Adilson Marques - asamar_sc@hotmail.com
Um Estado laico tem
por objetivo a garantia de liberdade religiosa. Mesmo assim, há os que
confundem o termo laico com ateísmo e, em casos extremos, com o
laicismo, um movimento de perseguição às religiões, como aconteceu na
China, durante a implementação do regime comunista, quando inúmeros
templos budistas, por exemplo, foram destruídos.
Em um Estado laico, o
poder público tem o dever de garantir todas as formas de manifestações
religiosas, mas não tem como interferir na sociedade afirmando se há
Deus, espíritos, vida após a morte, reencarnação etc. Estes termos são
do campo teológico, filosófico e religioso. Alguns até pretendem levar
essa discussão para o campo científico, estudando através do método
cartesiano, recheado de estatísticas, fenômenos místicos ou subjetivos como a Experiência de Quase Morte (EQM), a
"projeção astral", a provável comunicação com os mortos etc.
Porém,
sempre que se apresenta uma concepção de Deus, mesmo que seja aquela
adotada pelo espiritismo (Deus é a inteligência suprema e a causa primária
de todas as coisas), estamos diante de uma reflexão religiosa e não
laica. O Estado laico tem o dever de aceitar a organização sócio-religiosa de
quem acreditar nessa concepção de Deus, assim como a organização de quem
defende outra concepção e de quem nem acredita em Deus.
Nesse
sentido, é curioso notar a existência de grupos religiosos que se dizem laicos. No caso dos espíritas, por exemplo, essa suposta laicidade é baseada nas concepções
religiosas de Kardec, ou seja, que parte do pressuposto que existe
Deus, espíritos, reencarnação etc. Assim, é um contra-senso afirmar que
um movimento, cuja base teórica é recheada de termos religiosos, seja ao
mesmo tempo laico, uma vez que este adjetivo tem uma conotação muito
particular: a não-interferência da religião organizada na vida pública
das sociedades contemporâneas. Não há outro sentido para o adjetivo
laico que não esteja relacionado à relação Religião-Estado.
Por outro
lado, é possível pensar o tema espiritualidade para além das religiões,
ou seja, em um âmbito transreligioso. Neste âmbito, é possível estar
além do sectarismo e dos rituais, algo muito comum nos movimentos
religiosos, mas nada disso diz respeito a laicidade do Estado.
Alías
o espiritismo pode e deve se valer do Estado laico para se defender,
por exemplo, dos constantes ataques de membros dos grupos neo-pentecostais, pois entre os dois movimentos não há
acordo, apesar de ambos acreditarem em intervenções do plano invisível
sobre o visível. Porém, enquanto os espíritas acreditam que elas são
realizadas por espíritos de "pessoas mortas", os neo-pentecostais afirmam que são manifestações do
"demônio". Mas, se a discussão terminasse aqui, não haveria problema.
Infelizmente, o movimento neo-pentecostal é "etnocidário" e defende o
combate ao "demônio", gerando, com muita frequência, hostilidade aos espíritas e
aos demais grupos religiosos que, em tese, conversam "com demônios", como é o caso dos umbandistas. E
essa hostlidade é praticada de diferentes formas, chegando, em muitos
casos, à agressão física.
Enfim, qualquer que seja o grupo espiritualista, a partir do momento que ele tem como pressuposto a existência de Deus, e, no caso do espiritismo, uma concepção
monoteista de Deus, já negligenciou os ateus, os agnósticos e os
politeístas, por exemplo. Assim, não existe "espiritismo
laico" ou qualquer forma de espiritulismo que seja laico. Existe sim, formas sadia de espiritualismo transreligioso, algo que é salutar
e necessário para arejar o religiosismo que dominou o movimento
espírita, sobretudo no Brasil, e outros movimentos espiritualistas, mas estes nada tem de laico, pelo menos não no
sentido iluminista em que o termo se popularizou e até hoje é utilizado. O Estado tem que ser laico, para ser democrático. Mas, todo e qualquer agrupamento espiritualista pode, e é saudável se for, transreligioso.
São Carlos, 06 de janeiro de 2012
Acho que vc está um pouco equivocado a respeito do espiritismo. O movimento espirita, não é laico, nunca foi. É uma religião com embasamento cientifico e filosófico. Quanto a laicidade do estado, os espiritas são a favor e não estão interessados em fazer prosélitos. Ser laico é diferente de ser espirita.
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