálogo com estes “seres incorpóreos”.
Por alguma razão, o método
proposto por Kardec deixou de ser utilizado em grande parte do movimento
espiritista. Hoje predomina o que alguns chamam de “espiritismo sem
espíritos”. Pai Joaquim de Aruanda, um preto-velho que se manifesta através do médium Firmino José Leite, chega a dizer que os "espíritos foram expulsos dos centros espíritas".
Porém, o livro acima se tornou, realmente, uma espécie
de “Bíblia” para alguns setores do movimento espiritista brasileiro, sobretudo
aqueles mais religiosos e que tendem a se fechar para o estudo de outros ensinamentos
espiritualistas, com medo de manchar a chamada “pureza doutrinária”. Mas o "Evangelho segundo o espiritismo" nada mais é do que a opinião de alguns espíritos entrevistados
por Kardec sobre os evangelhos canônicos. E, além de não termos provas de que foram espíritos que responderam, em nenhum momento, eles
afirmam que não podem opinar sobre os evangelhos apócrifos ou,
inclusive, sobre os livros sagrados de outras religiões, inclusive, as
não-cristãs.
E isso se tornou evidente, para mim, em 2001, quando
descobri a comunicação mediúnica. Até aquele momento, não manifestava
nenhum interesse pelo estudo do espiritismo. Minha paixão, desde a
adolescência, sempre foi os ensinamentos místicos do Oriente e, por isso
mesmo, a primeira coisa que fiz quando descobri a possibilidade de
conversar com os “mortos” foi dialogar com eles sobre os ensinamentos de
Lao-Tsé, Buda, Krishna e outros.
A grande surpresa, nesse processo,
foi descobrir que estes prováveis seres incorpóreos admiram e respeitam
tais ensinamentos, não os interpretando como “errados”, “mistificações”
ou incompatíveis com os ensinamentos cristãos presentes no “Evangelho
segundo o espiritismo”. Dentro de uma visão realmente laica, ou seja, de
respeito por todas as manifestações religiosas, foi possível constatar
que os espíritos são transreligiosos, respeitando todos os movimentos
sagrados que ajudam na libertação espiritual do ser humano.
E neste
livro, que encerra a coleção Cultura de Paz e Mediunidade, vamos
apresentar a opinião dos espíritos que entrevistamos sobre os
ensinamentos de Lao-Tsé, Krishna e Buda, reunidos, respectivamente, em
livros como Tao Te Ching, Bhagavad Gita e Dharmapada. Futuramente, em
outra coleção, pretendemos apresentar a opinião deles sobre os
ensinamentos presentes em alguns evangelhos apócrifos, como é o de Tomé e
o de Madalena e também sobre o Eclesiastes, um dos mais interessantes
livros do Antigo Testamento, e também sobre o Sermão da Montanha,
provavelmente, a essência de todo o ensinamento cristão.
Mas é
importante ressaltar também o motivo de chamarmos os ensinamentos de
todos estes mestres de Psicosofia (expressão que estamos usando desde
2003 para representar uma sabedoria espiritual) e não, como normalmente
acontece, de Psicologia ou de Filosofia. Com a expressão Psicosofia
queremos realçar a dimensão universal e atemporal destes ensinamentos,
ao contrário do que ocorre com as disciplinas acadêmicas acima. Nesse
sentido, ao utilizarmos a expressão Psicosofia também enfatizamos o
caráter místico (lembrando que misticismo não é superstição) que
possuem, e sempre voltado para a “libertação espiritual” do ser
humanizado, ou seja, do Espírito preso ao ego.
Além disso, a
expressão Psicosofia serve também para distinguir os ensinamentos destes
mestres das religiões criadas por seus discípulos ao longo da história
da humanidade. Nenhum deles criou religião, no sentido tradicional deste
termo, ou seja, pressupondo a existência de uma doutrina e de um
ritual. Os ensinamentos que transmitiram transcendem essa dimensão
limitadora das religiões e nos faz lembrar que, frequentemente, a
espiritualidade não caminha de mãos dadas com as religiões, apesar delas
merecerem todo o nosso respeito, pois são instrumentos ainda
necessários nos chamados “mundos de provas e expiações”.
A
Psicosofia, portanto, é empírica, construída a partir de experiências
místicas e transcendentais, como a meditação e outras práticas
espiritualistas, como a mediunidade. Muitas vezes, a Psicosofia destes mestres se mistura,
nas religiões criadas por seus discípulos, com superstições e
dogmatismos que vão caducando com o tempo, pois são construções
sócio-culturais que sofrem a ação de Cronos, distanciando-se da força
arquetípica e agregadora presente no ensinamento original.
Assim, a
relação entre a Psicosofia e as religiões que se fundamentam nela pode
ser compreendida na paradoxal frase de Lao-Tsé: “quando todo o mundo
reconhece o bem, enquanto bem, ele se torna o mal”. A religião
transforma o ensinamento espiritual, que é para ser vivenciado
cotidianamente, em algo a ser atingido, mediatizado por ela através da
doutrina e do rito. Contraditoriamente, a virtude valorizada no
ensinamento original se torna inacessível, se perdendo no meio das
abstrações e opiniões divergentes. A felicidade, o amor, a fé, a paz
interior etc. se tornam menos reais na medida em que são tantos os meios
criados (doutrinas e rituais) para atingi-los, e cada vez mais
rebuscados e complexos, que nos tornamos “alienados”, ou seja,
esquecemos que as virtudes já estão dentro de nós, só precisando ser
despertadas.
Quando passamos a buscá-las fora de nós, nas doutrinas e
nos ritos religiosos, nossos esforços se concentram nos meios e, como
afirmou Lao-Tsé, este caminho não conduz a nada. Ou melhor, conduz ao
auto-engrandecimento (fortalecimento do Ego) e entra em conflito com o
Tao (a fonte real de todo o Bem) e se autodestrói. É por isso que as
religiões não são perenes, ao contrário das Psicosofias.
E, em
relação à Espiritologia, já apresentamos uma reflexão mais profunda
sobre ela no primeiro livro desta coleção. De forma resumida, ela
consiste no uso da História Oral para se entrevistar prováveis
espíritos, através de reuniões mediúnicas organizadas para essa
finalidade. Não temos, obviamente, como afirmar cientificamente se são
espíritos e não o próprio inconsciente do médium em transe que se
manifesta. Pode até mesmo ser o “demônio”, como afirmam as religiões
neo-pentecostais ou a manifestação do "inconsciente coletivo". Mas o fato é que alguém responde e é este “alguém” que
estamos chamando, em tese, de “espírito”, coletando seus depoimentos
sem a finalidade de fazer proselitismo ou doutrinação.
Durante toda a
década da Cultura de Paz (2001-2010) tivemos a Graça de poder estudar
com estes “seres incorpóreos” os ensinamentos espirituais de vários
mestres. E neste pequeno livro desejamos compartilhar com todos que amam
o saber ou o estudo das coisas divinas, sem apego por particularismo ou
exclusivismo religioso, as opiniões dos "seres incorpóreos" sobre as
Psicosofias destes três mestres orientais, Lao-Tsé, Krishna e Buda.
São Carlos, 01 de janeiro de 2012
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